Entrega do Prémio Vergilio Ferreira 1999

Évora
01 de Março de 2000


É com muito gosto que estou, mais uma vez, na Universidade de Évora, para a entrega do Prémio Vergílio Ferreira.
Este Prémio, embora criado não há muito tempo, é já, hoje, uma distinção prestigiada. É-o, desde logo, porque se instituiu em memória de um grande escritor do nosso tempo. Depois, porque associa a memória de Vergílio Ferreira a Évora, cidade onde ele viveu e foi professor, durante um período da sua vida, e da qual conservou uma recordação duradoura, como se pode ver pelo lugar importante que essa experiência assume, referida ou transposta, na sua obra literária.
É muito significativo que tenha sido a Universidade de Évora a instituir este Prémio. Tratando-se de uma escola aberta ao tempo e ao Mundo, que tem demonstrado uma grande capacidade de inovação e ousadia, é como se fizéssemos nossas as belíssimas palavras que Vergílio Ferreira escreveu na Carta ao Futuro sobre a renovação da aventura criadora.
Há ainda uma outra razão para o prestígio que o Prémio rapidamente alcançou: os nomes dos que o receberam. Maria Velho da Costa, Maria Judite de Carvalho e Mia Couto, os anteriores premiados, são grandes escritores da língua portuguesa, à qual têm dado um notável enriquecimento. E, agora, Almeida Faria. A obra do autor de “Lusitânia” é de uma importância capital e provocou, desde o primeiro livro, no panorama da nossa literatura, uma renovação e uma abertura a novos horizontes. De facto, com Rumor Branco (escrito ainda antes dos vinte anos) e com os livros que se seguiram, Almeida Faria provocou um sobressalto na nossa ficção, quer pelo recurso a uma nova linguagem, quer pelas transformações da estrutura narrativa, quer pelo uso de novas técnicas e processos. Isso mesmo foi reconhecido pelos mais importantes críticos da literatura e ensaístas, entre os quais Vergílio Ferreira, que lhe dedicou palavras entusiasmadas e de uma notável inteligência crítica. Este Prémio é, por isso, de uma enorme justiça, tanto mais que actualiza a memória do vínculo que ligou o escritor premiado àquele que dá nome ao Prémio.
Quero, neste momento, dizer a Almeida Faria quanto o estimo e como aprecio a sua obra, a sua atitude intelectual e cívica, a sua cultura. Sobre os prémios literários, já muito se disse e escreveu. Mesmo que não tivessem outras virtudes, há, pelo menos, uma que têm: são motivo para dizermos a quem os recebe que o seu trabalho é querido, apreciado e reconhecido. É esse o significado da nossa presença aqui.
Afirmar a língua, a cultura e a criação literária num mundo que corre o risco de uniformização e de massificação é lutar pela diversidade, pelo espírito crítico, pela originalidade criativa. Temos esse dever, penso. Sendo um Prémio de literatura, este é também um prémio de língua, que une todos os que a falam - esta nossa língua de onde, como disse Vergílio Ferreira, “se vê o mar”.
Parabéns a Almeida Faria e à Universidade de Évora.