Discurso no Hospital de Santa Maria - Investigação - Semana da Saúde

Lisboa
30 de Novembro de 1999


A Semana da Saúde, assim chamada, que hoje termina, teria sempre de assinalar a vertente da investigação.

A investigação científica em Portugal tem sido objecto da minha especial atenção, em diversas ocasiões.

A razão fundamental deste meu interesse radica na convicção de que o desenvolvimento económico e social do nosso País depende, em larga medida, dos resultados que conseguirmos atingir na investigação científica.

A investigação clínica constitui, a este respeito, um exemplo expressivo.

Em primeiro lugar a investigação promove o desenvolvimento da medicina e contribui decisivamente para os bons resultados em saúde.

Se atentarmos, tão só, no crescimento da esperança de vida nas últimas décadas e na melhoria da própria qualidade de vida da generalidade dos cidadãos, podemos avaliar, em grande medida, o impacto do desenvolvimento científico no bem estar das pessoas.

Em segundo lugar, a investigação fomenta o crescimento económico, beneficiando um conjunto vasto de sectores, públicos e privados, que dependem, directa ou indirectamente, da produção científica.

Em terceiro lugar a investigação deve ser parte integrante do ensino e da formação médicas, cabendo, neste caso, às Faculdades de Medicina uma especial responsabilidade no ensino qualificado dos seus alunos.

A investigação qualifica o ensino e a pesquisa científica é, seguramente, indissociável da docência universitária.

Não defendo que todos os estudantes venham a realizar investigação clínica, mas sim que todos têm a ganhar com a aprendizagem da metodologia de investigação, que lhes permita compreender e utilizar diversos instrumentos de pesquisa, exercer a medicina de uma forma mais compreensiva e eficiente e desenvolver os seus interesses em áreas não directamente clínicas.

Por tudo isto seria desejável que as instituições universitárias, e concretamente as Faculdades de Medicina, dessem, cada vez mais, especial ênfase ao processo de avaliação sistemática do cumprimento dos seus objectivos institucionais.

Penso, naturalmente, na investigação, mas também na qualidade da educação médica, na eficácia da formação, na actividade pedagógica e nos programas curriculares.

Preocupa-me, ainda, a sua adequação às necessidades do sistema de saúde, com destaque para o ritmo de formação de diplomados, que permita, a prazo, suprir as evidentes necessidades deste sector social.

Voltando à questão central desta minha intervenção, ao Estado cabe, certamente, um decisivo papel na promoção da investigação. Desde logo na definição das orientações estratégicas e na avaliação geral do impacto dos investimentos no ambiente económico e social do nosso país.

E apesar do importante investimento realizado nos últimos anos em investigação científica, ocupamos, ainda, uma modesta posição em indicadores que nos permitem uma comparação com outros países desenvolvidos da Europa.

Mas a produção científica não depende apenas da dimensão dos investimentos. É o resultado, também, de outros factores e circunstâncias, como são as competências plurais dos investigadores e o próprio ambiente e a organização do trabalho científico.

Por isso me parece importante, que se promova uma ampla discussão sobre os processos de articulação entre as instituições de ensino e o Serviço Nacional de Saúde.

Vemo-nos confrontados, por vezes, com uma constrangedora realidade dual: pólos de desenvolvimento científico e de inovação tecnológica convivem com modelos de organização hospitalar burocráticos e centralizadores.

É chegada a altura, também, de encontrar para essas instituições, os estatutos jurídicos mais adequados e que permitam promover eficientemente a investigação e o ensino e os cuidados hospitalares altamente diferenciados.

Por isso aqui estou para prestar homenagem aos nossos investigadores que, na área da saúde, vêm realizando um trabalho sério e persistente, por vezes em circunstâncias difíceis.

E tal como há cinquenta anos se distinguia Egas Moniz pela sua decisiva contribuição científica, gostaria hoje de homenagear os seus continuadores que, com o mesmo espírito científico, trabalham para o bem da Humanidade.