Discurso de SEXA PR por ocasião da Sessão de Entrega do Grande Prémio do Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores

Palácio de Belém
20 de Julho de 2005


É com muito gosto que, este ano, vos acolho, aqui, no Palácio de Belém, sede da República, para a cerimónia de entrega do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. Não vos posso proporcionar a atmosfera estival de Tróia, mas ofereço-vos a proximidade do Tejo, que, neste lugar de Belém, tantas memórias históricas e culturais convoca.

Começo por saudar os escritores portugueses, a APE, que os representa, e o seu Presidente, o meu velho e querido amigo José Manuel Mendes. Homem de convicções e ideais, possuidor de excepcionais qualidades humanas, com um trato de elegância, afabilidade e simpatia, tem realizado, à frente da APE, com persistência, dedicação e espírito ecuménico, uma notável acção de dignificação dos escritores e da literatura.

Como disse um dia Vitorino Nemésio, um escritor é um ser humano dotado do dom de representação verbal da vida como risco e como destino. É por isso que a literatura é sempre uma admirável lição sobre a complexidade da vida e as contradições do tempo. Admirável lição, repito, e acrescento – insubstituível lição, pois só a literatura - e em especial, o romance - é esse lugar plural de muitas e contraditórias vozes, que a todos ela reconhece o direito sagrado de se fazerem escutar. A literatura é, assim e por definição, um poliedro de muitas faces, lugar de confronto e de tolerância, em que nenhuma voz cala a outra e em que não há verdades absolutas.

Este ano o Grande Prémio de Romance e Novela da APE distinguiu Vasco Graça Moura e o seu romance “Por Detrás da Magnólia”, de que a porta-voz do júri falou com competência e conhecimento. Poeta, romancista, ensaísta, cronista, tradutor, polemista, advogado, político, homem de acção, Vasco Graça Moura é conhecido de todos, nas suas múltiplas facetas e domínios de actividade. Creio, porém, que a literatura é a grande matriz da sua visão da vida e do Mundo. E mesmo as suas polémicas mais ferozes podem ser integradas numa linhagem da nossa literatura, à qual pertencem, entre muitos outros, Camilo e Aquilino, referências do nosso homenageado.

Autor de uma obra vasta e diversa, a sua carreira literária é longa, sólida e reconhecida por múltiplas distinções. Este prestigiado Prémio representa um novo reconhecimento e sei que ele o recebe com alegria.

Acontece que, além de admirador de Vasco Graça Moura, sou seu velho amigo. Neste momento, passam pela minha memória tantos acontecimentos vividos em conjunto! Em nome dessa amizade, felicito-o pelo Prémio e, como Presidente da República, presto-lhe público reconhecimento pelo que tem feito, com a sua obra e com a sua acção, pela nossa cultura.

Minhas Senhores e Meus Senhores,

O país vive momentos difíceis e os desafios são imensos. É nestas ocasiões que devemos olhar o futuro com determinação, ambição e lucidez. A cultura é um factor fundamental na tão necessária qualificação dos portugueses. Precisamos de saber mais e de saber melhor. A leitura é fundamental e este Prémio é também um convite à leitura. Nestes dez anos em que, sem falhar, tive o gosto de o entregar a escritores tão variados e de tão diferentes gerações, pude testemunhar a qualidade e o grande interesse dos livros premiados. Todos juntos, constituem um testemunho riquíssimo e plural do que pensamos e sentimos, do modo como nos vemos e como vemos os outros. A terminar, apelo a que se faça da cultura, da educação e da ciência os grandes pontos de apoio em que o nosso desenvolvimento deve assentar. Só assim, como não me tenho cansado de dizer, ganharemos o futuro.

Parabéns a Vasco Graça Moura!

A todos, desejo muitas felicidades.