Apresentação Pública dos Programas Operacionais de: Ciência, Tecnologia e Inovação e Sociedade de Informação

Feira Internacional de Lisboa
09 de Julho de 1999


A minha presença nesta sessão significa o meu apreço pela actividade desenvolvida em todo o país no campo da ciência desde a sua criação à sua aplicação e à sua aprendizagem. Significa sobretudo o interesse que todos devemos atribuir, colectivamente, a esta enorme área do conhecimento, crucial para a construção de um futuro sustentado, solidário, participado.
A globalização da economia e dos mercados não nos deve fazer esquecer as enormes assimetrias que existem no mundo. O século XX fica marcado por uma transformação sem precedentes no domínio da ciência e da tecnologia, mas também por fenómenos de instabilidade e de exclusão social.
Poucos países poderão pretender influenciar e muito menos determinar as linhas de força da globalização. Quer isto dizer que a temos que tomar como um pressuposto, para antecipar e gerir, na verdadeira acepção da palavra, os seus efeitos.
A inovação é crucial para o nosso país. A manutenção de processos ou formas de organização caducos e a recusa em experimentar e avaliar novos procedimentos paga-se caro, neste mundo de concorrência acrescida. Por isso há que apelar a todas as iniciativas que criem um clima favorável à inovação e que criem condições concretas para que a competitividade das empresas portuguesas se eleve.
No passado era principalmente ao quotidiano que se iam buscar as novas ideias, numa prática que se assemelhava a uma acumulação de conhecimentos sobre como aproveitar as forças da natureza. Foi assim até há cerca de cinquenta anos.
Porém, este mecanismo alterou-se drasticamente. A criação da indústrias de alta intensidade tecnológica, na segunda metade do nosso século, assinala a importância central das aplicações da ciência nas sociedades do mundo industrializado.
A prática empresarial e societal passou pois a depender fortemente de novas ideias cuja origem está intimamente associada ao esforço científico, isto é, não deriva da linguagem natural ou do saber comum. O processo de desenvolvimento tecnológico transformou-se radicalmente.
Por outras palavras, se na linguagem de todos os dias os valores, as atitudes e as expectativas de índole científica não circularem nem se afirmarem, a própria capacidade de representar e manipular a realidade fica severamente limitada. As escolhas não serão certamente as mais adequadas aos tempos e aos contextos em que vivemos.
É preciso dedicarmos mais tempo e mais espaços para aprender a funcionar e a comunicar eficientemente, em termos colectivos.
Mas essa aprendizagem é apenas uma condição de acesso, de entrada: a sociedade do próximo século é uma sociedade da participação e, quem nela não participa, não existe. Ora a participação implica que se saibam falar as linguagens comuns, mais ou menos especializadas, implica que se seja um interlocutor válido, isto é, que se seja capaz de tornar os nossos problemas, as nossas questões próprias, em temas interessantes para os outros. Só se comunica o que se sabe.
Assim, temos absoluta necessidade de desenvolver uma atitude científica face às grandes questões relativas ao desenvolvimento da sociedade e à sua sustentabilidade, o que implica uma atenção e valorização constante dos institutos e das equipas de investigação, dos esforços que visam a divulgação e a apropriação alargada dos conceitos científicos, que promovem a educação pela ciência, que garantem uma literacia científica adequada à componente tecnológica societal contemporânea .
Uma sociedade que abdique de procurar os vectores da sua racionalidade é uma sociedade que vai morrer sem esperança.