Almoço oferecido pela Câmara Municipal da Guarda

Guarda, Semana das Cidades – Coesão, Competitividade e Cidadania
27 de Junho de 1999


Na Jornada sobre Cidades em Portugal, trouxe a esta sector das visitas ao eixo Castelo Branco- Guarda uma ideia simples: - há uma potencialidade extraordinária, ainda insuficientemente explorada, neste eixo, a qual reside no facto de existirem, com grande proximidade, entre si várias cidades que podem fortalecer as relações.
Reparem bem. Não estou apenas a dizer que há cidades - que as há, evidentemente, e são polos insubstituíveis de modernização do tecido económico e social. Mas cada uma delas é uma média cidade com capacidades de expansão limitadas
Também não estou a dizer apenas que há uma rede de cidades, mas sim que há um aglomerado urbano de razoável dimensão (cerca de 200 mil habitantes), com vários centros que podem e devem explorar complementaridades activas.
Ora, eu também quis dizer que é fundamental que Portugal tenha um território bem articulado e que os vazios, ou as assimetrias, ou as concentrações excessivas de população e meios põem em risco a coesão do País.
Falo aqui de coesão do território, uma ideia porventura ainda pouco corrente na linguagem política. O território, onde vivem e trabalham pessoas, tem que ser ligado, tem que ser harmonicamente ligado, e só as cidades o podem fazer. As cidades que cuidam do seu território, aquele que influenciam mais directamente, mas que, ao mesmo tempo, concertam com as cidades mais próximas a defesa e a valorização dos seus patrimónios, sejam eles humanos ou naturais.
Ora, a tal ideia simples que trouxe a estas cidades que visitei ontem e hoje pode agora ser resumida assim: o facto de as dinâmicas destas cidades poderem formar um conjunto é um recurso de grande importância, de importância estratégica.
Estamos a falar de escala. Sem escala, abaixo de uma certa dimensão, dificilmente se atinge a competitividade indispensável e a coesão social imprescindível.
Verifiquei, até com alguma surpresa, confesso, uma consciência da actualidade destes temas entre os responsáveis locais. Esse facto anima-me muito, como se calcula.
O espaço em que actuamos é hoje profundamente outro. Competimos num quadro aberto, europeu, e, em diversas vertentes, mundial até. Já não podemos pensar pequeno, pensar paroquial, local. Podemos agir localmente, mas como se diz na célebre frase, há que pensar globalmente para agir localmente.
Em todas estas cidades me têm sido referidos alguns estrangulamentos das acessibilidades. Reconheço que esse aspecto não andou tão depressa como seria necessário. Aqui, e em todo o País. Interessa-nos ter um sistema viário não apenas moderno mas também coerente, o que, como se sabe, não se compadece com a construção de estradas ao sabor das oportunidades e das conveniências de momento.
De facto a conclusão da rede de acessibilidades previstas melhorará substancialmente a relação com o exterior e a relação com o mercado regional. Esse mercado não é de forma alguma negligenciável. Nele estão centenas de milhares de consumidores, um tecido empresarial significativo e alguns serviços de certa dimensão, como as escolas de ensino superior, os hospitais, os centros administrativos, etc. Nele se encontra já um número significativo de empresas que pode também gerar complementaridades produtivas.
Gostaria de acentuar, a este propósito duas ou três ideias que me têm sido, por diversos modos, referidas ao longo desta Jornada.
A primeira ideia é a de que o ensino superior e as empresas devem continuar o processo de diálogo e de articulação já iniciado e que, nalguns casos, atingiu já plataformas muito interessantes. São agora os próprios empresários a solicitá-lo, e não apenas o poder político a sublinhar esse objectivo, sem o qual evidentemente não há inovação. Precisamos de interfaces entre o ensino superior e as empresas, conhecedores do meio, ousados, inovadores, eficazes.
A segunda é a de que a expansão do ensino superior, com grande expressão nesta cidades, designadamente na Guarda, não pode fazer esquecer o ensino básico e secundário, por definição promotor da igualdade de oportunidades. Este é, como não me canso de acentuar, um aspecto crucial do Portugal de hoje e do seu futuro. A escola, designadamente a escola obrigatória, é um elemento fundamental para dar capacidade àqueles sectores que a própria geografia e a sociedade por vezes descriminam.
A terceira é a de que o sector comercial, a par do turístico, merece uma grande atenção. Há que qualificar o sector comercial e desenvolver o potencial turístico da região, onde há uma componente patrimonial e natural fortíssima.
Quero, por ultimo, reafirmar aqui que a minha preocupação não é com a administração, é com os cidadãos. É preciso reforçar a cidadania. E o que quer este aparente chavão dizer? Quer dizer que há que garantir que as pessoas estão mais informadas e, formando a sua opinião, apostadas em intervir, fazer ouvir a sua voz, ajudar a política a encaminhar e a solucionar os problemas. Não há por definição cidadãos no isolamento, cortados da informação e da troca cultural. Reforçar a coesão é certamente criar condições para uma mais viva e crítica cidadania
Senhora Presidente da Câmara,
Obrigado pelas suas palavras calorosas e pelo seu convite irrecusável. Um pouco por acaso, venho à Guarda num dia 27, envolvendo-me pois no programa comemorativo dos 800 anos da Guarda. É uma honra e um prazer.
A Guarda tem uma presença forte na história nacional. Pode ter orgulho das suas raízes e do seu percurso. Não se fazem grandes cidades sem esse patriotismo que todos os dias se rega, como se de uma planta de tratasse, e se refaz. Obrigado Guarda.