Jantar oferecido em honra do Presidente da República Helénica

Palácio Nacional da Ajuda
02 de Dezembro de 1999


A presença de Vossa Excelência em Portugal é para mim motivo de grande satisfação. Como todos os portugueses, nutro pela Grécia e pela sua história e cultura uma profunda admiração, que remonta aos tempos da minha formação académica.
Aprendi então que na Grécia nasceu a Democracia, por cujos ideais me tenho norteado durante toda a vida; aprendi então que o moderno pensamento ocidental bebe directamente a sua inspiração nos grandes filósofos da Antiguidade Clássica; aprendi então, finalmente, que a Arte atingiu na Grécia Antiga um cume de perfeição inigualável. Em suma, a Grécia e a sua civilização fazem parte de todos nós – sem elas não seríamos o que somos e não pensaríamos como pensamos. “Por isso nos voltamos para a Grécia – não porque ela esteja aureolada pelo mítico prestígio de um passado glorioso – mas porque ela é para nós actualidade e exemplo”, escreveu a grande poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner.
A Grécia e Portugal, por outro lado, apesar de se situarem em extremos opostos do Sul da Europa, mantêm, desde há muito, sólidas relações de amizade e de cooperação, a que não serão alheios os inúmeros pontos de contacto existentes entre os dois países: nações de forte vocação marítima e com uma História marcada pelo contacto enriquecedor com outros povos e culturas, ambas se libertaram, quase simultaneamente, de regimes autoritários limitadores das suas potencialidades e ambas aderiram depois à União Europeia, encontrando ali um novo espaço de afirmação. Hoje em dia pertencemos ao mesmo quadro de alianças militares e económicas e partilhamos solidariamente os mesmos objectivos e valores.
Tudo se conjuga pois, Senhor Presidente, para que a visita de Vossa Excelência a terras lusas se revista de um especial significado para gregos e portugueses.
Excelência
Portugal assumirá, no primeiro semestre do ano 2000, a Presidência da União Europeia. São grandes os desafios que nos esperam. Tudo faremos para estar à altura deles.
Gostaria de destacar, em primeiro lugar, o alargamento, desígnio histórico que consideramos indispensável para a criação de um novo espaço europeu, mais próspero, mais unido e mais seguro. Portugal e a Grécia conhecem bem, por experiência própria, os benefícios que colheram da sua adesão ao processo de integração europeia. Como negar agora a outros a solidariedade de que beneficiámos ? Não obstante, teremos de proceder com rigor e exigência, tomando em consideração os méritos próprios de cada candidato e cuidando de preservar o grau de integração já conseguido.
Congratulamo-nos com a posição conciliatória e de abertura que tem vindo a ser adoptada pela Grécia neste domínio e acompanhamos com interesse e expectativa os desenvolvimentos positivos que, sob a égide do Secretário-Geral das Nações Unidas, se têm verificado no sentido de obtenção de uma desejável solução para a questão cipriota.
Caber-nos-à lançar durante a nossa Presidência uma nova Conferência Intergovernamental, cujo objectivo central será a reforma das instituições, designadamente na perspectiva do alargamento. Estou certo que os nossos dois países saberão unir os seus esforços para que esta Conferência possa, num prazo razoável, lograr os seus propósitos, conferindo às instituições comunitárias maior eficácia, mas preservando, também, os equilíbrios entre os Estados de maior e menor dimensão e o princípio da igualdade entre eles.
Dedicaremos particular atenção às relações externas da União, procurando reforçar o diálogo e a cooperação com os países da margem Sul do Mediterrâneo, de África e da América Latina. O desenvolvimento do diálogo no quadro da área mediterrânica, cuja importância estratégica para a Europa é manifesta, constituirá para nós uma prioridade e a ela dedicaremos várias iniciativas, nomeadamente de índole económica e social.
Participaremos ainda activamente, em estreita cooperação com a Comissão Europeia, na aplicação do Pacto de Estabilidade para o Sueste Europeu. A prevenção dos conflitos, a defesa dos valores que nos são comuns, o desenvolvimento económico e social e o combate à criminalidade organizada, assumem uma importância decisiva para aproximar esta região dos padrões europeus e diminuir os focos de instabilidade que nela persistem. Pelo prestígio e influência que goza, a Grécia continuará certamente a desempenhar neste desígnio um papel fundamental, tal como o fez durante o conflito do Kosovo, mantendo-se solidária com os seus aliados, em circunstâncias particularmente difíceis.
Uma palavra, por fim, para o Conselho Europeu Extraordinário sobre o Emprego, Reforma Económica e Coesão Social, que terá lugar em Lisboa, no próximo mês de Março. Trata-se de uma iniciativa na qual depositamos grandes esperanças, esperando-se que dela possam vir a resultar respostas mais eficazes e inovadoras para as actuais exigências em termos de emprego e inclusão social.
O processo de integração europeia é complexo e exigente. Requer por vezes dos seus participantes sacrifícios imediatos, que o esforço comum e o avanço da União tornam indispensáveis, mas que, a longo prazo, são compensados pelos níveis de prosperidade alcançados. Saudamos os corajosos esforços empreendidos pelo Governo grego para atingir os critérios de convergência de Maastricht e esperamos sinceramente poder contar, a breve trecho, com a participação da Grécia no Euro.
Senhor Presidente
Do ponto de vista político as relações bilaterais entre Portugal e a Grécia atingiram já um nível de excelência, o que constitui para nós motivo da maior satisfação e orgulho. Porém, do ponto de vista económico e cultural, muitas são ainda as potencialidades a explorar, para benefício mútuo e enriquecimento de ambas as Partes.
A visita de Vossa Excelência ao nosso país, coincide simbolicamente com a ocorrência de alguns factos encorajadores neste domínio. Refiro-me, em particular, à assinatura, que terá amanhã lugar, de um Acordo para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal, instrumento fundamental para o aprofundamento das relações económicas entre os dois países, bem como à constituição de uma parceria entre empresas gregas e portuguesas, iniciativa inédita que naturalmente seguimos com interesse e expectativa.
Estou pois certo, Senhor Presidente, que, também nas vertentes económica e cultural, as relações entre os nossos dois países não deixarão de estreitar-se, dando assim corpo às vontades que, nesse sentido, da parte de gregos e portugueses, se têm vindo crescentemente a afirmar.
Excelência
Na Grécia, Portugal encontra um país amigo e solidário, com que sabe poder contar nos momentos difíceis, na base de uma confiança recíproca, que se tem vindo a consolidar ao longo de anos de convivência comum nos mais diversos fora internacionais.
Quero aqui, neste âmbito, manifestar muito particularmente o meu apreço pelo corajoso e constante apoio desde sempre prestado pela Grécia à causa do povo de Timor Leste, o qual, após décadas de uma luta tenaz e à custa de indizíveis sacrifícios, começa finalmente agora a ver realizados os seus mais nobres desígnios.
A pouco mais de quinze dias da cerimónia que marcará a acessão de Macau ao estatuto de Região Administrativa Especial da República Popular da China, não poderia naturalmente deixar de me referir ao processo de transição daquele território, tão intimamente ligado a Portugal.Deixamos em Macau, Senhor Presidente, não um testemunho morto do passado, mas antes um legado dinâmico e voltado para o futuro. Estou seguro que Macau funcionará como um importante elo de ligação entre a República Popular da China e a União Europeia, aproximando assim da Europa aquele vastíssimo e rico país. No próximo dia 19, mais do que a encerrar um ciclo histórico, estaremos pois a iniciar uma nova e promissora era, o que constitui para nós motivo de particular orgulho e emoção.
Senhor Presidente
A presença de Vossa Excelência em Portugal, que muito nos honra, espelha bem a solidez da amizade que liga os nossos dois povos e Estados. Estou seguro que, unidos pelos mesmos ideais de uma Europa mais solidária e democrática, mais próspera e coesa, continuaremos a aprofundar a nossa amizade e a desenvolver e reforçar os fortes laços de cooperação existentes entre a Grécia e Portugal.
Peço-vos que me acompanhem num brinde pela saúde de Sua Excelência o Presidente Stephanopoulos, pela amizade entre gregos e portugueses e pelo progresso e desenvolvimento das relações entre os nossos dois povos e Estados.