Cerimónia de Inauguração da Casa da Música

Porto
15 de Abril de 2005


Com este acto de inauguração da Casa da Música, a cidade do Porto e Portugal passam a contar com um equipamento cultural da maior importância, que é fundamental saber valorizar e aproveitar plenamente nas suas várias potencialidades e valências.

É preciso que a Casa da Música seja, ao mesmo tempo, um centro irradiador e um pólo de atracção nacional e internacional, que funcione nas grandes redes europeias e mundiais da música, e em ligação com os outros equipamentos culturais do norte do país e do norte da península. Com o Museu de Serralves e a Casa da Música, a cidade do Porto fica com excepcionais possibilidades de afirmação e projecção cultural.

Para isso, é fundamental que o exemplo de Serralves seja seguido e aprofundado, quer no que respeita a critérios internacionais de qualidade, quer na capacidade de abertura à sociedade civil, captando apoios e submetendo-se à avaliação permanente.

Espero e desejo que haja uma boa resposta da sociedade civil, nomeadamente através do apoio mecenático. Há que criar e manter condições de credibilidade e estabilidade para que isso aconteça.

Esta inauguração inicia, como disse, uma nova fase na vida cultural da cidade do Porto e do país. E tem de representar também – todos estamos de acordo - um virar de página. Devemos ter a coragem de dizer, hoje, que o caminho que nos trouxe aqui foi acidentado e nem sempre constituiu um exemplo a seguir.

Houve demasiados atrasos, conflitos e polémicas malsãs, desperdiçaram-se muitas energias e recursos, num país que não os tem em abundância. Nem tudo foi rigoroso e transparente. Houve pessoas que imerecidamente ficaram pelo caminho. Há que aprender com os erros cometidos. Essa lição tem de ser tirada e aproveitada para o próprio futuro da Casa da Música. Faço votos de que assim aconteça.

Feito este registo a que, em consciência, não me podia eximir, quero incitar-vos a que, agora, olhemos o futuro com esperança e determinação. Este é e tem de ser um grande projecto, com várias valências culturais, artísticas, educativas e pedagógicas, que ajude a suprir o enorme e tradicional défice de cultura musical que há no nosso país. É preciso que seja um projecto com os meios suficientes e que os saibam usar bem, com rigor, critério e sem desperdícios.

É necessário que seja um projecto aberto ao que de mais inovador e qualificado se faz no domínio da criação e da divulgação musical. É indispensável que seja um projecto assente numa parceria sólida e estável entre o Estado central, as autarquias e a sociedade civil.

É fundamental que o extraordinário edifício projectado pelo génio criador do arquitecto Rem Koolhaas seja olhado como um símbolo deste projecto: poliédrico e plural, arrojado e sólido, surpreendente e voltado à imaginação do futuro. É, aliás, fundamental que este novo enriquecimento arquitectónico da cidade do Porto seja entendido e valorizado como tal.


Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Este dia é um dia de festa para o Porto e para a cultura portuguesa. Estamos no limiar de uma aventura que começou e dá continuidade e alcance ao Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, actualizando-a patrimonialmente, reforçando a ligação da cidade aos movimentos culturais contemporâneos e prosseguindo o programa de formação de novos públicos. Quero, como é de justiça, felicitar todos os que contribuíram para que este projecto, apesar das vicissitudes, prosseguisse e chegasse a bom porto, tendo já realizado uma importante acção.

É altura de olhar para a frente, sabendo recuperar e reforçar o dinamismo e a ambição. É o momento de dizer que, daqui para diante, não há outra maneira de olhar para esta instituição a não ser aquela que espera que o seu prestígio não pare de se consolidar e que a sua acção não cesse de se distinguir pela qualidade. Ele tem de ser um projecto aberto à cidade que contribua para que a cidade esteja aberta ao mundo. Como pessoa que, desde a juventude, gosta de música e lhe dá um papel central na sua vida, fico, a partir de hoje, com grande expectativa sobre o que aqui se passar. Como Presidente da República, cabe-me sublinhar a responsabilidade nacional que temos perante este projecto, incentivando-vos a fazermos dele um motivo de orgulho para Portugal e uma referência internacional de prestígio.

Houve um filósofo que afirmou: “Sem música, a vida seria um erro”. Eu acrescento: sem música, a cultura e a educação ficam inacabadas. E há um grande poeta português, Eugénio de Andrade, que disse sempre que a sua poesia aspirava à condição de música, essa grande linguagem universal. Façamos desta casa um grande lugar de vida, de educação, de cultura, de universalidade. São estes os meus votos.