Jantar oferecido pelo Conselho Federal Suiço

Berna (Visita de Estado à Confederação Suiça)
08 de Agosto de 1999


Quero agradecer, antes de mais, a tão cordial hospitalidade que Vossa Excelência nos dispensou, a minha mulher, à comitiva que me acompanha e a mim próprio, desde a nossa chegada a este belo país.
Foi com grato prazer que aceitei o convite que me foi dirigido pelo Conselho Federal para efectuar esta visita; um convite tanto mais honroso quanto é tradição da Confederação Suiça limitar as visitas de Estado que anualmente recebe.
Este é pois um momento simbólico que vem realçar os antigos laços de amizade e entendimento que unem os nossos dois países.
Suíços e portugueses conhecem-se há muito. Somos dois povos que mutuamente se estimam e se respeitam. Percorremos, naturalmente, nos avatares e encruzilhadas da história, diferentes caminhos. E é também nessa diferença, como no que nos é comum, que nos reconhecemos e admiramos.
Ancorado no extremo ocidental da Europa, Portugal esteve, através da sua aventura marítima, na origem do mundo global em que hoje vivemos; abrindo-se, abriu à Europa outros mundos, outros horizontes, outros mercados.
A Suíça, situada na confluência de algumas das mais marcantes culturas do Continente, viveu sempre no cerne das muitas convulsões por que passou a Europa, afirmando uma forte identidade plural, que é uma das suas grandes riquezas.
Os nossos países deram um contributo valioso, de que temos justificado orgulho, para a história e a cultura da Europa. João Calvino, Le Corbusier, Herman Hess, Carl Gustav Jung, como Damião de Góis, Luis de Camões, Henrique o Navegador e Fernando Pessoa são nomes que, no seu tempo e para além dele, constituem referências incontornáveis da nossa cultura e da nossa história europeia comuns.
O diálogo cultural luso-suíço tem antigas raízes e prolongou-se ao longo dos séculos. Evoco, por exemplo as ligações de Damião de Góis aos humanistas de Basileia, o eco da obra de Madame de Stael em autores da importância da Marquesa de Alorna, Alexandre Herculano ou Almeida Garrett, as leituras educativas que Luís António de Verney fez de autores suíços, os ilustres naturalistas deste país que se fixaram em Portugal na primeira metade deste século, a recepção helvética da obra de Pessoa.
Suíços e portugueses partilhamos uma tradição de abertura e de permeabilidade aos outros. Uma tradição enriquecedora que não é demais valorizar numa altura em que, um pouco por todo o lado, vemos aflorar fenómenos de intolerância, de perseguição, de segregação, que julgávamos pertencerem a um passado que não queremos recuperar.
O generoso acolhimento prestado pela Suíça aos portugueses que aqui se fixaram ao longo dos tempos é um exemplo dessa abertura, que naturalmente muito prezamos.