Discurso de SEXA PR, por ocasião das Comemorações do 60º Aniversário do Centro Nacional de Cultura

Lisboa
12 de Maio de 2005


É com muito gosto que participo nesta sessão que assinala o 60º aniversário do Centro Nacional de Cultura. A minha presença assume uma tripla qualidade. Estou convosco, hoje, como Presidente da República, como cidadão que conhece e se confessa devedor da actividade do Centro e, num plano mais pessoal, estou aqui ainda como amigo e admirador do Centro, e de muitos daqueles que lhe deram vida, como, entre outros, Sophia de Mello Breyner, Francisco Sousa Tavares, Gonçalo Ribeiro Teles, Helena Vaz da Silva e, agora, Guilherme d’Oliveira Martins.

Ao longo das seis décadas da sua existência, o Centro Nacional de Cultura foi um fórum insubstituível de debate de ideias e um pólo dinamizador de iniciativas. Antes do 25 de Abril, foi, como disse recentemente Gonçalo Ribeiro Teles, o Parlamento que não havia. De facto, o Centro conseguiu ser, dentro dos constrangimentos do tempo, um lugar plural em que se discutiam ideias e se confrontavam opiniões. Guardo na lembrança alguns desses debates muitas vezes pioneiros. Depois do 25 de Abril, graças sobretudo a Helena Vaz da Silva, a cuja memória presto homenagem, o Centro teve um papel riquíssimo na introdução de novos temas na nossa sociedade, na invenção de novas formas de encarar e praticar a cultura, na mobilização das pessoas que mais tinham a dizer e a dar. E não esqueço o importante papel da revista “Raiz e Utopia” na abertura de novos horizontes. Pode, por isso, dizer-se que nos seus 60 anos de vida, atravessando épocas e regimes, o Centro Nacional de Cultura foi uma Casa de Cultura, aberta e plural, e uma Casa onde a Liberdade sempre se afirmou, mesmo quando isso representava risco e audácia.

Vou, por isso, ao encontro da vossa vontade de comemorarmos esta data tão significativa com os olhos postos no futuro. Ao condecorar com a Ordem da Liberdade o Centro Nacional de Cultura, presto homenagem a uma instituição exemplar e pioneira da sociedade civil e a todos os que, durante seis décadas, contribuíram para a manter viva e em permanente actualização e renovação. Mas desejo que esta condecoração seja também um estímulo a que a vossa acção prossiga, na mesma linha de abertura, ousadia e novidade. Estou certo de que assim será.

Desejo ao Centro Nacional de Cultura e ao dr. Guilherme d’Oliveira Martins, que agora preside à direcção, as maiores felicidades. A cultura portuguesa continuará a enriquecer-se com a vossa acção, o vosso dinamismo e o vosso empenhamento.