Apresentação da Campanha da Língua Portuguesa www.jeparleportugais.com

Paris
13 de Abril de 2005


Senhor Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian
Senhores Ministros
Senhores Reitores de Academia
Senhores Directores de Escola
Senhores Professores
Senhores representantes das Associações de Pais
Minhas Senhoras e meus Senhores


Quero começar por agradecer à Fundação Calouste Gulbenkian, na pessoa do seu Presidente, todo o apoio que tem dado às iniciativas de valorização da língua Portuguesa e o acolhimento que mais uma vez nos proporciona, na tradição de grande hospitalidade e abertura a que esta prestigiada instituição nos tem habituado. Gostaria aliás de aproveitar esta ocasião para felicitar publicamente a Fundação Calouste Gulbenkian pela acção muito relevante desenvolvida ao longo dos anos, em prol da língua portuguesa e da sua difusão no mundo.

Quero também dirigir uma particular e calorosa saudação às senhoras e senhores professores, aos responsáveis franceses e portugueses pelo ensino do português em França, aos membros das Associações de Pais bem como aos representantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa aqui presentes.

Vejo entre vós grandes amigos e amigas da língua portuguesa, a quem Portugal deve reconhecimento, estímulo e apreço. Reconhecimento pelo enorme trabalho, esforço e dedicação despendidos ao longo dos anos, graças aos quais a nossa língua pode ser hoje estudada em França em qualquer etapa da escolaridade. Estímulo, porque esta situação deve-se ao vosso incansável trabalho, à vossa militância, ao vosso entusiasmo, que não podem esmorecer porque a questão das línguas é uma batalha em que jamais nada está adquirido e nunca nenhuma vitória é definitiva. Apreço, por fim, porque o magistério das línguas requer um enorme empenho e investimento pessoais uma vez que, o que está em causa, é cultivar a comunicação, o diálogo e a abertura aos outros e que estes repousam em qualidades éticas, numa arte e numa filosofia mais do que em desempenhos mecânicos.

Os contactos que tenho estabelecido com as comunidades portuguesas e lusófilas em muitos países que visitei ao longo da última década, fizeram de mim um militante e um defensor da causa da língua portuguesa, que considero um meio insubstituível para a construção e reforço da identidade, para o exercício da cidadania plena, para a ampliação da nossa intervenção num mundo globalizado.

Paralelamente a esta compreensão, fui aprofundando a consciência de que, para a defesa desta causa é preciso fazer mais, designadamente coordenar esforços e meios muitas vezes insuficientemente aproveitados, reforçando a nossa capacidade de acção.
Lanço, por isso, um apelo a uma acção concertada de todos, que congregue naturalmente os Países de Língua Portuguesa, que resulte de uma negociação bilateral, neste caso, entre França e Portugal, que conte com o indispensável apoio dos poderes públicos e do sector privado bem como da sociedade civil.

Essa acção é indispensável a um reforço da projecção da nossa língua como veículo de cultura, de comunicação e também como instrumento de trabalho e de desenvolvimento económico.

Só uma acção concertada que inclua meios como a campanha que será aqui hoje lançada, conseguirá dar à língua portuguesa a imagem que traduz a sua dimensão universal e a riqueza das culturas que veicula e que corresponde à sua projecção no mundo dos negócios, na Europa, no Mercosul e em África. Só uma acção concertada permitirá aos nossos países afirmarem-se na mundialização, em que a tendência prevalecente é a do pensamento único e da uniformização desumanizante. Só uma acção concertada permitirá fazer face à concorrência de outras línguas emergentes e à dominação global do inglês.

Para além dos esforços na frente política, considero necessário actuar conjuntamente na produção de materiais didácticos destinados ao ensino e à aprendizagem do português, e, também, na melhoria da imagem da língua portuguesa. A política de uma língua, assumida pelos diferentes países que a falam, necessita de instrumentos eficazes para a sua difusão e para a sua aprendizagem.

É indispensável contar para esse trabalho com o papel das Novas Tecnologias da Informação. Somos surpreendidos com os avanços que a Internet nos trouxe em matéria de acesso à informação e como meio de comunicação entre as pessoas e os povos. Pois bem: é indispensável saber tirar partido destes progressos para a causa que aqui nos reúne. Estes meios, que encerram um extraordinário potencial, deverão ser adaptados e colocados ao serviço da valorização da língua e do seu ensino.

A aposta na imagem da nossa língua é uma outra área, absolutamente central, em que é também indispensável investir.

A iniciativa «www.jeparleportugais.com», que hoje apresentamos aqui, visa precisamente dar um contributo para actualizar e valorizar a imagem da língua portuguesa em França.
Como é bem sabido, as imagens – como cristalização de um conjunto de conhecimentos, de experiências, de valorações e mesmo de preconceitos, individuais ou colectivos - têm um papel determinante na estruturação das nossas atitudes e comportamentos. Ora, acontece, muitas vezes, porque vivemos num tempo em que a história se acelerou e as sociedades estão em mudança permanente, que as imagens ficam desfasadas e desactualizadas, perdendo actualidade e deixando de corresponder à realidade.

A meu ver, a imagem da língua portuguesa é particularmente exemplificativa desta situação. Considerou-se assim prioritária a realização de uma campanha de imagem em França, país em que existe uma vasta comunidade de falantes da língua portuguesa (os luso descendentes ultrapassam o milhão de pessoas), mas onde, por exemplo, o número de alunos do português está longe de corresponder a essa dimensão, não atingindo sequer os trinta mil inscritos.

Apesar da acção militante de muitos dos aqui presentes, a procura do ensino do português está longe de corresponder à dimensão das comunidades de língua portuguesa existentes em França e originárias dos nossos diferentes países. Mas está também longe de corresponder às virtualidades que a língua portuguesa encerra, sendo, como se sabe, a sétima ou mesmo a sexta mais falada no mundo, a terceira língua europeia e uma das raras línguas de comunicação internacional.

Para a compreensão deste desfasamento foram realizadas algumas pesquisas sobre as estratégias utilizadas em matéria de opções escolares pelos alunos e pelas famílias. Entre essas razões, foram invariavelmente referidos o défice de imagem existente e o desconhecimento das potencialidades da língua como passaporte para os cinco continentes, para o mundo da economia e do trabalho.

É necessário agir nas escolas dos diferentes países, nos órgãos de comunicação social, junto dos jovens, das famílias das instituições culturais e cívicas, da diplomacia, dos nossos representantes junto das organizações internacionais.

Em França, como em diversos pontos do globo - nos países africanos, na Europa, na América do Norte e na América Latina, na China ou em Timor-Leste - , recebi testemunhos que revelam um constante interesse e amor pela língua portuguesa e pelas culturas que nela se expressam. Temos de ser capazes de valorizar esse sentimento.
É preciso multiplicar, organizar e coordenar as acções em prol da língua portuguesa, mesmo que modestas, como aquela a que hoje damos início. Porque a concorrência é feroz. Porque ninguém fará por nós o que nós próprios não fizermos.

Quero dizer-vos que, como até agora, continuarei a lutar por este grande desígnio, que merece ser assumido plenamente pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, pelos amigos da lusofonia, e por todos nós, continuarei a bater-me por esta causa que tem de se tornar mobilizadora para um número cada vez maior de cidadãos no mundo.