Comemorações dos 75 Anos da Liga dos Bombeiros Portugueses

Porto
29 de Janeiro de 2005


Excelências,
Minhas Senhoras e meus Senhores,

Considerei um imperativo estar presente nesta Sessão Solene de Abertura das Comemorações dos 75 anos da Liga dos Bombeiros Portugueses. Esta é uma forma simbólica de sublinhar quer a importância desta instituição, quer a relevância crescente que o tema da prevenção vem assumindo nas sociedades contemporâneas, quer, ainda, naturalmente, a atenção que tenho procurado dar a todas as questões a ela associadas.

Devemos, por isso, celebrar, em primeiro lugar, o passado e prestar homenagem à dedicação de todos aqueles que ao longo desses anos serviram esta instituição e curvar-nos perante a memória de todos os Bombeiros portugueses que perderam a vida no desempenho das sua nobre missão.

Quero afirmar aqui, sem receio de errar, que as corporações de Bombeiros são a instituições mais acarinhadas pelo povo português. Os nossos concidadãos não só confiam como acarinham os Bombeiros e estão sempre disponíveis a apoiá-los nos combates mais difíceis contra as calamidades naturais, como tantas vezes temos tido a oportunidade de ver.

É, por isso, alicerçados na história e na profunda ligação entre a população e as corporações de bombeiros, que devemos olhar para o presente e procurar, com serenidade e sentido das responsabilidade, procurar os caminhos do futuro.

Não é de bom conselho ignorar a realidade. Temos de reconhecer que nem tudo tem corrido bem, como todos gostaríamos, em matéria de Protecção Civil. O que importa, porém, é perceber que a correcção das insuficiências que constatamos não depende de nenhum acto milagroso, nem de um decreto reformador. Nesta matéria, como em muitas outras, aliás, a melhoria que desejamos depende da capacidade de todos os intervenientes compreenderem que são parte de um todo, que esse todo só é eficaz na sua acção através de um cuidado planeamento e uma enorme capacidade de coordenação de meios, e que planeamento e coordenação dependem, em enorme medida da capacidade de ultrapassar as lógicas corporativas de cada instituição individualmente considerada e aceitar a posição respectiva que cada um tem na capacidade operacional do todo. Muitas vezes não são as reformas que resolvem os problemas, mas uma cultura de solidariedade e de complementaridade de acções e a aceitação de novos modelos de coordenação, comando e direcção.

Temos pela frente, como o Dr. Duarte Caldeira tão bem frisou, uma realidade caracterizada por importantes alterações ambientais que agravaram ameaças e riscos de desastres naturais. A esses juntaram-se os riscos resultantes da complexidade das sociedades contemporâneas e das ameaças – terroristas ou outras – que elas comportam. O risco está hoje mais presente na nossas sociedades e a resposta que lhe podemos dar é uma cultura de prevenção que, por um lado, sensibilize o cidadão para as medidas que individualmente deve tomar e, por outro apetreche o Estado – aos seus diversos níveis – de eficazes medidas preventivas e de resposta rápida a acidentes, desastres e calamidades de dimensão muito diversa.

É preciso desenvolver essa cultura de prevenção numa justa medida. Isto é, ela tem de transmitir segurança e não pode ser dramatizada ao ponto de agravar a insegurança que as pessoas sentem. Um trabalho informativo e formativo deveria ser desenvolvido junto dos órgãos de comunicação social, contribuindo para uma melhor capacidade de compreensão destes profissionais da verdadeira dimensão da ameaça que um determinado acontecimento pode representar, para que se não corra o risco de se subestimarem uns e sobrevalorizarem desnecessariamente outros.

Os portugueses percebem que todas as temáticas associadas à Prevenção e à capacidade de resposta perante acidentes ganharam uma nova dimensão e esperam de todos os intervenientes eficácia. É isso que lhes pode reforçar o sentimento de segurança perante o imprevistos. Diferendos, querelas e personalizações desnecessárias dos problemas só contribuem para uma percepção de insegurança e para um distanciamento dos cidadãos dessa cultura de Prevenção que todos reconhecemos ser vital desenvolver.

Devemos comemorar estes 75 anos da Liga dos Bombeiros Portugueses com um sentimento de justiça pelo passado e de optimismo quanto ao futuro. A consciência das dificuldades que temos de ultrapassar nunca foi tão grande como hoje. É dessa consciência que vão nascer, - necessariamente a curto prazo, porque o tempo urge – as mudanças necessárias. Tenhamos também consciência que a visibilidade das críticas ofusca, por vezes, uma avaliação correcta daquilo que já se faz muito bem. Temos de saber valorizar mais a qualidade que já temos instalada para que isso sirva de estímulo e motivo de orgulho a todos os que trabalham diariamente, com abnegação, quer nos Bombeiros, quer nas outras corporações que se dedicam à Protecção Civil. Temos de o fazer também para que as pessoas percebam o trabalho que está a ser feito, a confiança que devem ter e até o contributo que podem dar.

Vim aqui, minhas Senhoras e meus Senhores, para prestar a minha homenagem à Liga dos Bombeiros Portugueses, a todos os Bombeiros de Portugal e para dar testemunho do meu interesse por este grande tema que é a Protecção Civil. Quando, infelizmente, alguns desastres nos afectaram, acompanhei de perto o trabalho de todos aqueles que tiveram de dar resposta a essas situações. Posso dar-vos o meu testemunho da sua dedicação e do seu espírito de missão e devo a todos uma palavra de reconhecimento em nome de Portugal.

Senhor Presidente do Conselho Executivo da Liga dos Bombeiros Portugueses, parabéns pelos 75 anos que comemoram. Desejo as maiores felicidades à Liga. Peço que aceitem a expressão do reconhecimento do Presidente da República por este convite que tiveram a amabilidade de me endereçar e que me permite dirigir à Liga e a todos os Bombeiros uma calorosa palavra de incitamento à continuação do valoroso trabalho que vêm desenvolvendo.