Banquete oferecido pelo Presidente da República de Itália, Carlo Ciampi-Roma

Palácio do Quirinale, Roma
09 de Novembro de 2004


Senhor Presidente da República
Senhora de Carlo Ciampi
Excelências
Minhas Senhoras e meus Senhores

Sinto-me honrado e feliz por ser recebido por Vossa Excelência nesta visita de Estado a Itália. As qualidades pessoais de Vossa Excelência, a sua vasta experiência ao serviço da Itália e da causa europeia, e a isenção e equilíbrio com que tem sabido desempenhar o seu alto cargo granjearam-lhe o respeito e a admiração dos seus compatriotas. A partir da visita que o Senhor Presidente realizou a Portugal em Dezembro de 2001, criaram-se entre nós, penso poder afirmá-lo, laços pessoais de estima reciproca. Não posso por isso ficar insensível à hospitalidade com que me recebe e às atenções que quis ter para comigo e para com a minha mulher.

Para além do prazer que tenho em estar com Vossa Excelência, e em percorrer de novo o vosso magnífico país, cuja contribuição sem par para a civilização europeia é de todos conhecida, reputo esta ocasião de muito importante para o fortalecimento das relações de profunda amizade existentes entre a Itália e Portugal. Entre nós passa uma corrente espontânea de simpatia, o contacto é fácil, e são múltiplas as afinidades resultantes da nossa comum herança latina.

Compete-nos traduzir essa proximidade natural entre os dois povos num relacionamento ainda mais profícuo e intenso entre os dois Estados. A base de que partimos é sólida. Com efeito, seja no plano político, económico ou cultural, o nosso relacionamento tem já grande riqueza e densidade.

Mas há que fazer mais. No campo económico, devemos procurar alargar a dimensão das nossas trocas, sob o signo da inovação, das parcerias e do investimento recíproco. Penso que a COTEC portuguesa e italiana têm aqui um papel relevante a desempenhar e felicito-me por isso do encontro que vão realizar no decorrer desta visita.

No plano cultural, conhecemos e apreciamos a crescente atenção que os italianos dedicam a Portugal, no cinema, na literatura, nas artes plásticas, interesse esse aliás bem manifesto na expansão nas vossas universidades do ensino do português, língua universal, falada por 200 milhões de pessoas na Europa, na Ásia, na África e na América Latina. Espero que esta visita contribua para fomentar esse interesse, designadamente através da exposição sobre a moderna arquitectura e design de Portugal que irei inaugurar na Trienale de Milão. A nova idade do conhecimento implicará também uma cooperação mais activa a nível universitário e científico.

Como membros da União Europeia, participamos numa comunidade de destino que une de forma cada vez mais estreita o futuro dos nossos dois países. Devemos trabalhar em conjunto para fortalecer a coesão política, económica e social dessa comunidade e afirmar no mundo os seus valores de paz, de democracia, de respeito pelos direitos humanos, de cooperação e de solidariedade, que constituem património comum de toda a humanidade.

Há três anos, quando recebi Vossa Excelência em Lisboa, apontei duas prioridades para a União Europeia: concluir o alargamento e dotar-se de uma Constituição. O primeiro objectivo está cumprido. Para realizar o segundo, falta agora que os povos europeus, directamente ou através dos seus representantes eleitos, sufraguem o texto do Tratado Constitucional há dias assinado nesta capital.

Aqueles que acreditam na Europa devem-se empenhar a fundo no processo de ratificação deste Tratado, que representa para a União Europeia um passo em frente. O novo Tratado condensa o essencial do acervo comunitário, tendo o mérito de o tornar mais claro e mobilizador para todos os europeus. Trata-se de uma contribuição fundamental para aproximar a Europa dos cidadãos.

O Tratado clarifica as regras mas também as simplifica. As competências respectivamente dos Estados e da União são enumeradas e mais bem definidas. Os actos normativos da União são tipificados e reduzidos. Os domínios de aplicação da maioria qualificada são alargados. Também neste plano representa um progresso.

Finalmente o Tratado introduz importantes inovações, no domínio dos direitos económicos e sociais, no plano institucional e no âmbito da política externa e da defesa comuns que são factores de aprofundamento do processo de integração europeia e tornarão a União Europeia mais capaz de enfrentar os desafios com que está confrontada.

Cada vez mais a União Europeia exerce a sua atracção sobre os países limítrofes. Através da Nova Política de Vizinhança, a União dispõe dos instrumentos para construir com esses países parcerias mais aprofundadas, indispensáveis para alargar o espaço de paz e de prosperidade que soube construir no nosso Continente. Temos um comum interesse em reforçar a nossa ligação secular com os países da margem sul do Mediterrâneo, de modo a gizar estratégias comuns não apenas no domínio económico, mas também em áreas fundamentais como a luta contra o terrorismo e a imigração.

A União Europeia afirma-se também, cada vez mais, como uma entidade com interesses globais. Para a Comunidade Internacional vencer os complexos desafios com que está confrontada, é indispensável um bom entendimento e uma cooperação activa entre a Europa e os Estados Unidos, bem como a revitalização do papel da ONU. Nos próximos anos, devemos empenhar-nos sem reservas para que tal seja possível.


Senhor Presidente
Minhas Senhoras e meus Senhores

A Itália e Portugal deram, cada qual à sua maneira, contribuições de grande importância para a história. Como portugueses, sentimo-nos tributários dos caminhos abertos pela Roma antiga, do esplendor do Renascimento, dos ideais do Humanismo, do requinte da arte, da música e da literatura italianas, do impulso dado por grandes compatriotas vossos para a causa europeia. Portugal, por sua vez, levou aos confins da terra os valores universalistas que partilhamos, abrindo o caminho para a globalização.

Tal como sentimos pela Itália uma grande curiosidade e interesse, queremos despertar em vós o desejo de conhecer melhor o Portugal moderno. O Portugal herdeiro de uma história de que se orgulha, mas consciente de que o passado só não é um peso se for o ponto de aplicação de um impulso decidido para o futuro.

Desde a revolução do 25 de Abril que reencontrámos esse impulso e essa consciência. O Portugal que represento é um país de abertura e inovação que quer estar presente nos campos em que se joga o futuro, da cultura e da economia, da ciência e da tecnologia, do urbanismo e do ambiente. É este Portugal que considera a Itália um parceiro essencial, com o qual quer estreitar laços e aprofundar a cooperação.

Agradeço-lhe pois, Senhor Presidente e caro amigo, o convite para realizar esta visita e permita-me que levante o meu copo num brinde à saúde de Vossa Excelência e da Senhora Ciampi, à prosperidade da grande nação italiana e ao reforço da sólida e confiante amizade secular existente entre os nossos dois países e povos.