Discurso de SEXA PR por ocasião da Condecoração da Banda U2

Palácio de Belém
14 de Agosto de 2005


É com muito prazer que hoje me encontro reunido com um grupo de músicos que ao longo dos últimos 25 anos nos demonstrou que é possível aliar o prazer e qualidade da criação artística à intervenção cívica e humanitária, no intuito de construirmos um mundo melhor para aqueles que hoje compartilham este espaço global e também para os nossos descendentes.

Do LiveAid, e mesmo antes, ao live8 os membros da banda irlandesa U2 (Mr. Paul Hewson “Bono”; Mr. Adam Clayton; Mr. Dave Evan “The Edge” e Mr. Larry Mulen, Jr.) habituaram-nos a significantes contribuições para o mundo das artes a nível global.

Dos seus álbuns de música, às suas incursões em bandas sonoras de diversos filmes, à exploração da ligação entre imagem e música em videoclips, os U2 marcaram as duas últimas décadas e tudo indica que o continuarão a fazê-lo.

Embora esta não seja a primeira vez que se deslocam a Portugal, a passagem dos U2 por Lisboa em Agosto de 2005 ocorre num momento de reconhecimento cultural global e também de ligação mais estreita com Portugal, tendo a fotografia do seu último álbum “How to dismantle an atomic bomb” sido aqui realizada.

No entanto, a fundamentação para atribuir aos elementos da banda U2 o grau de Oficial da Ordem da Liberdade não se prende apenas com o reconhecimento do mérito artístico e cultural, embora seja essa a condição que permitiu o exercício da cidadania global que justifica esta atribuição por mim proposta.

Segundo o regulamento das Ordens Nacionais os membros honorários da Ordem da Liberdade serão pessoas que se distinguiram por serviços meritórios praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, ou que revelaram interesse e abnegação em favor da colectividade. É esse o caso dos membros dos U2.

Ao longo dos últimos 25 anos a banda aliou a sua exposição pública, obtida pelo sucesso musical, à defesa de causas humanitárias e defesa dos direitos humanos.

Na década de noventa o seu envolvimento ao nível da dívida do terceiro mundo foi de relevante importância para o agendamento público desta matéria, tendo a sua dedicação a essa causa levado ao envolvimento no Projecto Jubileu 2000 e tendo culminado na mobilização global de Julho de 2005 em torno do projecto Live8.

Outras áreas de envolvimento da banda e dos seus elementos têm sido a procura de visibilidade dada à crise que a África actualmente vive: com dívidas não liquidáveis, disseminação não controlável da SIDA e regras comerciais desfavoráveis.

Muitas foram as organizações às quais os U2 deram apoio nas suas campanhas. Citando apenas algumas, ocorrem-me os apoios na década de oitenta à Amnistia Internacional através de vários concertos em prol da associação. A Greenpeace, em particular nas acções contra a utilização da energia nuclear, quando esta poderia pôr em causa as populações e o meio ambiente.

Causas humanitárias, situações de desrespeito pelos direitos humanos e a guerra foram outra das suas marcas ao longo das últimas décadas.

Entre vários exemplos, de acções por si desenvolvidas ou apoiadas, valerá a pena salientar o apoio à causa da liberdade na Birmânia e à líder do movimento de oposição à ditadura militar, Aung San Suu Kyi.

Também a música “Miss Saravejo”, cantada em conjunto com o tenor Luciano Pavarotti, serviu para chamar à atenção do mundo para a situação da Bósnia e permitiu apoiar crianças em áreas atingidas pela guerra. Enumerando outros projectos cuja preocupação é a saúde, os U2 envolveram-se também em apoio às crianças atingidas pelo desastre nuclear de Chernobyl e mais recentemente o projecto 46664 (número de prisioneiro de Nelson Mandela), dedicado ao combate à SIDA em África tendo o apoio de elementos da banda no World AIDS Day, em 2003.

Muitas outras matérias poderiam exemplificar o envolvimento dos U2 com questões humanitárias, como o Projecto NetAid ou as visitas a África com elementos da Administração Bush na tentativa de desenvolver programas de apoio ao desenvolvimento.

Terminaria este enumerar de intervenções da banda, ou de seus elementos, com uma situação que diz muito ao povo português. Foi também Timor-Leste outra matéria alvo da atenção por parte dos U2, nomeadamente em 1996 com a música “Love from a short distance” e com a carta aberta ao povo de Timor-Leste. Tendo também em 1999, durante os trágicos acontecimentos pós-referendo, existido por parte da banda manifestações públicas contra a situação aí vivida.

Por este conjunto exemplificativo de acções realizadas sem interesse pessoal e abnegação em favor da colectividade, decidi atribuir o grau de Oficial da Ordem da Liberdade aos quatro membros da banda U2.