Discurso de SEXA PR na Sessão Solene de Abertura da OVIBEJA 2005

Beja
30 de Abril de 2005


A realização de mais esta edição da OVIBEJA, a vigésima segunda, é sinal não só da vontade e persistência da Associação dos Criadores de Ovinos do Sul, como do largo leque de instituições e personalidades que, ao longo dos anos, se conseguiu agregar e sedimentar no apoio a um certame tão relevante.

Uma saudação calorosa para os seus organizadores, os anteriores e os de hoje, e para todos os que de algum modo têm contribuído para torná-la uma realidade viva e uma valiosa iniciativa da sociedade civil, com projecção nacional.

Ano após ano, desde há dezena e meia, no meio dos problemas da seca ou do excesso de chuva, das alterações fundiárias e das sucessivas políticas comunitárias, de dificuldades nas acessibilidades e de tantos problemas que se têm colocado a toda a região transtagana (em especial aos seus agricultores) - a OVIBEJA afirmou-se como a grande realização do Centro-Sul do país no domínio das feiras e exposições.

Neste caso, os agricultores puderam sentir que a liberdade de associação, consequência da democracia conquistada, contribuiu para ajudar a resolver os seus problemas de modernização.

Quando aqui estive pela primeira vez (há cerca de 8 anos!), chamei a atenção para duas realidades de manifesta importância para o país, em particular para o Alentejo.

Disse então: “é boa a notícia do provável desbloqueamento, a curto prazo, da comparticipação da UE para a barragem de Alqueva, ponto de partida essencial para o grande empreendimento desta Região”.

A albufeira de Alqueva concluiu-se e esta é a primeira edição do vosso certame após a forte subida do seu nível de enchimento e quando é já uma realidade diária a produção de energia eléctrica. Saudamos vivamente esta realidade. Falta contudo completar a execução da principal vertente que lhe deu justificação: o regadio. As notícias que chegam são animadoras, e é preciso avançar.

E espera-se a reafirmação do carácter multi-usos do empreendimento, que melhor alimentará as várias vertentes do bem estar económico e social das populações alentejanas, fazendo da obra um verdadeiro factor de desenvolvimento e coesão regional.

Também então referi: “a apresentação em Lisboa do Relatório de Coesão Económica e Social vem acentuar que o Alentejo piora na sua situação de pobreza relativa seja em relação à Europa, seja a Portugal - com uma capitação do rendimento que não chega a metade da de Lisboa e com elevada taxa de desemprego”. Nesta matéria as realidades de hoje não são as melhores. Como também o não são para o conjunto do país.

Mas em 1997 fiz também uma outra análise: “nesta zona uma associação regional de agricultores consegue erguer aquela que é a maior iniciativa como feira de serviços e amostras no Sudoeste da Península. Sinal que o subdesenvolvimento não é uma fatalidade e dele se pode recuperar”. Neste domínio, houve claro progresso e esta é mais uma razão para minha 4ª visita a este certame.

É que, deixando de lado o pessimismo e a mera lamúria, uma organização especializada foi construindo paulatinamente este grande edifício institucional privado que se tornou uma iniciativa sustentável de desenvolvimento nesta vasta zona que vai do Sul do Tejo às serras algarvias.

Depois destas singelas memórias comentadas, naturalmente começo (como o Sr. M. A. já fez) por referir-me ao problema que neste ano a todos aflige: a seca, que neste ano agrícola é nacional, de Norte a Sul com algumas excepções.

No Alentejo e Algarve vamos praticamente em meio ano sem chuva, e mais alguns meses análogos nos esperam. É sem duvida a mais severa desde há largos anos e atinge os ovinicultores e caprinicultores de quase todo o território nacional, eles que formaram a base social de apoio à vossa feira. De facto a situação é terrível, exigindo esforços adicionais de todos, nacionais e comunitários, de modo a minorarem-se os seus efeitos mais graves.


Como sempre aconteceu na OVIBEJA, abordam–se um conjunto de temáticas decisivas para o presente e futuro do sector agrícola nacional, tais como as novas realidades da Política Agrícola Comum decorrentes da revisão de 2003 e as perspectivas financeiras para o período 2007 a 2013. E matérias como o Regime de Pagamento Único (RPU), os Programas Operacionais (agrícolas, agro-indústriais, florestais e de desenvolvimento rural) e a articulação com as políticas regionais e de coesão da União Europeia.

Que estas reuniões sejam um contributo para o diálogo institucional, para o enriquecimento da solidez inter-profissional e para o fortalecimento da sociedade civil.

Quanto à indispensável coesão geográfica e social, não esqueço também o modo como esta feira-exposição tem sabido ser um factor de acompanhamento positivo na inevitável transformação da agricultura regional e na terciarização progressiva da vasta região transtagana.


Por fim, é-me muito grato expressar os melhores votos para que a OVIBEJA continue a merecer o bom acolhimento de agricultores, industriais, comerciantes, gestores, distribuidores, trabalhadores e público em geral.