Visita do Presidente de Cabo Verde a Portugal

Palácio Nacional da Ajuda
08 de Junho de 2000


Senhor Presidente,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Em 1996, naquela que foi a minha primeira viagem ao estrangeiro como Presidente da República, tive o grato prazer de visitar Cabo Verde. Volvidos quatro anos e num momento em que o meu mandato, como também o seu, Senhor Presidente, se aproxima do seu fim, cabe-me agora a mim a honra de o receber em Portugal.

Faço-o com a satisfação de saber que o saldo destes quatro anos foi francamente positivo para o relacionamento entre os nossos dois povos e Estados. Ao longo deste período multiplicaram-se as visitas bilaterais, assinaram-se novos e importantes acordos, desenvolveu-se a cooperação, aprofundou-se a participação portuguesa no desenvolvimento da economia cabo-verdiana, estreitaram-se os laços da língua, travaram-se batalhas comuns na arena internacional. Trata-se de um dinamismo invulgar no quadro do nosso relacionamento com o continente africano, que muito me apraz registar.

Constitui também para mim motivo de redobrada satisfação poder acolhê-lo entre nós por ocasião de mais uma comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Neste dia tão especial, queremos associar à nossa alegria aqueles que nos são mais próximos e a que nos encontramos ligados por especiais laços de amizade e cooperação . A sua presença em Viseu, no próximo dia 10, será por isso, Senhor Presidente, motivo de particular regozijo para todos os portugueses, júbilo a que por certo se associará a numerosa comunidade cabo-verdiana residente em Portugal e em particular naquela cidade.

Excelência,

A parceria estratégica que une os nossos dois países é hoje uma realidade incontestável, que ultrapassa os meros laços históricos e de amizade, projectando-os no futuro.

Vários são os factores em que se alicerça esta sólida parceria :
Ambos comungamos desse riquíssimo património comum que é a língua portuguesa, elemento aglutinador e de aproximação por excelência;

Ambos somos países atlânticos e de charneira com o outro continente, elos de ligação e pontes de contacto ;

Ambos somos povos de diáspora, de fácil inserção em outros espaços sócio-culturais, mas arreigada ligação à Terra-Mãe;

Ambos, enfim, comungamos dos ideais e valores essenciais da democracia, da liberdade, da tolerância e do respeito pelos direitos humanos, que gostaríamos de ver universalmente reconhecidos e aceites.

Desta afinidade de percursos e de sentimentos, desta comunhão de princípios, resulta a nossa força.

Senhor Presidente,

A cooperação entre os nossos dois países - Sócio-Cultural, Técnico Económica, Financeira e Empresarial - desenvolvendo-se nas mais diversas áreas e sectores e em distintos planos - bilateral, multilateral e inter-municipal - afirma-se hoje pelo seu dinamismo e carácter inovador.

Numerosas empresas portuguesas, graças ao profundo conhecimento que dispõem da realidade cabo-verdiana, participam hoje activamente no desenvolvimento económico do país, contribuindo assim, com o seu esforço, para a criação de melhores condições de vida.

No plano financeiro, pelo seu alcance, merece uma palavra de destaque o Acordo de Cooperação Cambial, assinado em Março de 1998, do qual se espera possa vir a resultar a convertibilidade do escudo cabo-verdiano. Já em plena aplicação, este acordo revestir-se-á naturalmente de particular importância para o incremento do investimento e da actividade económica em geral.

As vertentes da educação, da divulgação da língua portuguesa e da cultura, têm igualmente merecido especial atenção, sendo certo tratarem-se de áreas crescentemente mais importantes como factores de afirmação de identidade.

O apoio à consolidação das instituições e ao desenvolvimento sócio-económico e a promoção das condições sociais e de saúde, constituem também importantes prioridades.

Estou certo, Excelência, que este esforço comum não deixará de produzir frutos, fazendo votos para que novas e promissoras iniciativas de cooperação venham a ser desenvolvidas entre os nossos dois países.

Excelência,

No momento em que se prepara para celebrar o vigésimo quinto aniversário da sua independência nacional, Cabo Verde goza hoje na Comunidade Internacional de uma imagem de credibilidade e seriedade que soube conquistar através do funcionamento exemplar das suas instituições democráticas. A boa governação, aliada a uma intensa mas saudável vida política, fazem do seu caso um exemplo no contexto africano.

A riqueza da sua cultura e a sua identidade própria, contribuem também para o seu prestígio internacional, de que é testemunha o papel de relevo que o país tem vindo a assumir em numerosas organizações regionais.

Neste contexto, gostaria de me referir expressamente à excelente acção que as autoridades cabo-verdianas têm vindo a desenvolver tendo em vista a dignificação, consolidação e aprofundamento da CPLP, patrocinando as mais diversas iniciativas e para elas mobilizando os vários sectores da sociedade civil.

Estou certo de que a próxima Cimeira da CPLP, que em breve terá lugar em Maputo, constituirá um fórum de diálogo e de troca de pontos de vista produtivo, de que resultará um novo impulso para a crescente afirmação internacional da nossa Comunidade.
Portugal encara também com apreço a forma empenhada e construtiva como Cabo Verde tem defendido a causa de Timor Leste nos mais diversos organismos internacionais. Se algumas das mais difíceis batalhas foram já vencidas, batalhas que muitos julgavam perdidas, o caminho a percorrer até à independência total daquele território e à sua afirmação na cena internacional, apresenta-se ainda longo e semeado de dificuldades. Caberá aos países irmãos de língua portuguesa desempenhar um papel importante neste processo, sendo naturalmente nosso desejo que Timor Leste possa dentro em breve integrar também a grande família da CPLP.

Senhor Presidente,

Não poderia por certo deixar de dirigir uma palavra de afecto, solidariedade, respeito e admiração à numerosa comunidade cabo-verdiana radicada em Portugal, que com o seu trabalho contribui para o desenvolvimento do país, que sente um pouco como seu.

É nosso desejo que esses cabo-verdianos, cuja capacidade de integração é aliás notável, participem activamente na vida da “polis” nacional, usufruindo dos mais vastos direitos e oportunidades e partilhando com os portugueses os mesmos desafios da modernidade.

Contamos com os cabo-verdianos para a contínua tarefa da construção do Portugal de hoje. Cabo Verde pode contar com os portugueses na sua decidida caminhada para o progresso e o desenvolvimento.

Peço-vos que me acompanhem num brinde pela saúde de Sua Excelência o Presidente Mascarenhas Monteiro, pela amizade fraterna que une cabo-verdianos e portugueses e pelo desenvolvimento das relações entre Portugal e Cabo Verde, a bem dos nossos dois países.