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Encontro entre Empresários Portugueses e Franceses no MEDEF
Paris
Senhor Presidente do MEDEF, Ernest-Antoine de Seillière
Senhor Secretário de Estado da Economia Senhor Presidente do ICEP Senhores empresários
Comigo estão aqui responsáveis associativos e empresários que, em diversas capacidades, conhecem e se relacionam com a França. E a importância dos laços económicos luso-franceses imprime oportunidade acrescida a uma reflexão conjunta sobre os desafios que as nossas economias enfrentam e, naturalmente, sobre as possibilidades de maior cooperação e cruzamento de interesses. No Conselho Europeu de Lisboa, de Março de 2000, a União Europeia definiu uma estratégia assente no conhecimento, no crescimento económico e na coesão social. Desde então, aquilo que ficou conhecido como a "estratégia de Lisboa", com as adaptações e precisões subsequentes, tem constituído a principal referência nas discussões sobre as políticas económicas e sociais da União Europeia. Aproveito esta ocasião para relembrar o contributo, ainda hoje reconhecido, que Portugal deu na sua definição, e de que nos orgulhamos. A ciência e a experimentação, a razão crítica e a circulação alargada de informação deram origem a uma nova fase da vida da humanidade que trouxe – e cada vez mais traz – mudanças e avanços radicais em todos os domínios. Por este motivo, o que os países têm de mais precioso reside na sua capacidade de inventar, de descobrir, de realizar e de transformar. Aliás, e como em Portugal bem sabemos, depois do euro deixou de ser possível recorrer à desvalorização cambial para ganhar competitividade-preço e assim estimular as exportações; por outro lado, a liberalização do comércio mundial também já praticamente inviabilizou a competição em actividades de baixos salários. Consequentemente, a recuperação da economia em geral, e das exportações, em particular, tem de se fazer agora através de ganhos de competitividade assentes, fundamentalmente, na produtividade e na inovação. Para melhorar o desempenho da economia e aumentar a capacidade produtiva, há que apostar fortemente em investimentos intensivos em capital e tecnologia, na qualificação dos recursos humanos, na eficiência e na regulação dos mercados e nas necessárias infra-estruturas materiais. A discussão dos problemas económicos e financeiros da Europa tem estado demasiado centrada no Pacto de Estabilidade e Crescimento, hoje felizmente já revisto, como há muito publicamente defendi. Mas a redução dos défices orçamentais impõe-se, sobretudo, para se poder suportar melhor o previsível aumento das despesas sociais com a saúde e a segurança social decorrente do envelhecimento e do aumento da esperança de vida da população; e impõe-se ainda para que, no futuro, se possa voltar a utilizar a política orçamental para fins de estabilização macroeconómica. Em Portugal, se a correcção do défice público é o problema financeiro mais urgente, a eliminação dos défices de produtividade e de competitividade é o principal desafio da economia, pois só assim é possível evitar o risco de empobrecimento relativo do País e retomar e manter uma boa trajectória de convergência para o nível de prosperidade dos nossos parceiros comunitários mais desenvolvidos. Actualmente uma economia competitiva não é a que se baseia em baixos salários, mas sim a que dispõe de um sistema produtivo moderno, inovador e tecnologicamente avançado, capaz de produzir bens e serviços de qualidade e bem valorizados nos mercados internacionais. E, embora os Estados tenham um papel importante na criação dos ambientes propícios, nada substitui nem dispensa a visão, a capacidade de organização e a liderança dos empresários. No espaço de poucas décadas, assistimos a uma enorme diversificação e aceleração das interconexões entre espaços nacionais, com vastíssimas consequências económicas, sociais, institucionais e culturais. A pressão competitiva atinge quase todos os mercados de bens e serviços, e a deslocalização de actividades ocorre cada vez com maior frequência. Mas se é indiscutível que isto origina a necessidade de flexibilizar as gamas de produtos e dos processos tecnológicos e de criar redes empresariais ágeis, daí decorre a necessidade de reinventar os direitos sociais e de os articular com as exigências de mais profissionalismo e com uma visão global dos processos produtivos, no quadro de modelos organizacionais e de gestão mais abertos e participados, de forma a minimizar os custos das transformações. Numa sociedade em que a empresa desempenha um papel fundamental como criadora de riqueza, como geradora de iniciativas, como impulsionadora da investigação e do desenvolvimento, como fonte de emprego (que é condição de dignidade para a maior parte da população activa), aquela não pode alhear-se da realidade social que, na prática, tão decisivamente condiciona. Esta intervenção deve resultar do entendimento de que a responsabilidade social constitui hoje um pilar da estratégia e da organização das empresas e uma componente imprescindível da qualidade e da excelência empresariais, da gestão de recursos humanos, da comunicação, da imagem e do marketing. Foi este o entendimento perfilhado por algumas das principais empresas mundiais, laborando com base num sistema “tridimensional” de resultados de natureza financeira, de natureza ambiental e de natureza social. Algumas empresas portuguesas prosseguem já este caminho que, estou certo, dentro de poucos anos será indiscutível e irrecusável. Muito haverá, aliás, certamente, a clarificar nas discussões acerca da globalização e da competitividade, bem para lá dos pressupostos simplistas de teses em voga segundo as quais as economias (e as sociedades) nacionais seriam, ou deveriam ser, geridas como se de companhias e empresas no mercado global se tratasse. As determinantes da produtividade – infra-estruturas, educação, investigação - e as escolhas das políticas de receita e despesa públicas, no quadro das funções do Estado, não são realidades unidimensionais ou de eixo único e não podem ser discutidas sem as relacionar com os objectivos e preferências dos cidadãos nas sociedades democráticas. Dito isto, deixem que coloque em cima da mesa três questões para ajudar ao debate: • Em primeiro lugar, a questão do alargamento da União e em que medida ele permite um reforço das condições de êxito para a Estratégia de Lisboa e a manutenção do "acquis communautaire". • Depois, como é que os responsáveis empresariais encaram o impacto das transformações globais em curso, incluindo a emergência da China e da Índia, nas deslocalizações industriais, e destas na modernização da economia europeia, sem perder de vista os seus equilíbrios sociais. • E, finalmente, de que forma é que se podem incrementar os laços económicos entre os nossos dois países, levando em conta a longa tradição de conhecimento mútuo, a qualidade e adaptabilidade da mão-de-obra portuguesa mais qualificada e a existência de áreas onde está por explorar o potencial existente. Agradeço a vossa paciência e serei, a partir de agora, um ouvinte interessado - e, se necessário, participante! - no vosso debate.
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