Almoço oferecido em sua honra pelo Primeiro-Ministro francês, Jean Pierre Raffarin

Paris
13 de Abril de 2005


Senhor Primeiro-Ministro


Muito obrigado pelas suas palavras amigas e pela sua magnífica hospitalidade, da qual desfrutamos com grande prazer. Regozijo-me por esta oportunidade de o contactar de novo, após o nosso encontro em Lisboa, em Outubro de 2003 — de que guardo uma excelente recordação — por ocasião da primeira reunião de alto nível entre França e Portugal.

Conheço — e muito aprecio! — o empenho que Vossa Excelência tem posto no aprofundamento das nossas relações bilaterais. Quero significar-lhe, Senhor Primeiro-Ministro que, da nossa parte, esse empenho não é menor. Sei que o Governo português atribui prioridade ao recomeço das reuniões de alto nível e estou certo que uma nova data para as retomar, no segundo semestre deste ano, será rapidamente acertada entre os dois Governos.

Esta visita que tenho o prazer e a honra de efectuar ao vosso país é uma ocasião importante para reafirmar o carácter essencial da parceria entre França e Portugal, e para a reforçar ainda mais. Em todos os domínios sem excepção, essa parceria distingue-se pela sua profundidade, fluidez e vitalidade. Procurei, por isso, organizar esta visita sem descurar nenhum dos aspectos principais em que ela se desdobra.

Em primeiro lugar, o aspecto político. Para França, como para Portugal, a União Europeia é uma comunidade de destino, cuja consolidação é fundamental para a Europa e para o mundo. Quis, nas minhas intervenções públicas, destacar o meu empenho pessoal na ratificação da Constituição para a Europa. Embora a decisão pertença em exclusivo aos franceses, julgo que esta é uma matéria na qual todos os cidadãos da União Europeia têm um legítimo interesse, pois é o seu futuro colectivo que está em jogo.

Ainda no plano dos dossiers europeus, permita-me que refira, depois do sucesso que constituiu a revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento, a esperança de que seja possível, ainda este semestre, alcançar um acordo base sobre as Perspectivas Financeiras. Creio que esse acordo deve assentar no principio da suficiência de meios, reafirmar a importância da politica de coesão — que não pode ser, nesta negociação, a única variável de ajustamento — sem esquecer, igualmente, outros instrumentos importantes para Portugal, tais como os programas de investigação e desenvolvimento tecnológico e de apoio ao desenvolvimento rural e às regiões ultra-periféricas.

Em segundo lugar, no plano económico. Dispenso-me de sublinhar a importância das nossas relações neste domínio, que Vossa Excelência bem conhece. São vastas, profundas e muito diversificadas, desenrolando-se em larga medida independentemente da acção dos dois governos. Existem, no entanto, áreas nos quais os poderes públicos podem com vantagem actuar. Por me parecerem particularmente relevantes e prometedoras, decidi, nesta visita, persistir naquelas que a reunião de Angoulême iria privilegiar — designadamente, a cooperação no domínio da investigação científica e tecnológica e a inovação.

Em terceiro lugar, nos domínios linguístico e cultural. Sabe Vossa Excelência a importância da francofilia em Portugal. Faço aliás questão de fazer aqui uma referência particular ao Liceu Francês Charles Lepierre de Lisboa, exemplo de excelência no ensino em Portugal. Pretendo, no âmbito desta visita, promover o ensino do português em França, não apenas como língua de origem de uma vasta comunidade de portugueses e luso-descendentes mas também, e sobretudo, como importante língua de comunicação internacional e de cultura, falada por 200 milhões de pessoas em todo o mundo. Julgo que o português — língua de Camões, do Padre António Vieira, de Eça de Queiroz, de Fernando Pessoa — merece ser mais estudado e melhor conhecido em França. Espero, com um conjunto de iniciativas que serão lançadas no âmbito desta visita, contribuir para esse objectivo.

Não posso, por fim, esquecer, a enorme importância dos contactos humanos entre os dois países, em particular dos que resultam da presença em França de uma comunidade portuguesa e de luso descendentes de muitas centenas de milhares de pessoas. A corrente de simpatia que existe entre os nossos dois povos deve-se em boa parte aos laços forjados por esses homens e mulheres que aqui buscaram — e encontraram — novas perspectivas de vida. Como verdadeiros cidadãos europeus, fazem muito para aproximar os nossos dois países.


Senhor Primeiro-Ministro

Visitar a França é sempre um estímulo e um prazer. Terra de sínteses e de contrastes, em que o universal co-existe com o particular, em que a tradição anda a par da inovação, país de grande cultura literária e artística, mas também de vastos pergaminhos científicos e tecnológicos, a França continua a ser um país de grande dinamismo que, nos mais variados domínios, procura sem cessar a excelência.

O Portugal moderno, orgulhoso da sua história, mas consciente de que, num mundo cada vez mais competitivo, o caminho do futuro depende, acima de tudo, da inovação, da criatividade, da qualificação das pessoas e da sua capacidade de organização, quer forjar com o vosso país, com o qual tem óbvias afinidades, uma parceria cada vez mais estreita e apta a responder aos desafios de hoje e de amanhã.

Esse é o sentido da minha presença aqui. Levanto o meu copo, Senhor Primeiro-Ministro e caro amigo, num brinde pela sua felicidade pessoal, pela prosperidade da França e pelo futuro da sólida e vibrante amizade entre a França e Portugal.