Sessão de abertura da Conferência Internacional "Globalização, Desenvolvimento e Equidade"

Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
26 de Junho de 2000


Gostaria, em primeiro lugar, de felicitar a Fundação Gulbenkian por esta iniciativa de grande qualidade, que nos vai permitir ouvir alguns dos mais reputados especialistas nos diversos temas em que se desdobra o impacte da globalização.

Quero fazer apenas uma breve saudação e exprimir, uma exigência simples do nosso tempo, que é a de tentar compreender o que se passa.

Embora já saibamos o suficiente para saber que as novas exclusões precisam de focagens, também elas novas, e preocupações que se não afastem só por acreditarmos nas oportunidades à nossa frente.

A opinião pública começou, desde há algum tempo, a preocupar-se seriamente com as questões levantadas pela globalização.

Como sempre sucede, a tomada de consciência é tardia em relação ao desenrolar do fenómeno, para o qual não é difícil de atribuir já hoje, uma duração de décadas.

É uma situação normal.

Raramente as opiniões públicas antecipam ou, até, acompanham nas suas tendências profundas, fenómenos tão complexos como este.

Compete, por isso, aos responsáveis e também aos responsáveis políticos ter uma visão informada daquilo que as tendências observadas verdadeiramente significam e introduzir na agenda política as reformas que, de acordo com a sua interpretação dos interesses nacionais, são as mais adequadas para pôr as sociedades em sintonia com essas tendências.

Temos, porém, de confessar que, no que respeita à globalização, tal não sucedeu.

Não tem sido possível, até ao momento, encontrar a nível político mundial, uma resposta cabal às preocupações que a opinião pública vai crescentemente expressando.

Não foi sequer possível, na verdade, definir uma agenda geralmente aceite que enquadre o debate político sobre o que é essencial fazer.

E é uma pena que assim suceda.

A globalização é um processo fascinante, que abre novas esperanças de progresso para a Humanidade.

Mas só se poderão efectivar essas esperanças se se instituirem regras mínimas que enquadrem os processos globalizadores - para os traduzir em vantagens concretas para os países e as pessoas – e se se prestar a ajuda suficiente à reintegração daqueles que vão ficando à margem deles.

Uma coisa e outra exigem uma verdadeira convergência política a nível mundial. Numa coisa e outra, praticamente nada de relevante se tem avançado.

É pois urgente, dar passos concretos no sentido da convergência no que é essencial, ou seja na instituição de formas de regulação que estabilizem a economia global e tornem mais equitativa a partilha dos respectivos frutos.

E do meu ponto de vista existem agora boas condições para isso.

Por um lado, não estamos hoje confrontados com a divisão em blocos antagónicos que impeça uma cooperação sólida e frutuosa entre todos os Estados.

Há, como não pode deixar de ser, interesses divergentes. Mas não há um antagonismo sistemático.

Os desafios da globalização são suficientemente prementes para, do meu ponto de vista, se poderem encontrar convergências sobre o essencial mesmo que não sejam possíveis acordos sobre outras matérias.

A segunda razão de esperança tem a ver com o próprio processo de integração europeia.

Como se sabe, ele não está isento de dificuldades.

A reforma institucional face ao alargamento levanta, como é natural, questões de enorme complexidade para as quais ainda estamos longe de um consenso.

O debate sobre o futuro da Europa foi, em boa hora, relançado e as propostas são muitas e substancialmente divergentes. Mas temos de dar tempo ao tempo e ir criando pacientemente um consenso sobre esta matéria de tão largo alcance.

Mas isso não é impeditivo de a Europa tomar um papel activo na proposição de uma agenda global de reformas a nível mundial.

Qualquer que seja o futuro institucional da Europa que vier a ser acordado, que felizmente começou a ser agora discutida com outra profundidade, já se avançou suficientemente na integração para que a União Europeia se possa lançar, com alguma ambição, num papel de primeiro plano nestas questões. Assim o espero.

Não será fácil, evidentemente definir uma agenda mundial de reformas, em resposta à globalização, que possa reunir o consenso de todos

Mas ao olhar para o programa desta conferência e para os temas que serão objecto das diversas sessões, concluo que não estarão certamente muito longe dos que será necessário incluir naquela agenda.

Questões como o sistema financeiro internacional, a ajuda ao desenvolvimento ou o combate ao crime internacional, são outros tantos domínios que o desenrolar do fenómeno da globalização afecta profundamente e que deverão certamente ser objecto de convergência política a nível mundial.

Estamos, pois num momento crucial, onde muito se joga do futuro da Humanidade.

A resposta política aos novos desafios - reconheça-se - tem sido fraca e pouco eficaz. Mas ainda é tempo de encontrar formas eficientes e novos quadros de cooperação que permitam regular uma globalização que não pode ser benéfica apenas para alguns e que não pode ser realizada à custa da miséria de tantos.

Para que essa reposta política possa ser eficaz é necessário multiplicar os debates abertos e bem informados.

É o caso da presente conferência. Felicito pois, mais uma vez a Fundação Gulbenkian por tão oportuna realização.