Câmara Municipal de Roma

Palácio de Campidoglio (Câmara Municipal de Roma), Roma
09 de Novembro de 2004


Senhor Presidente
Minhas Senhoras e meus Senhores

É uma grande emoção ser recebido por Vossa Excelência nesta cidade, fonte da nossa civilização, que nos fascina pela sua história, nos encanta pela sua beleza e nos contagia com a sua alegria e incomparável arte de viver. Todos nós, que aprendemos a história de Roma não podemos ficar insensíveis perante a força evocadora do vizinho Forum Romano, memória de grandezas antigas; ou perante a traça arquitectural desta praça projectada por Miguel Angelo, a ensinar-nos visão e rigor.

Aqui, do alto do Monte Capitolino que, desde tempos imemoriais, está no centro da vida de Roma, olhamos a cidade e sentimos a presença da sua cultura, que trouxe ao mundo um legado incomparável de valores universais, nos planos espiritual, artístico, político e jurídico. Esses valores permanecem vivos e continuam a fazer o seu caminho, formando consciências e apurando sensibilidades nos tempos conturbados em que vivemos.

O génio humano atingiu nesta cidade cumes de originalidade e perfeição, bem patentes no notável património cultural que, a cada passo, encontramos nas suas ruas e praças, nos seus palácios e igrejas.

A Roma antiga da República e do Império, a Roma capital da igreja católica, a Roma da Renascença, a Roma moderna capital da Itália unificada deixaram todas elas, cada uma à sua maneira e no seu tempo, marcas perenes para o progresso da humanidade.

A sabedoria popular portuguesa exprime com felicidade, e desde tempos remotos essa realidade histórica, sentida por muitos povos, ao dizer que “todos os caminhos vão dar a Roma”. Com efeito, as vias traçadas a partir desta capital, que uniram num só mundo o Mediterrâneo e alcançaram o Atlântico, representaram o caminho do futuro. As ideias e as práticas que as percorreram formaram as bases da civilização europeia, dando-lhe uma matriz comum que nós, portugueses, contribuímos mais tarde para levar aos quatro cantos do mundo.

É por isso inteiramente apropriado que o mais ambicioso e arrojado projecto político dos nossos dias, herdeiro do espírito cosmopolita da Roma antiga, tenho tomado corpo neste preciso lugar: refiro-me naturalmente ao processo de construção europeia, iniciado com os Tratados de Roma e agora renovado com um novo Tratado Constitucional, também aqui assinado há alguns dias, que actualiza e consolida esse projecto na perspectiva do século XXI.

Foram tão íntimas e tão prolongadas as relações entre Portugal e esta cidade que não cabe no espaço deste breve discurso evocá-las. Basta dizer que, para os portugueses, Roma sempre foi um íman, que os atraiu e cujo magnetismo penetrou no mais fundo e no mais íntimo da nossa cultura. Por isso, nós que vimos de Lisboa, sentimo-nos aqui em casa e, de alguma maneira, reconhecemos também como nosso aquilo que é vosso.

A minha presença aqui tem pois o duplo sentido de um reencontro e de uma homenagem. Um reencontro com aqueles que estimamos e admiramos; uma homenagem a Roma e aos romanos - à sua cultura tão vital, que aprendemos a amar, desde as grandes obras clássicas aos filmes de Fellini. Para todos nós, este é um grande momento feito de fascínio, memória, evocação e confiança no futuro. Na Cidade Eterna, aprendemos que a sucessão das gerações passa o testemunho dos grandes sonhos humanos que não cessam de se renovar enquanto o homem for homem.

Muito obrigado pela vossa atenção.