Discurso de SEXA PR, por ocasião do First Symposium "Innovation and Europe", organizado pela COTEC Itália, com a colaboração das COTECS de Espanha e de Portugal

Roma
12 de Maio de 2005


Senhor Presidente da República Italiana
Sua Majestade o Rei de Espanha
Senhores Ministros
Senhores Presidentes das Cotecs de Itália, Espanha e Portugal
Minhas Senhoras e Meus Senhores


É com especial prazer que vos dirijo estas breves palavras, agora que está concluído este simpósio que, estou certo, constitui o início de uma contribuição significativa da Fondazionne COTEC, da Fundación COTEC e da COTEC Portugal para a definição de uma estratégia comum visando a especificação de políticas de inovação, investigação e desenvolvimento tecnológico nos nossos Países.

A realização deste evento simboliza, antes de mais, a necessidade que existe de, por um lado, aumentar o nível de conhecimento recíproco dos sistemas de inovação dos nossos três Países e, por outro, reforçar a cooperação entre os agentes de tais sistemas. Essa é uma via que, entre outras, permitirá fazer face aos desafios colocados pela Cimeira de Lisboa e que assegurará a competitividade das nossas três economias no contexto da globalização.

Num contexto internacional em que as previsões dos analistas vão no sentido de no corrente ano e, em especial, em 2006, haver um ciclo de crescimento económico mundial, embora a um ritmo menor do que o verificado em 2004, verifica-se que as mesmas previsões são menos optimistas para a Europa do que para os Estados Unidos, que deverá ter um crescimento na ordem dos 3,6%. Neste quadro, não serão de prever grandes alterações na política monetarista e liberal europeia – mesmo com a flexibilização de alguns dos critérios do Pacto de Estabilidade e Crescimento -  pelo que o investimento público e o emprego continuarão baixos. Assim sendo, os EUA continuarão a distanciar-se da Europa em termos de competitividade económica.

Impõe-se assim encontrar um outro modelo económico de competitividade,  suportado em mão de obra mais qualificada e indústrias de média e alta tecnologia, que possam atrair capitais estrangeiros com expectativas de retorno adequadas. Só isso possibilitará uma recuperação económica sustentada a médio e longo prazo.

Mas o quadro europeu do sul, do ponto de vista da qualificação humana e da aposta na inovação como mola do desenvolvimento, está longe de ser o ideal. É por isso que, no quadro de uma economia cada vez mais regional e global, é preciso mudar.

A inovação surge assim como uma oportunidade única para a mudança, mas uma inovação mais orientada para a criação de produtos e mercados, suportada por uma clara e quantificada definição dos objectivos e das entidades por eles responsáveis. É preciso escolher e disponibilizar o máximo de recursos às apostas feitas. É preciso que todos os agentes de inovação falem uns com os outros e a sua actividade se complemente e não concorra, evitando esbanjamento de recursos humanos e financeiros. O projecto de mudança tem de ser um projecto de cada País, integrado e cooperando no espaço europeu e não isoladamente.

As análises produzidas por diferentes observatórios internacionais apontam para caracteristicas comuns aos sistemas nacionais de inovação dos nossos três países como, por exemplo, o reduzido nível de investimento em investigação e desenvolvimento e a reduzida valorização do conhecimento produzido pelos sistemas nacionais de ciência e tecnologia. Se se considerarem ainda as especificidades sócio-económicas associadas ao nosso posicionamento geográfico na Europa, a necessidade de coordenação de esforços na definição de estratégias partilhadas para as políticas de inovação, investigação e desenvolvimento tecnológico surge ainda reforçada.

A inovação científica, tecnológica e organizacional é um elemento imprescindível do crescimento das economias modernas. A Inovação, entendida nas suas mais diversas vertentes, é assim o maior catalisador de desenvolvimento económico sustentado e constitui também um factor indispensável para alcançar uma economia competitiva baseada no conhecimento. Por seu turno, o aumento da competitividade das empresas, através da difusão de novas atitudes e práticas de inovação empresarial, é uma condição essencial para o progresso, aumentando a nossa capacidade de influenciar a escolha do futuro.

Para que isso seja possível, é necessário dinamizar as relações entre componentes dos sistemas nacionais de inovação, sensibilizar e estimular as empresas para a urgência de um investimento reprodutivo em investigação e desenvolvimento bem como tornar mais frequente e natural a colaboração entre os centros de produção de conhecimento e o tecido económico. Estas são condições essenciais para que os nossos Países possam vencer os desafios do futuro. De facto, empresas – os motores últimos da inovação - e centros de conhecimento têm de assumir a urgência e a inevitabilidade de a sua interacção se simplificar e agilizar, recorrendo a formas de cooperação eficientes, centradas num fluxo mais intenso de recursos humanos qualificados.

No contexto da sociedade que queremos e temos de construir, o que conta não é a mão-de-obra barata mas sim a qualificação dos recursos humanos, a sua cultura e a sua formação técnica e, para se atingir este objectivo, é fundamental aprofundar as relações entre as empresas e os sistemas científicos e tecnológicos. Aliás, a própria União Europeia tem adoptado esta visão, em particular na sequência da "Estratégia de Lisboa".

A necessidade de um mais claro entendimento acerca dos nossos desígnios estratégicos e do reforço da nossa identidade no espaço europeu obriga a um esforço cooperativo, que nos permita partilhar riscos sem deixarmos de ter em conta as nossas naturais especificidades. Este esforço não se compadece com actuações isoladas (e, consequentemente, sem escala), obrigando a considerar o espaço europeu como o terreno natural para desenvolver parcerias. Só uma aposta forte na abertura e na inovação permitirá criar nova riqueza que proporcionará, por sua vez, novas actividades.

Numa estrutura empresarial caracterizada, sobretudo, por pequenas e médias empresas, as perspectivas de inovação passam assim necessariamente pela articulação dos sistemas científico, tecnológico, empresarial e financeiro, que condicionam e viabilizam estratégias governamentais e empresariais.

Não podemos, pois, descurar a formação avançada nem a criação de emprego para os jovens mais qualificados: a qualidade da democracia depende crucialmente da sua participação nas instituições existentes bem como as novas que irão surgir no futuro.

A COTEC Portugal tem contribuído para dinamizar as relações entre diferentes agentes do sistema português de inovação, para fortalecer o relacionamento entre a geração de conhecimento e a economia real, em particular sensibilizando e estimulando as empresas para a urgência de um investimento reprodutivo em investigação e desenvolvimento. As empresas e as restantes entidades portuguesas aqui presentes são, por um lado, uma demonstração da vontade que existe no nosso País de criar condições propícias ao aparecimento e ao desenvolvimento de projectos inovadores e, por outro, do empenho na criação de sinergias entre os nossos Países. Algumas organizações portuguesas firmaram já hoje, nesta linha, acordos trilaterais para a realização de projectos de cooperação tecnológica.

Termino, formulando votos para que este simpósio tenha contribuído para o desenvolvimento da cooperação entre os nossos Países, e que novas iniciativas se possam estabelecer a partir daqui, reforçando a importância desta cooperação.