Discurso no Fórum Empresarial Luso-Chinês de Shangai

Shangai, China
14 de Janeiro de 2005


Senhor Vice-Presidente da Câmara de Shangai
Minhas Senhoras e meus Senhores

Tenho um enorme prazer em estar de volta a Shangai e em descobrir a modernissima cidade do século XXI, cuja fama corre mundo, pelo seu explosivo dinamismo, pela sua evocativa história, pela sua tradição cosmopolita, pela beleza dos seus edifícios.

Espero que esta visita seja o primeiro passo para criar uma relação mais próxima entre os portugueses, esta impressionante metrópolis e as regiões vizinhas, das mais dinâmicas em toda a China. Em 2005, depois de um hiato de cinquenta anos, Portugal voltará a dispor de um Consulado Geral em Shangai, que servirá como elemento dinamizador da nossa cooperação, nos domínios do comércio, do investimento, do turismo, da ciência, da cultura, da língua e da cooperação entre universidades.

Entre países tão distantes um do outro, com duas culturas tão vincadas — embora ambas de pendor universalista — as relações económicas não podem ser desligadas das relações humanas. Para fazer negócios, é preciso estabelecer laços de confiança, que só podem nascer do conhecimento que resulta de um contacto prolongado. O objectivo da minha presença é o de ajudar a estabelecer contactos e a abrir portas para um frutuoso relacionamento futuro. A vós todos competirá fazê-lo frutificar.

A nível político, o enquadramento é favorável. As relações entre a China e Portugal são de amizade. Não temos qualquer contencioso. O processo de transição de Macau foi um sucesso. Existe, de parte a parte, um forte empenho em aprofundar e dinamizar as nossas relações bilaterais, em todos os domínios. No quadro desta visita, foram assinados diversos acordos que exprimem bem essa realidade. Esta tarde, terei ocasião de assistir à assinatura de mais dois protocolos de cooperação, respectivamente entre a organização da exposição universal de Shangai em 2010 e a entidade responsável pela Expo 98 que se realizou em Lisboa e entre a Portugal Telecom e a ZTE.

A China será certamente, pela sua pujança cultural e económica, pelo talento e dinamismo da sua população, uma grande potência do século XXI. A nossa aposta na China é portanto uma aposta no futuro. Mas para resultar, ela deve ser consistente, persistente e estruturada. Tem de haver uma acção conjugada, por parte das empresas e do Estado para aproveitar bem as oportunidades, o que exige uma percepção fina e diferenciada da realidade chinesa, bem como a noção das dificuldades que é necessário vencer.

Partimos de um patamar baixo, mas em franca expansão. O valor do comércio bilateral ascendeu, em 2003, segundo dados portugueses, a 520 milhões de euros e registou um forte desequilíbrio a favor da China. Todavia, nos últimos seis anos, as nossas exportações para o vosso país cresceram a uma taxa média anual de 56%. A nossa quota neste mercado, agora entre os vinte maiores para as exportações portugueses , está a crescer. É importante que esta tendência se mantenha para que as nossas relações sejam mais equilibradas.

A China é já, quando comparada com outros Estados de semelhante dimensão, um país com uma grande abertura ao exterior no plano económico. A adesão da China à OMC, que ocorreu em 2001, vai certamente aumentar essa abertura. A integração da China na economia mundial vem ocorrendo a um ritmo acelerado e exerce já um forte impacto global. Ela significa um acesso crescente das empresas chinesas ao mercado mundial, mas também o acesso dos nossos produtos e serviços ao mercado chinês.

Essa abertura é por vezes dolorosa e implica uma certa dose de risco. Por exemplo, no sector textil, com a liberalização do regime comercial que entrou em vigor a partir de 1 de Janeiro, as empresas portuguesas sofrerão um forte impacto competitivo da industria chinesa. É do nosso interesse mútuo evitar que os efeitos dessa liberalização ponham em causa de forma brusca o equilíbrio de um sector que continua a ser vital para a economia portuguesa. Confiamos que a China não deixará de ter esta situação em conta. Espero, também, que este processo funcione como um incentivo para, através dos esforços de qualificação e inovação em curso neste sector, manter a competitividade dos produtos portugueses em mercados cada vez mais exigentes e globalizados.

Para que as relações entre nós se possam desenvolver, em particular a nível económico, precisamos, antes de mais, de um melhor conhecimento recíproco, que nos permita vencer as barreiras da distância e da língua.

Gostaria, por isso, de me dirigir às senhoras e senhores empresários da China que nos deram a honra de aceitar este convite. Não sei quantos vocês tiveram já oportunidade de visitar Portugal. Se não o fizeram, convido-os a descobrirem as belezas do nosso país. Mas penso que, mesmo quem nunca nos visitou, sabe que Portugal é membro União Europeia há cerca de vinte anos; é uma nação com a qual a China tem relações há cinco séculos; é um povo que fala uma língua falada por 200 milhões de pessoas em todo o mundo; é um país com maravilhosas praias, magníficos campos de golfe, excelentes vinhos, um património cultural riquíssimo e pessoas acolhedoras.

Somos um parceiro fiável, integrado em grandes espaços económicos, habituado a lidar com outras culturas. A missão empresarial que me acompanha — a maior de sempre em visitas deste tipo — representa sectores de actividade muito diversificados e os seus membros são parceiros qualificados, alguns já estabelecidos na China, outras interessados em aqui se colocarem. Faço votos para que os contactos que serão estabelecidos esta tarde possam ser úteis e produtivos.

Quanto aos meus compatriotas e amigos portugueses aqui presentes, gostaria de vos dizer o seguinte. Quando comparamos a nossa dimensão com a da China, interrogamo-nos: como pode um país de 10 milhões de habitantes posicionar-se relativamente a um mercado que conta com 1300 milhões de pessoas? Para responder a esta pergunta, creio que não devemos pensar no mercado chinês como um só mercado, mas como muitos segmentos de mercado diferentes. Por exemplo, aqui em Xangai, estamos numa região em que a pujança da economia é devida às empresas privadas de pequena e média dimensão, muitas vezes familiares, à semelhança do que sucede em Portugal.

Por outro lado, a estratégia de abordagem do mercado não será certamente a mesma em todos os sectores. Nalguns casos, ela será essencialmente comercial, noutros orientada para o investimento, noutros ainda para o estabelecimento de parcerias. Creio, por isso, que, apesar das diferenças em termos de dimensão, e do facto de não existir, à partida, uma complementaridade evidente entre a economia portuguesa e a chinesa, há razões para esperar que as empresas portuguesas possam encontrar aqui um espaço de actuação proveitoso.

No sector do turismo, por exemplo, a OMT estima que dentro de 15 anos a China será o principal mercado emissor a nível mundial. Existem portanto boas oportunidades para Portugal, que é o 16º mercado receptor de turistas. Com a entrada em vigor, em Setembro de 2004, do acordo ADS (Approved Destination Status) entre a China e a União Europeia, está criado o quadro jurídico que permitirá o desenvolvimento das relações neste domínio, importante não apenas no plano económico mas também para a aproximação entre os povos. No âmbito desta visita, efectuaremos, a partir de amanhã, em Xintiandi, uma acção de divulgação da imagem de Portugal, que estará patente durante 10 dias e que vos convido a visitar. Ainda neste âmbito, quero destacar a importância do MOU sobre transportes aéreos assinado em Pequim que vai permitir a realização de voos directos entre os dois países.

Em 2010, realizar-se-á em Shangai, uma exposição universal. Será, estou certo, um grande momento de afirmação internacional da vossa cidade. Portugal, que desde o primeiro momento apoiou a vossa candidatura, está muito interessado em colaborar convosco neste evento, aproveitando a experiência adquirida pela Expo 98 realizada em Lisboa, cujo sucesso foi por todos reconhecido.

Falei-vos sobretudo de relações económicas. Antes de terminar, quero contudo sublinhar que o relacionamento entre a China e Portugal não se esgota nesse domínio. A China é uma civilização milenar, cujas contribuições para a cultura universal são incalculáveis. Temos plena consciência da aposta das autoridades chinesas no conhecimento e na ciência. Apreciamos, também, a grande inteligência, sabedoria e criatividade do povo chinês. Por isso, atribuo grande importância ao aprofundamento das nossas relações culturais, à cooperação cientifica e aos intercâmbios e parcerias entre universidades dos dois países, como sucede por exemplo entre a Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Nova de Lisboa e a sua congénere na Universidade de Shangai, ou entre o Instituto Camões e a Universidade de Estudos Internacionais de Shangai.

Queremos promover o ensino mútuo das nossas línguas e dar a conhecer à China, de forma mais ampla, a cultura portuguesa, em domínios como os da arte contemporânea e da literatura, em que Portugal ganhou notoriedade internacional.

Como diz Lao Tse, “grandes realizações são possíveis, quando se dá importância aos pequenos começos”. Esta Embaixada que aqui vos trago é sinal da possibilidade de aprofundamento das nossas relações, numa base de respeito mútuo e benefício recíproco.

Agradeço a todos a vossa presença, e em particular às autoridades desta cidade pela sua hospitalidade e pelo seu contributo empenhado para o sucesso desta visita. E a todos desejo sorte nos vossos contactos...