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Visita à Sede do Secretariado Executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa
Lisboa
Senhor Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros,
Senhora Embaixadora de S. Tomé e Príncipe, (Presidência CPLP, Coordenadora CCP) Senhor Secretário Executivo, Senhor Secretário Executivo Adjunto, Senhor Secretário-Geral do Conselho Empresarial da CPLP, Senhor Director Executivo do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, Senhores Embaixadores,
Tendo aqui estado apenas uma vez aquando da cerimónia de assinatura do Acordo Sede entre o Governo português e a CPLP, fiz questão, neste último ano do meu mandato, de aqui voltar e com esta visita sublinhar o compromisso do Estado português para com a CPLP. A presença do Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros testemunha também que a CPLP é uma prioridade, sempre reiterada aliás, da política externa portuguesa. A criação da CPLP em 1996, concretização de uma velha aspiração, resultou de um acto de vontade política dos sete países fundadores, a que se juntou depois Timor-Leste, no sentido de darem forma e de sustentar politicamente a ideia de uma comunidade de países de língua oficial portuguesa. Tendemos, por vezes a subestimar essa decisão estratégica que se traduziu, na prática, na criação de um novo espaço geopolítico. Um espaço que, no entanto, não condiciona em nada a participação dos seus Estados membros noutras organizações sejam regionais ou, mesmo, de base cultural. Pelo contrário, em meu entender, a participação em diferentes organizações, para além de obviamente vantajosa para cada um dos nossos país, interessa e fortalece a CPLP ao permitir trazer diferentes visões e contribuições e ao facilitar o diálogo com outros espaços. É minha convicção que nestes nove anos de vida, a CPLP tem vindo a fazer o seu caminho o que permite uma nota de optimismo em relação ao futuro. Gostaria que me acompanhassem numa incursão por dez motivos que sustentam este meu optimismo: desde logo, por considerar que as relações entre o conjunto dos nossos países atravessam um momento ímpar. E esse é capital acumulado não negligenciável: em segundo lugar, é inegável que no plano simbólico, a CPLP tem demonstrado ser um título com enorme força catalizadora, gerando uma grande adesão, designadamente por parte da sociedade civil revelado na organização anual de um sem número de reuniões e eventos sob a iniciativa da CPLP; em terceiro lugar, por existir já um património de Acordos bastante apreciável e diversificado; em quarto lugar, a CPLP tem vindo a desenvolver uma prática de concertação político-diplomática, hoje perfeitamente consolidada e com provas dadas; recordo, a título de exemplo, a defesa dos interesses de Timor-Leste no quadro das Nações Unidas e, em particular, no Conselho de Segurança, bem como de mediação diplomática; em quinto lugar, foi possível estabelecer-se uma rotina de reuniões ministeriais anuais e de Cimeiras de Chefes de Estado e Governo, que asseguram os necessários impulso e coordenação política; em sexto lugar, o facto de ter sido criado um instrumento que permite prosseguir uma política de defesa e de promoção internacional da língua portuguesa – refiro-me ao Instituto Internacional da Língua Portuguesa; em sétimo lugar, o facto de se ter conseguido criar uma dimensão económico-empresarial que, apesar de ainda embrionária, tem obviamente um grande potencial, dotando a Organização de instrumentos de acção concretos e palpáveis, neste caso para os agentes económicos; em oitavo lugar, o facto de terem começado a ser desenvolvidos projectos concretos de cooperação em áreas tão decisivas actualmente como o combate ao HIV/SIDA e à malária; em nono lugar, o facto de terem sido dados já alguns passos para a futura criação de mecanismos de cooperação em matéria de segurança e defesa; enfim, diria que a CPLP tem também conseguido ampliar a sua projecção externa, revelando inclusivamente uma crescente capacidade de atracção, conforme se verifica pelo interesse de Estados terceiros que solicitaram, junto dela, a adesão ou o estatuto de observador; Não sendo exaustiva, julgo que esta incursão nos permite efectiva e racionalmente encarar o futuro da nossa Organização com razoável optimismo. Em síntese, a CPLP estruturou-se fundamentalmente e, em meu entender correctamente, nos seguintes três grandes capítulos: O político-diplomático. Área crucial para a existência e afirmação da Organização. O acompanhamento da situação na Guiné-Bissau, que urge aliás continuar, tem sido um bom exemplo do que pode e deve ser o contributo da CPLP. O económico e de cooperação. Trata-se, na minha opinião, de uma dimensão fundamental porque permitirá progressivamente levar a CPLP até às pessoas, mostrando quer aos agentes económicos, quer aos cidadãos dos nossos países que a CPLP pode desenvolver um trabalho útil e concreto. Foi por essa razão que me empenhei pessoalmente na realização de uma campanha de informação/prevenção do HIV/SIDA que viria a ser difundida nas televisões e rádios dos vários países membros. A Língua portuguesa, que é uma área estratégica e absolutamente decisiva para a CPLP. De facto, apesar de todos os constrangimentos existentes, nos quais incluiria a difícil gestão das elevadas e irrealistas expectativas criadas inicialmente em torno da CPLP, constata-se que os alicerces da Organização foram lançados e estão firmes – assentam na vontade política dos Estados membros e num forte sentimento de pertença a uma comunidade com objectivos comuns ligados à própria essência das identidades nacionais de cada membro, cuja raiz – a língua - é por todos partilhada como factor de solidariedade. Permitam-me agora que elabore um pouco mais sobre a questão da língua portuguesa, esse património comum que é fundamento e o principal instrumento da CPLP. Tendemos, por vezes, a esquecer que o ponto de partida desta Comunidade não foi o mercado ou a economia, mas sim uma língua que une oito Estados. Devemos ter presente este facto e cuidar politicamente da língua, encarando-a como um instrumento de afirmação internacional dos nossos países. O português deve assim ser hoje encarado como uma língua estratégica: é a 7ª língua mais falada do mundo, por mais de 200 milhões de pessoas; é a terceira língua da Europa mais falada no mundo; e é a 8ª língua de comunicação na Internet. A língua portuguesa é pois, hoje, uma riqueza comum e um veículo de comunicação e cooperação entre cerca de duzentos milhões de pessoas, que diariamente a usam e a enriquecem. É um meio insubstituível de acesso ao conhecimento e reforço da identidade através do exercício de uma cidadania plena e para a ampliação da intervenção dos nossos países num mundo globalizado. Este património - que a todos pertence - é simultaneamente um privilégio e uma grande responsabilidade. É um privilégio ouvir a nossa língua falada em oito países e em todos os continentes, com uma imensa diversidade e riqueza culturais. Uma língua que é um todo e é de todos nós, dos oito países e dos duzentos milhões de pessoas que diária e pluralmente a criam e a enriquecem com as mais diversas variantes culturais, tornando-a uma língua viva e de futuro. Mas é também uma responsabilidade porque exige o reforço do empenhamento comum na sua defesa, valorização e promoção. Tal não pode ser feito sem uma acção concertada e sustentada dos nossos países. Tenho feito da promoção da língua portuguesa um objectivo nos contactos internacionais e nas visitas oficiais que tive oportunidade de fazer. Ainda recentemente, em países e realidades tão distintas, como a China ou a França, pude observar o enorme interesse e vontade de aprender português, sobretudo por parte de estudantes universitários. Infelizmente, a par do interesse, verifico que existe um grande desconhecimento sobre a dimensão da comunidade de falantes do português, bem como frequentes queixas sobre a falta ou inadequação de materiais destinados à aprendizagem da nossa língua. Ora a aprendizagem do português deve ser vista como uma mais valia no mundo do trabalho. De facto, o universo da língua portuguesa constitui actualmente um espaço de oportunidade de negócios e trabalho. A comunicação em português potencia as oportunidades de sucesso das empresas, revelando-se um instrumento importante no mercado de trabalho internacional, uma vez que facilita o acesso aos mercados dos países da CPLP. Por outro lado, o português pode e deve ganhar terreno como língua diplomática e de cooperação, afirmando-se - e já o é - como língua de trabalho em organismos internacionais. Considero ser absolutamente vital agir em dois planos: por um lado na produção de materiais didácticos e na sua difusão e, por outro lado, no reforço da imagem multifacetada da língua portuguesa. A definição de uma política de língua, assumida pelos diferentes países que a falam, necessita de instrumentos eficazes para a sua difusão e para a sua aprendizagem. É essencial contar nessa acção com o papel das novas tecnologias da informação, em particular com a Internet. É necessário agir de forma coordenada, criativa, mais agressiva e sustentada no tempo. Por muito que estejamos a fazer, podemos e devemos fazer mais. É este o apelo que aqui deixo. Permitam-me ainda que, simbolicamente, vos deixe um exemplar do relatório da conferência organizada em Dezembro passado pela Fundação Calouste Gulbenkian, ao qual me associei, dedicado ao tema “Língua Portuguesa: Presente e Futuro”. Termino como comecei, reafirmando o total e inequívoco empenho de Portugal na CPLP.
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