Banquete em honra do Presidente dos Estados Unidos da América, William J. Clinton

Palácio Nacional da Ajuda
30 de Maio de 2000


Senhor Presidente
Minhas senhoras e meus senhores

Constitui para mim um prazer e uma honra receber Vossa Excelência em Portugal, na sequência do convite que tive a oportunidade de lhe dirigir no passado mês de Setembro para visitar oficialmente o nosso país.

Atribuímos um alto significado à presença de Vossa Excelência entre nós, na qualidade de Chefe de Estado de um país amigo e aliado, com o qual Portugal mantém relações diplomáticas há mais de dois séculos, e de máximo representante de uma nação com responsabilidades únicas no actual momento histórico.

Os Estados Unidos da América constituem hoje em dia um ponto de referência para todo o mundo. A atracção exercida pelos valores democráticos consagrados na sua Constituição, a pujança da sua economia, o seu avanço científico e tecnológico, a sua supremacia militar, a sua capacidade de irradiação cultural conjugam-se para conferir à grande nação americana um papel ímpar na política mundial no início deste novo Milénio.

O avanço irreversível do processo de globalização obriga-nos a articular na nossa conduta a defesa dos interesses próprios com uma visão do futuro da Comunidade Internacional no seu conjunto. Foram os E.U.A. pioneiros, após as duas guerras mundiais do século XX, da formação da Sociedade das Nações e da Organização das Nações Unidas, dando assim corpo à ideia de que os Estados são parte integrante de uma Comunidade Internacional regida por valores universais, por cuja defesa somos todos responsáveis.

Procuramos, na medida das nossas possibilidades, pautar a nossa conduta por esses valores que reputamos corresponderem aos anseios de toda a humanidade: o respeito pelos direitos humanos, a liberdade e a democracia, a solidariedade e a equidade.

É por isso que nos batemos durante vinte e cinco anos pela liberdade do povo timorense.

É por isso que apoiamos, sem reservas ou hesitações, o alargamento da União Europeia e da Aliança Atlântica.

É por isso que procuramos ajudar os povos dos países africanos de expressão portuguesa a encontrarem a via da paz, da democracia e do desenvolvimento.

É por isso que nos empenhamos, ao lado dos nossos aliados, na Bósnia e no Kosovo.

É por isso que consideramos essencial o papel das organizações internacionais no mundo de hoje.

É por isso que subscrevemos os esforços para reformar a arquitectura do sistema financeiro internacional, de modo a reduzir a volatilidade dos mercados de capitais e lograr maior eficácia nos instrumentos de ajuda ao desenvolvimento.

É por isso que defendemos a abolição universal da pena de morte.

Sabemos, Senhor Presidente, que contamos com o seu apoio pessoal e com o da nação americana para muitas destas causas e que a comunhão de valores e interesses entre Portugal e os Estados Unidos da América é suficientemente vasta para garantir um largo futuro à cooperação entre os nossos dois países.

Senhor Presidente

As relações entre Portugal e os Estados Unidos são hoje sólidas, maduras e confiantes, mas nem sempre assim foi na história já longa dos nossos contactos.

Nas palavras de um eminente diplomata português, “as duas nações atlânticas, em virtude de factores geográficos, estratégicos, económicos e culturais, estiveram sempre destinadas a estabelecer, mais tarde ou mais cedo, estreitos laços de cooperação, mas o caminho para o estabelecimento e consolidação desse laços foi, através dos tempos, incerto e hesitante”.

A revolução de 25 de Abril de 1974 e a entrada de Portugal para as Comunidades Europeias, em 1 de Janeiro de 1986 — para referir apenas dois marcos a nossa história contemporânea — colocaram definitivamente o nosso país na senda da democracia e do progresso, criando assim as condições para o aprofundamento da nossa cooperação e o amadurecimento das nossas relações.

A nossa cooperação na área da política externa alargou-se, tanto no plano bilateral como multilateral. Refiro-me, por exemplo, à nossa longa colaboração em prol da paz em Angola, nomeadamente no âmbito da Troika constituída pelos nossos dois países e a Rússia; e, naturalmente, ao processo de auto-determinação do território de Timor Leste e a instalação no território de uma força multinacional e de uma administração das Nações Unidas. Nunca esqueceremos, Senhor Presidente, a tomada de posição de Vossa Excelência, nos dias negros de Setembro que se seguiram ao referendo, que foi decisiva para levar a bom termo este processo.

No plano bilateral, assentámos num novo modelo para a nossa cooperação militar, com a entrada em vigor, em 1995, do Acordo de Cooperação e Defesa e concluímos um grande número de instrumentos júridicos de grande importância para enquadrar o nosso relacionamento, dos quais gostaria de salientar o Acordo para Evitar a Dupla Tributação, o programa sobre a Dispensa de Vistos para os cidadãos portugueses que se deslocam aos E.U.A. e, no âmbito desta visita, o Protocolo sobre Deportações.

A cultura portuguesa tem conhecido uma maior difusão nos E.U.A., sobretudo na área da literatura e das artes plásticas. O nosso intercâmbio educativo e científico aumentou, sendo justo reconhecer nesta área o contributo da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

As comunidades lusófonas nos Estados Unidos, particularmente presentes nos estados de Rhode Island, Massachussets, Connecticut, Nova Iorque, Nova Jersey e California, valorizaram-se e afirmaram-se na sociedade americana.

Estamos no entanto em crer que muito resta ainda por fazer - em particular na área económica, cultural e científica - para que as nossas relações correspondam a todo o seu potencial.

Temos pela frente novos desafios, que exigem de nós imaginação, ousadia e determinação.

Falo como português e como europeu.

O alargamento da União Europeia é uma tarefa de alcance histórico a que atribuimos a máxima prioridade, no caminho para a consolidação de uma Europa livre e democrática na qual todos os Estados do nosso continente possam encontrar o seu lugar.

Enfrentamos, nos Balcãs, um tarefa que exigirá da nós muita paciência, firmeza e persistência, para remover do espaço europeu os riscos da guerra, do separatismo e da violência étnica. Aplaudimos os esforços, e reconhecemos os sacríficios dos países da região que se mostraram solidários com a Aliança durante as crises da última década e consideramos que, também eles, não podem ser deixados à margem das instituições euro-atlânticas.

Vemos o continente africano minado pela doença, pela miséria e pela guerra. Doenças que estavam práticamente erradicadas voltaram a instalar-se e outras novas surgiram, de consequências devastadoras. Felicitamo-nos pelo ênfase dado por V.Exa ao combate às epidemias de doenças infecciosas, no qual poderemos, particularmente em África, estabelecer uma cooperação muito frutífera.

Temos de levar a bom termo a reconstrução de Timor-Leste, com a participação empenhada dos timorenses e, em cooperação com as Nações Unidas e o Conselho Nacional da Resistência Timorense, garantir uma via pacífica para a independência e a constituição do novo Estado.

Não podemos dispensar o concurso dos Estados Unidos da América nestas tarefas. Consideramos a Aliança Atlantica um garante indispensável da segurança europeia. Não a concebemos apenas como um instrumento militar mas também como uma verdadeira comunidade de valores que constitui um vínculo indissolúvel de união entre a Europa e a América.

Estou seguro, Senhor Presidente, que estaremos à altura destes desafios se soubermos conjugar os nossos esforços e manternos unidos na defesa dos nossos interesses comuns.

Senhor Presidente

Vossa Excelência encontra-se hoje entre amigos. Das eminentes personalidades portugueses aqui reunidas, poucas serão as que não têm uma ligação especial com os Estados Unidos da América, seja no campo cientifico, cultural, educativo, político ou empresarial. Todas, estou em crer, foram tocadas pela espantosa vitalidade do vosso país, pela sua criatividade e pelo seu contagiante optimismo.

É pois em nome de todos aqui presentes que levanto o meu copo à saúde de Vossa Excelência e formulo um brinde pela prosperidade da grande nação americana e pela cooperação, a bem dos nossos dois povos, entre Portugal e os Estados Unidos da América.