Apresentação do livro “O ambiente na Educação do rapaz” do Prof. Ernesto Candeias Martins

Tojal
05 de Novembro de 2004


Hoje, à distância de mais de sessenta e cinco anos, podemos afirmar que foi memorável a arrojada intuição do P. Américo a favor de crianças e jovens. Calcorreou os caminhos da pobreza e miséria, criou uma obra de cariz igualitário, e nesse sentido, democrático, obteve a adesão de muitos portugueses e garantiu os financiamentos necessários com base em dádivas de particulares.

A Obra da Rua – Casas do Gaiato – contribuiu decisivamente para a difusão do conhecimento sobre os mais graves problemas sociais. E, juntamente com outras instituições e movimentos, esteve na origem de novas políticas sociais que, entretanto, foram adoptadas.

Quando, hoje em dia, se contesta alguma desactualização da Obra da Rua, importa não esquecer as suas potencialidades de inovação e o facto de os problemas sociais do país serem claramente superiores à capacidade de resposta. Por isso, torna-se absolutamente imperioso que os departamentos públicos, as instituições particulares e os grupos de voluntariado social congreguem, cada vez mais, os seus esforços no conhecimento dos problemas, na procura de soluções e na mobilização de todos os recursos disponíveis.

O livro que hoje nos foi apresentado constitui mais um contributo relevante do Prof. Ernesto Candeias Martins para o estudo das instituições que se ocupam de “crianças órfãs e abandonadas, os meninos pobres e desamparados ou os jovens débeis e delinquentes (...)”, segundo a expressão utilizada pelo Prof. António Nóvoa no prefácio do livro. Esse contributo é tanto mais significativo quanto, como refere o mesmo professor, “a historiografia portuguesa da educação não tem dedicado a estas instituições, nem aos seus alunos e educadores, nem às suas orientações, nem aos seus dispositivos pedagógicos, a atenção que elas merecem”.

A insuficiência de conhecimento reforça a ideia de que todos nós, todas as instituições e movimentos precisam uns dos outros, para se identificarem e concretizarem as soluções possíveis. Qualquer sobranceria, venha de onde vier, só traz inconvenientes para os objectivos a alcançar.

Na procura das linhas de orientação recomendáveis, é obviamente desejável o contributo da investigação teórica. No entanto – e como refere o Prof. A. Colom Cañellas – deveremos relevar igualmente “a teoria que surge da prática, que nasce da acção e da dedicação”. Foi esse o caso da Obra do P. Américo, bem ilustrado no trabalho que hoje é apresentado aqui.

Por todas estas razões, congratulo-me com a investigação que, através do Circulo de Leitores, é colocada agora ao nosso dispor.

Na pessoa de Sua Eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, agradeço à Igreja Católica a criação e o labor extraordinário da Obra da Rua e das inúmeras instituições que, há muitos séculos, participam decisivamente na prevenção e solução de problemas sociais.

O meu agradecimento vai também para todos os padres e colaboradores da Obra de Rua. Eles têm mantido bem viva a chama do seu Fundador, no contacto permanente com as crianças e jovens, em função dos quais a Obra existe.

Aos representantes dos organismos públicos e instituições particulares, recomendo que seja atribuída toda a prioridade ao esforço de concertação, parceria e procura de entendimentos. Só desse modo é que poderemos ser fiéis às melhores tradições do passado e às prementes exigências do futuro.