Cerimónia de Inauguração do Instituto de Estudos Jornalísticos

Universidade de Coimbra
29 de Janeiro de 1997


Para quem, como eu, convive diariamente com a Comunicação Social, e pode por isso testemunhar a importante evolução registada nos novos níveis de formação dos seus profissionais, é com particular prazer que me encontro nesta Universidade na cerimónia de inauguração do Instituto de Estudos Jornalísticos.
Este curso, pela sua natureza, representa, aliás, uma importante inovação no contexto das licenciaturas existentes na área da Comunicação Social. Ao autonomizar o Jornalismo como área do saber a Universidade de Coimbra e este Instituto colmataram uma importante lacuna no nosso panorama universitário e abriram campo ao desenvolvimento de uma interessantíssima área de investigação.

Quero, por isso, felicitar esta Universidade, pelo facto de ter, já em 1993-94, lançado esta nova licenciatura, tal como quero testemunhar a todos os responsáveis do novo Instituto o meu estímulo e incentivo ao desenvolvimento do trabalho que aqui vão desenvolver.

Nos últimos trinta anos assistimos a uma transformação profunda no panorama do jornalismo. Quer porque se desenvolveram novos meios de comunicação, quer porque as sociedades se complexificaram. Ambos os factores de há muito vêm a apontar para a necessidade de novas formas de formação, seja de formação geral, seja de formação especializada.

Mas a importância que a comunicação social tem nas sociedades contemporâneas — quanto mais não seja pelo contributo fundamental que ela dá na percepção social das mudanças — confere à formação de jornalistas características particulares. A modernização do País depende em importante medida da percepção social das realidades nacionais e internacionais, da capacidade de receber, mas também de interpretar a informação que diariamente podemos receber.

A capacidade de adaptação à mudança é uma condição decisiva da modernização. Por isso o papel do jornalista tem hoje um impacto acrescido. Ninguém pode ignorar esta realidade. Por isso é tão importante, como já referi, que as Instituições compreendam a importância desse papel e apostem fortemente neste tipo de formação.

No panorama do Ensino Superior nacional este é um passo mais a acrescentar à importante evolução sofrida por este sector de ensino.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Portugal figura entre os países da União Europeia que registou, nas últimas décadas, um maior crescimento do ensino superior.

De entre todos os méritos dessa expansão — que tem também os seus problemas — creio que sobressai, claramente, a democratização do acesso, pois foi ela que criou novas oportunidades a milhares de jovens e novos pólos universitários que têm contribuído para a modernização e o desenvolvimento de Portugal. Esta é, sem dúvida, uma das importantes realizações da democracia portuguesa.

Vivemos hoje, a meu ver, um dos períodos mais promissores, quer no sector público, quer no sector privado e cooperativo. Mas, até por isso, este é também um momento onde se exige, a todos os agentes envolvidos, que as apostas a fazer sejam no sentido de um maior rigor e de uma maior exigência nesse grau de ensino.

Tenho plena confiança no seu futuro, mas, sobre ele, não vos escondo, devo manifestar também algumas preocupações. Existem grandes desafios quanto à generalização dos processos de avaliação já iniciados, que acredito poderão constituir factor decisivo para a qualidade pedagógica e científica.

Tal como existem algumas indefinições quanto à aplicação de necessários modelos de financiamento, pelo que julgo decisivo que se conclua, com sucesso, o processo de negociação sobre o modelo de financiamento do ensino superior.

Não creio, todavia, que a fase de crescimento esteja terminada.
Se quiserem atingir padrões europeus, no que diz respeito a níveis de formação, o crescimento terá de prosseguir ainda. Vivemos, porém, um momento de transição que exige que se repense o sistema que temos e que exige que se invista decisivamente na sua qualidade.

Temos perante nós uma realidade que não devemos ignorar. Temos que a avaliar com rigor e apostar na exigência. É o futuro de Portugal e dos Portugueses que claramente o exige.

As instituições de ensino superior não valem apenas pelas suas matérias curriculares, mas também pelo ambiente cultural e científico que proporcionam e pelo seu contributo na educação para uma cidadania activa. E foi também por isso que quis estar aqui.

É porque entendo que a disponibilidade que quis manifestar para participar num exercício prático de gravação de entrevista em estúdio de televisão, pode ficar como um gesto do Presidente da República no sentido de incentivar os principais agentes económicos, sociais, políticos e culturais a reforçar a sua interligação à universidade e a darem o seu contributo cívico à formação dos estudantes e à sua proximidade com os agentes sociais da realidade com que vão ter de se relacionar uma vez na vida activa.

A escola desempenha, neste sentido, um papel insubstituível.
A aposta na Educação, em geral, e no Ensino Superior, em particular, constitui, por isso, uma base essencial do desenvolvimento.