Câmara Municipal de Paris

Paris
13 de Abril de 2005


Senhor Presidente da Câmara Municipal de Paris,
Senhores Conselheiros
Excelências
Minhas Senhoras e Senhores


Começo por lhe agradecer o acolhimento tão amigo e as palavras tão gentis com que Vossa Excelência me distinguiu. Este agradecimento é tanto mais caloroso quanto sei que, tratando-se de Portugal e dos portugueses, a hospitalidade e a amizade são a regra praticada nesta Casa. Quero, por isso, manifestar o meu profundo reconhecimento pela atenção que o Presidente do Município de Paris tem dedicado aos portugueses e luso-descendentes que vivem nesta cidade. Disso mesmo posso dar testemunho pessoal, pois tenho estado presente em acontecimentos que mostram essa solicitude permanente, como foi o caso desse inesquecível 10 de Junho de 2002, em que tive o gosto de participar.

Paris! Só a simples enunciação deste nome mágico fez e faz sonhar gerações sucessivas em todo o mundo. Também para os portugueses a grande capital de França teve sempre uma imensa e inextinguível força de atracção e de fascínio em vários domínios: na cultura, na ciência, na política, na economia. Terra de generoso acolhimento, para aqui vieram exilados políticos que buscavam a liberdade que lhes era negada no seu país, artistas que procuravam os horizontes que, na sua terra, estavam fechados, cientistas que demandavam as condições de investigação e trabalho que lhes eram recusadas. E para Paris, como para toda a França, vieram tantos portugueses acossados pelas carências e pelas dificuldades. Aqui encontraram a oportunidade de viverem melhor e de darem um futuro de esperança aos seus filhos. Essas novas gerações de luso-descendentes aí estão para atestar o que a França representou de possibilidades de qualificação familiar e de progresso pessoal. E o exemplo que essas gerações nos dão de plena integração na sociedade francesa, mas, ao mesmo tempo, de continuada ligação à terra de origem dos seus pais e avós é um vínculo fortíssimo da amizade luso-francesa.


Senhor Presidente e
Senhores Conselheiros,

Quero que saibam que, ao vir à Câmara Municipal de Paris por ocasião da minha visita de Estado a França, não cumpro apenas um acto formal de cortesia, que aliás já me seria muito grato. Venho aqui para vos dizer quanto aprecio o vosso trabalho para que Paris continue a ser a grande cidade que consegue unir, numa aliança única e fascinante, tradição e inovação, cosmopolitismo e identidade, cultura e economia, passado e futuro, preservação e construção, regra e renovação. Alguém disse que o futuro da nossa civilização é nas cidades que se joga. É aí que se testa a nossa capacidade de defender valores e de criar novos modos e estilos de vida. Na cidade moderna, essa prodigiosa e complexa construção humana, estão presentes, quotidianamente e de forma clara, os grandes problemas e os grandes desafios que o mundo globalizado nos põe a todos. As questões do urbanismo são verdadeiras questões civilizacionais.

Cidade a que não é alheia a luminosa ideia de felicidade terrena, Paris soube criar uma arte de viver e de conviver que é um dos seus grandes legados. A forma como tem agora procurado enfrentar as novas exigências do tempo continua a ser uma fonte de inspiração. A cidade multicultural em que coexistem e se fundem pessoas e estilos de vida diversos tem de se construir no respeito simultâneo das individualidades e da lei geral, universal e republicana. Vencer este desafio é já construir um futuro que não se teme a si-próprio e que sabe afirmar os seus valores cívicos e políticos, as suas escolhas culturais e éticas.


Minhas Senhoras e Meus Senhores,

No início do século XX, quando em Portugal se dava a conhecer a primeira geração modernista, de que, para além de Fernando Pessoa, foram grandes figuras Amadeo Souza-Cardoso e Mário de Sá-Carneiro, que viveram em Paris, outro grande artista, escritor e pintor, José de Almada Negreiros, escreveu uma carta, na qual dizia, metaforicamente: Nós somos de Paris! Queria ele dizer que esse movimento de vanguarda tinha a novidade, o génio, o rasgo, o brilho, a ousadia, a iniciativa e a alma que a cidade-luz possui e simboliza. Não há melhor elogio que se possa fazer de uma cidade do que este – querer pertencer-lhe por nela se reconhecer e nela encontrar o que mais se ama.

Ao evocar esta frase de Almada Negreiros, presto com ela a homenagem mais viva a Paris, cidade que sabe, do seu passado, conservar o que nele é mais futuro: a capacidade de transformar, de criar, de inovar, de olhar em frente. Essa é, continua a ser, uma lição para a Europa e para o Mundo.
Muito obrigado.