Banquete de honra do Presidente da República de Moçambique, Joaquim Chissano

Palácio Nacional da Ajuda
14 de Outubro de 2004


Senhor Presidente de Moçambique e meu caro amigo,
Excelências,
Minhas Senhoras e meus Senhores,

É com grande honra e renovado prazer e alegria que acolhemos, uma vez mais, Vossa Excelência em Portugal.

É também com sentida emoção que, nesta ocasião, lhe dirijo estas curtas palavras que são simultaneamente de acolhimento e de despedida.

Nesta última visita de Vossa Excelência a Portugal, na qualidade de Chefe de Estado de Moçambique, gostaria de aqui sublinhar que os portugueses têm bem presente a amizade sempre manifestada por Vossa Excelência para com Portugal.

E sentem-se honrados pela circunstância dessa amizade ser protagonizada por quem de forma sagaz e com grande visão contribuiu decisivamente, por um lado, para consolidar, por vezes em condições muito difíceis, os caminhos da paz, da reconciliação nacional, da democracia e do progresso em Moçambique e, por outro lado, para um permanente e contínuo reforço dos laços que unem os nossos dois Países e Povos. Por isso, Senhor Presidente e meu caro amigo, estamos-lhe gratos.

Senhor Presidente, meu caro Joaquim Chissano,

Mais do que pertencer à mesma geração, temos exactamente a mesma idade e fomos contemporâneos na Universidade de Lisboa, em 1960 e 1961, período particularmente interessante e animado, como é bem sabido, nos meios universitários e estudantis. Recordo-me bem dessa passagem de Vossa Excelência por Portugal, ainda jovem estudante, mas já com uma forte consciência política, membro da “Casa dos Estudantes do Império”, autêntico viveiro de dirigentes dos movimentos de libertação, tendo por lá passado muitos dos futuros líderes e dirigentes dos países africanos de língua portuguesa.

O seu percurso pessoal foi, com efeito e desde sempre, pautado pela capacidade de persuasão, por uma invejável habilidade e por uma grande determinação, qualidades essenciais num verdadeiro líder político e que lhe permitiram, terminada a luta armada, desempenhar funções políticas da maior responsabilidade no seu país, quase ininterruptamente ao longo dos últimos 30 anos. Com efeito, foi Primeiro-Ministro do Governo de Transição, Ministro dos Negócios Estrangeiros durante 11 anos, assumindo o cargo de Presidente da República em 1986.

Nesse cargo começou por impulsionar, no final dos anos 80, as reformas políticas que viriam a preparar Moçambique para a transição para um sistema democrático e multipartidário, consagrado na Constituição de 1990. Negociou e assinou em 1992, em Roma, com o líder da Renamo o Acordo Geral de Paz, que permitiu estabilizar política e economicamente o país.

Promoveu a reconciliação nacional e conduziu o país a eleições democráticas. Concorreu e venceu, por duas vezes, eleições presidenciais - em 1994 e 1999 - cumprindo dois mandatos como Presidente democraticamente eleito. Em 2001, dois anos após ter sido reeleito, deu mais um exemplo da sua estatura política ao anunciar que não se recandidataria nas eleições que este ano se realizam.

Durante este período de 18 anos, Moçambique tornou-se, de facto, um caso exemplar para África e para o Mundo. Mesmo em planos - sempre difíceis e complexos - como a convivência e o diálogo entre religiões ou a capacidade para reconhecer e combater o problema da SIDA, o seu país tem demonstrado ser um caso especial de abertura, tolerância e maturidade, que a comunidade internacional muito valoriza, o que permitiu também a Vossa Excelência alcançar um enorme prestígio internacional, que culminou no recente exercício do cargo de Presidente da União Africana.

Estou, por isso, certo de que terminado o seu mandato presidencial, Vossa Excelência não deixará de continuar a sua acção política e, sobretudo, cívica pondo a sua vasta experiência ao serviço de Moçambique, do continente africano e, seguramente também, das relações entre o seu país com Portugal.

Senhor Presidente,

No ano em que se cumpre o 30º aniversário do 25 de Abril, julgo que podemos fazer, sem hesitações, um balanço muito positivo do longo caminho que, lado a lado, Portugal e Moçambique percorreram nestas três décadas. Soubemos construir um novo capítulo nas nossas relações, enquanto Estados soberanos, e hoje estamos juntos porque livremente reconhecemos a importância dessa união e porque nela depositamos o melhor do nosso empenhamento político e a relação afectiva dos nossos povos.

As relações entre os nossos dois países expandiram-se, aprofundaram-se e dinamizaram-se a todos os níveis e em todas as dimensões - política, económica social e cultural. Com efeito, Portugal é hoje um dos principais investidores estrangeiros em Moçambique, bem como um dos seus principais parceiros em matéria de comércio e cooperação.

Hoje estamos também juntos, enquanto membros de uma Comunidade onde oitos Estados, unidos por estreitas relações, partilham as responsabilidade e as oportunidades abertas pelo indelével traço da união que é a língua portuguesa.

Esta visita é assim uma ocasião para celebrarmos e aprofundarmos os laços de amizade, de afecto e de cumplicidade existente entre os nossos dois Países e por isso é também portadora de uma mensagem de continuidade e de projecção no futuro. Constitui, para portugueses e moçambicanos, um incentivo a que sejamos ambiciosos e não nos contentemos com o que está feito e conseguido e a que procuremos sempre aprofundar e renovar os nossos laços de cooperação.

É com este repto que queria terminar, convicto que só assim atingiremos uma relação estável e continuada. E quero que Moçambique saiba que Portugal estará presente, amigo e solidário, sempre que necessário.

Senhor Presidente,

Nesta hora de despedida, é já com saudade que peço a todos que me acompanhem num brinde pela amizade entre Portugal e Moçambique, pela prosperidade dos nossos dois países e, muito particularmente, ao sucesso futuro, à felicidade e ao bem-estar pessoal do Presidente Joaquim Chissano, um amigo de Portugal.