Brinde por ocasião do Banquete de Estado oferecido em sua honra por Sua Alteza real o Grão-Duque do Luxemburgo

Luxemburgo
28 de Setembro de 2004


Desejo antes de mais, em nome de minha Mulher, de todos quantos me acompanham e no meu próprio, agradecer a hospitalidade e o acolhimento cordial e amigo que Vossas Altezas Reais e as restantes autoridades luxemburguesas nos têm dispensado desde a nossa chegada ao Luxemburgo.

Foi com profundo agrado que aceitei o amável convite que Vossa Alteza me dirigiu para efectuar esta Visita de Estado ao Luxemburgo. Vejo-o como uma distinção concedida a Portugal, que muito nos honra. Constitui ainda uma prova tangível das excelentes relações de cooperação e amizade que sempre existiram entre os nossos dois povos. Mas traduz igualmente um gesto de inegável simbolismo para com a importante comunidade portuguesa residente no Luxemburgo, conferindo a esta visita um significado especial.

Sensibilizam-me muito as palavras atenciosas que Vossa Alteza acaba de me dirigir. Nelas reconheço a marca da estima particular de Vossas Altezas por Portugal e pelos portugueses, alicerçada em laços familiares que se perdem na memória do tempo. Interpreto-as outrossim como uma inequívoca manifestação da vontade, que partilho plenamente, de aprofundar ainda mais as sólidas relações de amizade e cooperação existentes entre os nossos dois países.

Esta amizade e esta cooperação estreita entre Portugal e o Luxemburgo, a que me referia, beneficiam de circunstâncias notoriamente favoráveis. Por um lado, contam com a comunidade portuguesa residente no Luxemburgo, que constitui um traço de união e um vector de proximidade entre os dois povos. A este respeito, permita-me, Vossa Alteza, que preste uma sincera e dupla homenagem: aos meus compatriotas que aqui residem e trabalham, mas também aos seus anfitriões por terem sabido dar um exemplo de relacionamento de certo modo precursor da Europa dos cidadãos. Por outro lado, as relações entre os dois países encontram no projecto europeu - que ambos acarinhamos - perspectivas inéditas de aprofundamento e novas convergências de interesses e objectivos.

Há pois que saber aproveitar esta feliz particularidade para renovar o nosso relacionamento e adaptá-lo não só aos desafios com que se confrontam as sociedade modernas como às dinâmicas da nova Europa alargada.

Alteza

Sabemos o quanto o projecto europeu deve ao Luxemburgo, ao seu apego à unidade da Europa, ao seu inestimável e permanente contributo para o avanço da integração europeia. Mas esquecemos por vezes o papel seminal do Luxemburgo na génese deste projecto na pessoa de um dos seus fundadores, Robert Schuman.

Gostaria de aproveitar esta ocasião para, no país que o viu nascer, em que passou a sua infância e juventude e que o formou, prestar público tributo ao grande Europeu que Robert Schuman foi e permanece enquanto figura tutelar da construção europeia.

Se, na Europa, atravessamos o período de paz mais longo da história, se vivemos hoje num espaço comum de prosperidade, se a Europa é um continente praticamente unificado, se partilhamos os mesmos valores da Democracia, do Estado de Direito, da Liberdade, da Justiça e dos Direitos Humanos, devêmo-lo, também, à extraordinária visão que Robert Schuman tinha da Europa unificada e à sua acção política, tenaz e rigorosa, em prol da defesa do projecto europeu.

Desde então, como sabemos, nunca mais o Luxemburgo deixaria de desempenhar um papel de primeiro plano na construção europeia graças à acção e ao empenho de eminentes europeístas como Joseph Bech, Albert Borschette, Gaston Thorn, Pierre Werner, Jacques Santer e Jean-Claude Juncker.

Alteza

Ninguém ignora que a Europa, apesar dos notáveis sucessos que tem acumulado – basta lembrar o recente alargamento a mais dez países e a adopção, ao cabo de anos de sucessivas e sempre incompletas reformas, de um Tratado Constitucional -, se encontra num ponto de viragem da sua história, hesitando quanto ao caminho a seguir. Alargou o seu território, mas coloca-se a questão das fronteiras da Europa, dos seus limites últimos. Dispomos de um pacto europeu renovado, mas não estou certo de que os cidadãos nos acompanhem. O Tratado Constitucional propõe-nos uma visão para a Europa, para o nosso futuro, mas importa reunir uma mais convicta determinação e vontade política pois vacilamos demasiadas vezes quanto ao modelo a seguir.

Neste momento de charneira, defrontamos com um desafio que não deve ser subestimado. Os riscos de crise existem e com ela a possibilidade de diluição do projecto europeu, o que representará, de qualquer forma, um retrocesso.

Pela minha parte, acredito que só uma Europa forte, unida e solidária, capaz de continuar a desenvolver um modelo de sociedade próprio, mais integrada economicamente e mais coesa do ponto de vista político, poderá pesar na cena internacional e mudar o futuro.
Por isso, entendo ser o dever de todos os europeístas, cidadãos convictos da Europa– e é o apelo que aqui gostaria de deixar – cerrar fileiras e fazer causa comum pela casa europeia, a casa de nós todos, a nossa Europa.

Isto significa, antes de mais, empenharmo-nos colectiva e pessoalmente no processo de ratificação do Tratado Constitucional. Significa, depois, empenharmo-nos em cumprir os objectivos e as metas fixadas na Estratégia de Lisboa por forma a assegurar o crescimento sustentado da economia europeia. Significa, por último, empenharmo-nos na preservação da coesão económica, social e territorial da Europa. Se conseguirmos trabalhar em conjunto nestas três frentes, saberemos ganhar o futuro.

Sei que podemos contar com os nossos amigos luxemburgueses, por tradição, convicção e empenho. E no que toca a Portugal, podem contar connosco!

É pois uma mensagem de amizade, de solidariedade e de confiança no futuro que lhes quero transmitir. Peço assim a todos os presentes que me acompanhem num brinde pela saúde de Suas Altezas Reais, o Grão-Duque Henri e a Grã-Duquesa Marie Thérèse, e de toda a Família Real, e ainda pela amizade entre luxemburgueses e portugueses.