Sessão de Abertura da Conferência sobre “Sistemas de Pagamentos promovida pela SIBS e pela APB

Centro Cultural de Belém, Lisboa
24 de Novembro de 2004


Exmo. Senhor Vice-Governador do Banco de Portugal
Exmo. Senhor Presidente da SIBS e da UNICRE
Exmo. Senhor Presidente da Associação Portuguesa de Bancos
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Foi com grande prazer que acedi ao convite para estar presente nesta sessão de abertura da Conferência que marca os 30 anos da UNICRE e os 20 da SIBS.

Depois das intervenções que os Srs. Drs. Vítor Bento e João Salgueiro acabam de fazer, e que nos permitiram ter uma visão global da construção desta extraordinária história de sucesso que hoje aqui é, muito justamente, celebrada, quero, nas pessoas de ambos, felicitar as principais entidades envolvidas.

O Presidente da APB representa o universo da Banca em Portugal, presidindo a uma Associação que soube antecipar as tendências de evolução que a Sociedade da Informação iria impor e induzir uma modernização e ganho de eficiência que, acompanhando as profundas reestruturações que aconteceram no sector, tornaram o nosso sistema bancário num exemplo a nível internacional.

O Presidente da SIBS e da UNICRE representa as entidades que, respondendo aos desafios dos seus accionistas, e por vezes antecipando-os, conseguiram materializar um sistema de pagamentos universal, eficiente, seguro e útil, que é talvez o melhor exemplo de inovação ao serviço dos cidadãos acontecido no Portugal das últimas décadas.

Por uma vez as forças da cooperação entre concorrentes e a visão das vantagens daí decorrentes, com externalidades enormes a beneficiar toda a colectividade, venceram os velhos hábitos do secretismo e dos comportamentos individualistas, permitindo criar em Portugal um sistema de pagamentos cuja marca distintiva foi a da integração em rede de todos os aderentes ao sistema.

A introdução do "dinheiro de plástico" constitui uma revolução de hábitos, mentalidades e formas de relacionamento, à escala global, de cuja importância nem sempre temos a devida medida, de tal modo nos habituámos a conviver com ele e a beneficiar da sua existência. Mas a emergência do "Multibanco" - permitam-me a simplificação - é seguramente o aspecto mais notável dessa revolução em Portugal.

Deixando de lado os enormes progressos e benefícios que o sistema de pagamentos integrado, as transacções e as compensações electrónicas trouxeram ao sistema bancário, queria apenas evidenciar o aspecto mais visível e de vantagem partilhada que o "Multibanco" trouxe às relações dos bancos com os cidadãos, num jogo de soma largamente positiva, e que, em outros países, só mais tarde se verificou. Talvez nem todos saibam que, quando por cá um único cartão podia ser usado em qualquer terminal do Multibanco, em países como os EUA cada cartão só podia ser utilizado nas máquinas do banco emissor! Tecnologias de informação e dia-a-dia dos cidadãos deram aqui as mãos como talvez em nenhum outro caso, familiarizando praticamente todos os portugueses com a interface homem-máquina.

Com efeito, os bancos ganharam em eficiência e reduziram custos - desde logo com a diminuição dos recursos humanos necessários à concretização das operações bancárias mais ou menos tradicionais, sobretudo os levantamentos de numerário. Mas esta redução de custos (ou racionalização, como alguns hoje diriam…) não foi feita à custa dos clientes/cidadãos, antes lhes trouxe enormes vantagens em comodidade e rapidez, traduzindo-se em benefícios que, independentemente dos métodos usados para os tentar quantificar, são enormes. A percepção desta vantagem recíproca e a gratuitidade aparente do sistema para o cidadão utilizador constituíram, aliás, as duas faces do sucesso enorme que foi obtido.

Os outros passos decisivos na evolução do sistema foram os da progressiva generalização dos terminais em pontos de venda, criando o hábito do uso do cartão de débito, e o do alargamento a uma série de pagamentos de serviços, possibilitando outras histórias de sucesso da inovação em Portugal - como a Via Verde. Em todos estes casos, juntaram-se aos beneficiários iniciais (bancos e cidadãos) os comerciantes e prestadores de serviços, que decerto viram enormemente aumentados o número, celeridade e segurança das transacções.

A história de sucesso que hoje aqui se celebra mostra o que é possível fazer, em Portugal e com Portugueses, quando a inovação tem um propósito e quando há reunião e não dispersão de esforços. E inovação quer muitas vezes dizer mais do que simples uso da tecnologia - quer dizer sobretudo inovação organizacional, sem a qual não se conseguem ganhos sustentados de produtividade.

O facto, porém, é que inovamos pouco.

As empresas portuguesas, na sua maioria, são pouco competitivas, têm baixa produtividade, fraco nível de gestão e recursos humanos pouco qualificados, investindo muito pouco em inovação. E o investimento público em investigação e desenvolvimento, além de insuficiente, é quase sempre pouco selectivo e disperso.

Mas sem inovação não reforçaremos a nossa capacidade de concorrer no mercado europeu e no mercado mundial. Sem inovação, tecnológica e organizacional, dificilmente faremos crescer a produtividade a ritmo superior ao dos nossos parceiros da União Europeia – ritmo superior que é indispensável para recuperarmos o atraso económico e alcançarmos o nível de vida que todos ambicionamos.

É por isso urgente dinamizar as relações entre componentes do sistema nacional de inovação, estimular e sensibilizar as empresas para a urgência de um investimento mais reprodutivo em investigação e desenvolvimento e tornar mais frequente e natural o recurso às relações de trabalho entre a produção de saberes e o tecido económico. Estas são condições essenciais para que o País possa vencer os desafios do futuro: empresas (motores últimos da inovação) e centros de saber têm que assumir a urgência e inevitabilidade de a ligação entre eles se simplificar e agilizar, através de modos operativos eficientes, centrados num trânsito muito mais intenso de recursos humanos qualificados.

A história do sistema português de pagamentos é um excelente exemplo daquilo de que somos capazes quando há visão e unidade de propósito, quando a concorrência não impede as relações de cooperação e quando, ainda por cima, os benefícios podem ser largamente partilhados.

A dinâmica e os sucessos destes vinte anos que aqui se comemoram fazem-nos imaginar mais progressos ainda no futuro. Com os limites que, naturalmente, esse bem inestimável que é a privacidade imporá, estou certo que a SIBS nos vai continuar a trazer inovações que, interessando e beneficiando os seus accionistas, se repercutirão, de forma positiva e alargada, na economia e na sociedade. Espero, por isso, a continuação do seu êxito, desejando as maiores felicidades aos que, de forma quase anónima, nela trabalham, concebendo e mantendo este admirável mundo dos pagamentos sem dinheiro.