Entrega do Prémio de Romance e Novela da APE

Tróia
31 de Julho de 2004


Aqui estamos de novo, em Tróia, para entregar, uma vez mais, o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, cumprindo aquilo que já chamei de ritual de verão. Este ano a escritora distinguida pertence a uma geração literária mais jovem do que tem sido costume. E isso mesmo merece ser saudado pelo que representa de renovação e de passagem de testemunho nesta aventura que se realiza desde que o homem é homem, que é criar mundos de palavras, muitos dos quais perduram mais do que os mundos em que viveram aqueles que os criaram. Além do mais, premiamos uma escritora, enriquecendo-se assim a série de mulheres escritoras que se vêm notabilizando nos últimos anos, algumas das quais já receberam este Prémio. Sabendo-se embora que a arte visa o universal, o aparecimento de tão boas escritoras não deixa de ser sintomático da transformação da nossa sociedade.

Já alguém disse que se escreve e se lê porque o mundo não nos é suficiente. E um grande escritor português, Vitorino Nemésio, definiu um dia o escritor como um homem ou uma mulher dotado do dom de representação verbal da vida como risco e como destino. Creio que esta definição se aplica muito bem a Mafalda Ivo Cruz, à sua escrita bela e intensa que o livro premiado, Vermelho, tão bem mostra.

Quero felicitá-la muito calorosamente, por este Prémio tão importante que assinala um percurso ficcional marcado pela solidez e pela qualidade, desde o primeiro livro. Desejo ainda cumprimentar afectuosamente a família da Mafalda, à qual me ligam velhos laços de estima.


Caros Amigos,

Participei esta semana na Cimeira dos Países de Língua Portuguesa, que se realizou em S. Tomé e Princípe. Quero de alguma maneira estabelecer um nexo entre essa reunião e este acontecimento que aqui hoje nos congrega. O nexo é o da valorização da língua portuguesa que devemos considerar uma prioridade não apenas retórica, mas efectiva. Quero dizer: com meios e ambição.

Saúdo a Associação Portuguesa de Escritores pelo seu papel na defesa dos escritores. Saúdo especialmente o meu querido amigo, José Manuel Mendes, pela sua persistência em prol das causas da cultura, entendida no seu sentido mais actual. Quero dirigir também uma palavra de reconhecimento às entidades que apoiam, aolhem e tornam possível este Prémio.

Desejo a Mafalda Ivo Cruz que nos continue a dar livros tão belos como este. Essa será sempre uma boa razão para lhe reiterarmos a gratidão que agora aqui lhe testemunhamos, com muita alegria, felizes pela justiça deste Prémio.