NOTA: "Os textos das intervenções em Timor-Leste foram estabelecidos a partir das transcrições dos registos dos improvisos do Presidente da República"

Discurso no Acantonamento das FALINTIL, Aileu

Acantonamento das FALINTIL, Aileu, Timor-Leste
14 de Fevereiro de 2000


Senhor Presidente Xanana Gusmão
Representantes da UNTAET
Meus caros Timorenses
Meus caros membros das FALINTIL

Quero , em primeiro lugar, agradecer a todo este Povo Timorense a lição que deu ao mundo, lutando praticamente sozinho pelo seu direito à liberdade.

Quando nós sobrevoamos estas serras e vemos as casas destruídas, percebemos o que a força de um Povo pode fazer para, apesar disso tudo, derrotar aqueles que sempre se opuseram ao seu direito à liberdade e à independência.

Quero, por isso, prestar homenagem, neste momento solene, a todas as vítimas da guerra e da ocupação de Timor-Leste e a todos os combatentes que deram a sua vida pela liberdade e pela independência, em mais de vinte anos de luta contra a invasão e a opressão.

As FALINTIL foram a força armada que garantiu a continuidade da luta dos Timorenses. Fê-lo nas condições mais difíceis, diria mesmo, quase impossíveis de imaginar. Foi a força do Povo, a força da ligação entre todo o Povo resistente e as FALINTIL, que manteve a causa de Timor durante 24 anos, para chegarmos, felizmente, onde estamos hoje. A vossa resistência foi a vossa vitória.

Essa vitória foi ganha com a vossa capacidade e, sobretudo, com a vossa unidade. Quero pedir-vos, como amigo, que por mais difíceis que sejam os tempos daqui para a frente - porque é difícil reconstruir o que outros destruíram - nunca percam a vossa unidade, a vossa força a favor da independência.

Quero saudar, muito em especial, as FALINTIL, que depois do dia 30 de Agosto, vendo os seus irmãos acossados, souberam resistir disciplinadamente e não caíram na armadilha que estava preparada para obrigar os Timorenses a responder à violência com a violência.

Quero deixar uma palavra de homenagem ao vosso comandante. Sob a liderança de Xanana Gusmão, foi Taur Matan Ruak que, pelo seu discernimento e pela sua inteligência, percebeu o que era preciso fazer naquele momento, por mais difícil que fosse aguentar os heróicos combatentes no local onde se encontravam.

Agora as tarefas são de segurança e de garantia da estabilidade indispensável para reconstruir Timor. É preciso apoiar os Timorenses para que eles próprios possam erguer seu Estado, desenvolver a sua economia, dar escolas às crianças.

É uma responsabilidade da comunidade internacional fazer tudo para que, com a vossa energia, este desenvolvimento, esta paz e esta segurança possam continuar.

Meus amigos, eu já tenho muitos anos e alguns cabelos brancos. Já vi e vivi momentos de euforia e momentos de desilusão.

Exactamente por causa disso, aqui vos deixo um apelo solidário, certo de que o Povo de Timor-Leste vai saber resistir aos momentos de maior abatimento e por isso, vai ganhar a batalha do desenvolvimento, da unidade e da independência.

Não há nada de mais comovente que, vinte cinco anos depois, ouvirmos cantar o hino das FALINTIL e a "Portuguesa" por estes magníficos jovens. Por isso também aqui solenemente vos digo que faremos todos os esforços para ajudar a consolidar as vossas decisões, em diálogo com as Nações Unidas. Para que esta magnífica liberdade possa continuar e a reconstrução se possa fazer, anunciando o futuro pelo qual todos lutaram.

Quem tem esperança, como os Timorenses tiveram durante vinte cinco anos, nunca poderá mais ser derrotado.

Por isso, em nome de todos os Portugueses, que choraram convosco em Setembro, que viveram a vitória no referendo como se fosse também uma vitória nossa, quero-vos deixar, em nome de todos, um grande, grande abraço.

Espero que através dos tempos nos continuaremos a encontrar e a conviver, como só podem fazer os amigos de sempre.

Viva a Nação Timorense!
Viva a independência de Timor-Leste!
Viva Timor-Leste!
Muito obrigado.