NOTA: "Os textos das intervenções em Timor-Leste foram estabelecidos a partir das transcrições dos registos dos improvisos do Presidente da República"

Palavras do Presidente da República na Residência Episcopal de Dili

Residência Episcopal de Dili, Timor-Leste
13 de Fevereiro de 2000


Senhor Bispo D. Ximenes Belo
Minhas senhoras e meus senhores

Não posso deixar de recordar aquele dia relativamente próximo, mas de alguma maneira tão longínquo, quando pude abraçar D. Ximenes na altura em que, em Oslo recebia o prémio Nobel da Paz. E através de muitos encontros que decorreram antes e depois desse dia, há uma frase que eu queria aqui revelar, certo que D. Ximenes me absolverá: e dizia-me sempre "é preciso recordar que sou eu quem regressa a Timor".

Essa frase foi de grande importância para mim: era sempre preciso, para além das nossas utopias e dos nossos sonhos, não esquecer nunca que aquilo que fazíamos era para os Timorenses.

Por isso, D. Ximenes, é com emoção, mas ao mesmo tempo com sentido da História, que estou aqui consigo.

Não esperava estar em Dili neste contexto e, sobretudo, com a sua residência destruída atrás de mim. Mas é importante que as imagens dêem volta ao Mundo, como já deram, porque temos todos a convicção que aquilo que foi a atenção da comunidade internacional para os acontecimentos trágicos de Setembro passado, tem hoje que corresponder a um novo desafio.

Um desafio igualmente difícil que requer empenhamento, recursos e modéstia. E, ao mesmo tempo, que esses recursos, essa modéstia e esse empenhamento sejam postos ao serviço dos Timorenses para os ajudar a serem eles próprios responsáveis na construção do seu País,

com pluralismo, com a sua fé, a fé inquebrantável que foi a estrutura da luta pela auto-determinação e independência.

D. Ximenes resistiu para que todos nós, nomeadamente em Portugal, consigamos responder, de forma organizada e responsável a esse grande desafio, no quadro das nossas possibilidades. Portugal não deseja nada de Timor. Os tempos antigos são tempos antigos, ultrapassados por uma luta de libertação. Hoje temos uma velha amizade e um profundo desejo de relações de cooperação frutuosas. Desejo que este país rompa com as dificuldades e consiga dar, a todos os seus filhos, a justiça e o desenvolvimento porque tanto lutaram através de tantos anos.

Os encontros que mantive durante o dia de hoje com o Presidente do Conselho Nacional da Resistência Permanente e com o Representante do Secretário-Geral das Nações Unidas permitiram perceber quais são as opções e as necessidades mais evidentes e mais urgentes, e os propósitos que uns e outros, na sua esfera de competência, têm à sua frente.

Quero terminar desejando a D. Ximenes um futuro são, clarividente, porque não preciso de lhe pedir um futuro corajoso - disso D. Ximenes pode distribuir irmãmente como outrora se distribuíram os pães num contexto diferente. O que eu peço, como responsável do meu País, é que, para além do que possam ser as diferentes perspectivas, a UNTAET responda com eficácia e determinação à expectativa

da comunidade internacional no que respeita à reconstrução da vida timorense - a reconstrução das casas e das escolas, a criação das pequenas e médias empresas, o desenvolvimento da agricultura. Tudo isto, obviamente vai necessitar de muita afectividade, muita austeridade e também muita eficácia. Espero que os países doadores que se comprometeram em Tóquio correspondam agora a essas expectativas. Isso é absolutamente crucial para poder haver disponibilidades para os programas. Espero que esse esforço seja levado a bom porto, exclusivamente para bem dos Timorenses.

Muito obrigado.