Sessão de Abertura do Conselho Internacional da FMCU (Federação Mundial das Cidades Unidas)

Cascais
01 de Abril de 2000


Senhor Presidente da Federação Mundial das Cidades Unidas

Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Caros Amigos

Minhas Senhoras e Meus Senhores

Quero começar por agradecer à Federação Mundial das Cidades Unidas e ao Presidente Daby Diagne, o convite para participar neste Conselho Internacional, o que faço com todo o prazer em termos pessoais. Como Presidente da República a minha presença é natural, uma vez que tenho pautado o exercício das minhas funções ao longo dos últimos 4 anos por um interesse e uma intervenção permanentes junto do poder local realçando a sua importância no contexto nacional e procurando contribuir para o debate em torno dos respectivos problemas.

Em segundo lugar, quero manifestar ao Presidente, José Luís Judas o gosto que tenho em poder participar numa acção desta natureza organizada pela Câmara Municipal de Cascais, que tem desenvolvido um trabalho internacional notável, promovendo externamente o municipalismo português e participando activamente no crescente debate global das questões urbanas.

Saúdo ainda, deixando uma palavra de apreço e amizade, os participantes neste Conselho, muitos dos quais amigos e antigos companheiros dos tempos em que convosco militava nesta Federação, desenvolvendo uma actividade com vista à promoção da Paz, da Democracia e do Desenvolvimento através da acção das colectividades locais.

Minhas Senhoras e Meus Senhores

Acompanho interessadamente, como se sabe, a discussão dos temas relacionados com as negociações entre a FMCU e a IULA, com vista à fusão das duas organizações e ao nascimento de uma única e forte entidade capaz de enfrentar os desafios que crescentemente se colocam às autoridades locais e regionais num quadro de globalização mundial.

Vejo com agrado que esse é um dos temas principais da vossa reunião. Pela minha parte queria hoje reiterar a mensagem que vos enviei por ocasião do Congresso de Lille em 1998, no sentido de manifestar o meu firme desejo de que todas as iniciativas tomadas até este momento possam culminar com o estabelecimento de uma nova organização mundial de autoridades locais.

Na minha anterior condição de Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e de Presidente da FMCU empenhei-me durante seis anos, conjuntamente com um notável conjunto de dirigentes municipais internacionais, dos quais cumpre destacar os nomes de Pierre Mauroy, Pasqual Maragall, Jaime Ravinet e Riccardo Triglia, no sentido de fomentar a união do movimento municipalista a nível mundial, com vista a encontrar uma plataforma e um interlocutor que pudesse constituir uma resposta credível e responsável aos desafios da comunidade internacional e, em especial, das Nações Unidas nos domínios que respeitam aos estabelecimentos humanos. A realização da 1ª Assembleia Mundial das Cidades e Autoridades Locais em associação com a Cimeira das Nações Unidas Habitat II foi um exemplo vivo dessa nossa vontade e determinação, com vista a melhor corporizar os desejos e os anseios de todos os que, por todo o mundo, desejam mais e melhor para as populações que representam.

Quero assim reiterar o meu apreço pelos resultados das negociações que a nível oficial decorrem desde 1998 entre as duas organizações. Sendo certo que um processo desta natureza é complexo e difícil para ambas as partes e que encontrará sempre resistências por parte de alguns, quero saudar os avanços alcançados, nomeadamente no que toca à definição dos estatutos da futura organização e da respectiva estrutura financeira e técnica –em que o Município de Cascais tem tido um papel relevante-, e à preparação do congresso da unificação no Rio de Janeiro, em 2001.

Senhor Presidente

Se é de saudar o trabalho com vista à unificação das autoridades locais é necessário não esquecer que o crescimento urbano em geral nos coloca perante desafios complexos e exigentes. Desafios no plano da gestão do território, desafios no plano da competitividade, desafios no plano da participação cívica.

Há pois que enfrentar estes desafios relativos à concentração crescente das pessoas nas zonas urbanas em busca de pólos de emprego e de serviços de qualidade e derivados da incapacidade dos gestores e decisores políticos de encontrarem, em tempo útil, respostas técnicas e sócio-culturais à pressão que este crescimento rápido determina.

As perspectivas de resolução destes desafios, que são globais e são locais, materializam-se em domínios diversificados, tais como as possibilidades disponibilizadas pela generalização das novas tecnologias permitindo a desconcentração de funções e empregos sem perder ou mesmo ganhando em termos de produtividade, permitindo portanto, pela primeira vez, inverter viavelmente as causas da concentração urbana, a necessidade de afluir ao local de trabalho ou de prestação de serviços.

Tornar-se-á assim possível reabilitar do ponto de vista social,económico e cultural as chamadas áreas de dormitório em núcleos urbanos autónomos e recuperar outros núcleos populacionais em regressão, reconstituindo redes urbanas que se degradaram ao longo dos últimos decénios, muitas vezes fruto de um crescimento desordenado e sem planificação.

Ao nível mundial, europeu, transnacional ou nacional, a dinâmica das grandes e médias cidades assenta cada vez mais em estratégias de competitividade externa, baseadas na oferta de melhorias de infra-estruturas e serviços, ambiente urbano, equipamentos de excelência. Mas essas estratégias supõem elevados níveis de consenso sobre a sua complementaridade e coesão interna, como condição para rendibilizar os recursos sempre escassos e o aproveitamento de oportunidades de investimento não menos escassas.

As tarefas que se nos colocam pela frente são pois imensas, impondo soluções diversificadas na sua natureza e no seu prazo de implementação. O caminho que a FMCU percorreu até hoje e os novos horizontes com que se depara justificam uma palavra de optimismo para este esforço conjunto com vista à resolução dos problemas dos que nos estão mais próximos.

Bom trabalho e boa estadia em Portugal