Banquete em honra do Presidente Federal da República da Áustria, Heinz Fischer

Palácio Nacional da Ajuda
03 de Novembro de 2004


Senhor Presidente da República da Áustria
Excelentíssima Senhora de Heinz Fischer
Excelências
Minhas Senhoras e meus Senhores

É para mim uma honra e motivo de grato prazer acolher Vossa Excelência, Sua Excelentíssima Mulher e a ilustre comitiva que o acompanha. Em nome dos Portugueses e no meu próprio, quero, apresentar-lhe, Senhor Presidente, calorosas saudações de boas-vindas e formular votos de uma agradável e profícua estada entre nós.

Ao saudá-lo, Senhor Presidente, quero também prestar homenagem ao político de talento, ao académico prestigiado e ao Amigo ilustre que Vossa Excelência tem sido.

Neste momento, não posso deixar de evocar, na saudosa memória do Presidente Klestil, a visita de Estado que efectuei à Áustria em 2002 de que guardo as mais vivas recordações.

Senhor Presidente

Apesar de apartados no espaço, a história criou entre os nossos dois países uma íntima proximidade tecida por laços seculares. Graças a uma política de alianças entre as principais cortes europeias, a coroa portuguesa e a austríaca uniram várias vezes o seu destino. Aconteceu, por exemplo, com o casamento de D. João V com D. Maria Ana, irmã do imperador Carlos. Sucedeu com a união de D. Pedro, filho de D. João VI e futuro Imperador do Brasil, com a arquiduquesa Maria Leopoldina. Tornou a repetir-se com D. Miguel, que se refugiou em Viena, no auge das lutas liberais em Portugal.

Mas foi também no seu país, Senhor Presidente, que a modernidade nasceu, marcando decisivamente a evolução política da Europa, a sua história cultural e devir da humanidade.

Como não evocar, a este respeito, por um lado, o Congresso de Viena, do qual resultou um novo equilíbrio europeu e a paz entre as grandes potências. Por outro, o chamado fim de século, em que Viena se tornou o centro da cultura europeia e de todas as rupturas intelectuais, fazendo avançar as ciências e as artes, abrindo novos caminhos à criação, ao saber e ao conhecimento. Como não mencionar a Arte Nova, os pintores da Secessão, os escritores da revolta e da contestação, a música atonal e dodecafónica, as descobertas da termodinâmica, a invenção da psicanálise e as teorias e concepções dos originais pensadores que compunham o Círculo de Viena ?

Senhor Presidente

Hoje, Portugal e a Áustria são ambos partes no projecto europeu. Somos parceiros leais e cooperativos, temos desenvolvido relações sempre mais intensas de concertação e de respeito mútuo. Temos conseguido resolver, com maturidade, os problemas e as dificuldades que têm surgido. Sabemos, porque a experiência assim nos ensinou, que a União faz a força.

Hoje detemos um capital mútuo de confiança que devemos saber frutificar a nível bilateral, no seio da União Europeia e das instâncias internacionais a que pertencemos.

Talvez nenhum país melhor do que o seu represente a chamada Mittel-Europa, no centro geométrico das encruzilhadas da história contemporânea. Portugal, pela sua parte, tem-se afirmado com o seu perfil atlântico e a sua tradição universalista. Parece-me assim que a complementaridade entre os nossos dois países é quase perfeita. Há pois que saber beneficiar desta situação, potenciando as sinergias e multiplicando os projectos de cooperação e as parcerias.

No nosso complexo e conturbado mundo, muitos são os desafios com que nos confrontamos.

Desde já, no seio da União Europeia, temos que vencer o repto da Europa alargada por forma a que os problemas, naturais, que surgem não se sobreponham à formidável oportunidade histórica que vivemos.

Somos agora Vinte Cinco a afrontar os desafios, mas temos de transformar o nosso impressionante peso numérico em força equivalente de solidariedade, de coesão, de confiança e de unidade. Pela frente, temos uma exigente agenda europeia de que consta um vasto e conhecido leque de pontos tão diversos quão importantes que constituirão uma prova de fogo para a Europa alargada. Citarei apenas dois: o da ratificação do Tratado Constitucional e o da aprovação das Perspectivas Financeiras.

Depois, no plano internacional, temos que nos continuar a bater pelo reforço do multilateralismo para que continue a representar, sempre cada vez mais, uma oportunidade para a paz, a justiça e o desenvolvimento sustentado no mundo.

Sei, aliás, que tal como Portugal, a Áustria está empenhada em reforçar a cooperação internacional e aposta, como nós, nas virtudes do diálogo e da acção conjugada da Comunidade Internacional para melhorar a Governação Mundial.

Creio, Senhor Presidente, que os nossos dois países estão firmemente empenhados em contribuir para estes objectivos, bilateralmente, a nível europeu e no plano da multilateral. Até porque Portugal e a Áustria têm sido, desde há muito, um lugar de cruzamento de influências diversas, de encontro de culturas e tradições, abertos ao diálogo entre os povos, atentos ao progresso e ao bem-estar da Humanidade.

Termino, formulando votos para que esta visita possa contribuir para aprofundar ainda mais o nosso conhecimento mútuo e encorajar o desenvolvimento da nossa cooperação.

Peço a todos que me acompanhem num brinde pelas felicidades pessoais de Sua Excelência o Presidente da República da Áustria e da Senhora de Heinz Fischer, pela prosperidade da Áustria, pelo fortalecimento dos laços de cooperação e de amizade entre os nossos dois povos e países.