Discurso de SEXA PR, por ocasião da Deslocação ao Bairro do Alto da Cova da Moura integrada na Festa Anual Kola San Jon

Bairro do Alto da Cova da Moura
18 de Junho de 2005


Senhor Ministro

Senhor Presidente da Câmara

Caros dirigentes da Associação Moinho da Juventude

e Moradores do Bairro


Mais uma vez estou na Cova da Moura acedendo ao amável convite da Associação Moinho da Juventude para participar num dia de festa. É com grande satisfação que o faço, e posso mesmo dizer que o Bairro já não é um local desconhecido para mim e para a minha Mulher, que noutros momentos e com outros objectivos o visitámos.

Quero começar por saudar a Associação Cultural Moinho da Juventude pelo trabalho que tem desenvolvido ao longo de todos estes anos. Um trabalho de integração, de tolerância e de dinamização das tradições, num espaço que esta manhã vou ter oportunidade de percorrer. Uma palavra também para os moradores da Cova da Moura que celebram a sua festa anual – a Kola San Jon, cujo significado acabo de conhecer pelas palavras da simpática vice-presidente da Associação.

A Cova da Moura, como tantos outros bairros do país e especialmente nas periferias das áreas metropolitanas, nasceu e cresceu desordenadamente, sem qualquer tipo de intervenção atempada e eficaz, fruto da necessidade mas também do engenho dos muitos que chegaram dos países africanos ou até dos que decidiram mudar dentro de Portugal, sem recursos e sem capacidade para suportar os custos das grandes cidades. Aqui se cimentaram laços de vizinhança e identidades culturais fortes, se afirmaram saberes e tradições, se constituíram novas famílias e novos parentescos. Este bairro é para muitos dos que cá vivem um pouco de Cabo Verde, um pouco da terra que deixaram em busca de melhores condições de vida, à semelhança do que aconteceu com os portugueses que emigraram para França, para a Suíça, para o Canadá e tantos outros destinos espalhados pelo Mundo. Mas é também um espaço com problemas identificados e estudados, nomeadamente em tudo o que se relaciona com a integração social dos seus habitantes.

Aqui, como noutros bairros das periferias urbanas, a necessidade de requalificar e transformar o espaço envolvente é hoje um imperativo que se torna cada vez mais inadiável à medida que se aprofundam as causas dos problemas que todos os dias se manifestam. E é preciso encarar os factos – não há apenas a Cova da Moura e estes não são problemas específicos de um só concelho. Percorri várias vezes o país, de norte a sul, e julgo que é cada vez mais urgente a adopção de políticas metropolitanas com respostas rápidas e eficazes. E esta é uma responsabilidade demasiado pesada para ser deixada apenas às autarquias que não dispõem dos meios necessários para resolver todas as situações que vão da segurança dos cidadãos às escolas, passando pela legalização dos imigrantes que continuam a chegar e pela construção de novas habitações em espaço ordenado. Estes problemas são profundos e como tal devem ser encarados, por todos, e sublinho, por todos. É muito fácil ficar pelas parangonas mediáticas e apontar os culpados por determinadas situações; mas o mais difícil e o que tem de ser feito é o aprofundar das causas e encontrar com urgência uma resposta para os problemas.

Portugal orgulha-se de ser um país tolerante. Tal como no passado outros países acolheram os nossos emigrantes, nós recebemos outros povos e outras culturas ao longo de trinta anos de democracia. É fundamental que este espírito se mantenha. Mas para isso não podemos esconder a realidade de que só se fala quando os problemas são notícia. Encarar esta realidade é também punir quem se julga acima da Lei ou quem a viola, sem derivas securitárias ou falsas soluções pretensamente patrióticas. Os cidadãos da Cova da Moura também gostam de Portugal, muitos já cá nasceram. É também ao nível das segundas e terceiras gerações que urge intervir, na preparação escolar, na busca de uma definição clara da sua identidade, na resolução dos obstáculos existentes à aplicação da Lei da Nacionalidade.

E por isso, nunca é demais lembrar o orgulho pela tolerância mas também a urgência de políticas metropolitanas e de integração que criem as condições para uma convivência mais solidária. Mais educação, mais intervenção social quer ao nível do Estado quer ao nível de associações como esta , mais atenção aos problemas que todos os dias estão ao pé de nós e que muitas vezes desconhecemos.

Uma última palavra para o Moinho da Juventude e para os moradores do Bairro. Hoje é um dia de Festa , da vossa festa anual. Desejo a todos as maiores felicidades com um pedido – só em conjunto, em colectivo se vencem as dificuldades. Continuem a trabalhar com afinco como até aqui para que todos os dias nasça um dia melhor.