Discurso de SEXA PR por ocasião da apresentação Pública da Associação “Aprender a Empreender”

Centro Cultural de Belém, Lisboa
21 de Novembro de 2005


Foi com grande interesse que acedi ao convite do Senhor Dr. Paulo Teixeira Pinto para estar presente nesta cerimónia de apresentação da nova Associação “Aprender a empreender”.

Esse interesse, que as apresentações a que assistimos vieram confirmar, reside na constatação de que há sempre mais caminhos possíveis na promoção e apoio à sensibilização dos jovens de hoje para as cada vez mais determinantes realidades da economia, em geral, e do espírito empreendedor, em particular.

Iniciativas como esta podem ter um papel catalizador, quer pelo efeito demonstração que podem induzir, quer pela dinamização de futuras parcerias entre promotores e investidores de diversa natureza.

Nesta altura, em que a crueza dos desafios que se nos colocam, para os próximos anos, no reequilíbrio das finanças públicas, está finalmente visível, faz mais sentido do que nunca salientar que há um caminho simultâneo de aceleração da modernização da nossa economia que é necessário trilhar. O problema das finanças públicas deve ser visto - sempre o tenho dito - como uma restrição mas não como um bloqueamento no caminho urgente dessa modernização, que tem que assentar em mais qualificação e melhor gestão, como condições indispensáveis para que, no espaço de uma ou duas gerações, possamos atingir os níveis de competitividade médios da União Europeia.

O apoio ao desenvolvimento do são espírito empresarial e às iniciativas dele decorrentes tem um papel fundamental na aceleração da diversificação e inovação no tecido produtivo. Sejam investimentos de base tecnológica, de aposta na internacionalização ou de reforço de competências já existentes, são muitas vezes decisivos a visão, a iniciativa e o espírito de risco que, conjugados com boa gestão e estruturas de financiamento equilibradas, permitem reforçar ou criar vantagens competitivas, a uma escala que é cada vez mais universal, como todos sabemos.

Por outro lado, há que caracterizar e delimitar o papel dos capitais, públicos e privados, e das entidades que os canalizam, na oferta de capital semente e de risco, que ainda deixa muito a desejar em Portugal.

O capital semente é indispensável, muitas vezes associado a esquemas de incubação de empresas, e exige o apoio deliberado e descomplexado de financiamentos públicos e privados, desejavelmente em parceria, sobretudo no quadro de programas de fomento da investigação aplicada e do empreendedorismo.

Já quanto ao capital de risco, o caminho é cada vez mais o da constituição de fundos e outras entidades intermediárias que, diversificando os seus participantes e os investimentos em que apostam, garantam uma gestão profissionalizada, mas ágil, e um escrutínio da sua estratégia.

Mas, há que dizê-lo, o maior dos desafios que o capital de risco enfrenta, sobretudo em Portugal, é o da recuperação da sua imagem, que ficou desde o início marcada pela perversão dos seus objectivos e, pior, no caso do de origem pública, pela noção de "hospital de empresas" e de dinheiro a fundo (quase) perdido. O capital de risco, público ou não, é capital, não é crédito não privilegiado ou desqualificado, que alguns empresários se habituaram a considerar que não há que remunerar ou resgatar. Mas o capital de risco deve assumir as suas responsabilidades e participar mais nos investimentos que contribuam para criar riqueza no País, deixando a outros instrumentos de política pública os apoios aos sectores em dificuldade. E essa aposta terá que ser na qualidade dos promotores e gestores, e não apenas nos números, tantas vezes não escrutináveis, de planos de negócio virtuais.

A formação de jovens com espírito empreendedor e gosto pelo risco é por isso um passo essencial para que haja cada vez mais e melhores iniciativas empresariais em Portugal.

Esta Associação tem pela frente um desafio estimulante, e o seu sucesso significará um contributo assinalável par o nosso futuro. Por isso quero uma vez mais felicitar os seus promotores e desejar-lhes as maiores felicidades.