Visita à Universidade do Minho (Jornada de apoio à inovação e competitividade)

Braga
06 de Fevereiro de 1997


Tenho sublinhado, em diversos momentos desta jornada que consagrei ao tema da inovação e competitividade nas empresas, que o desenvolvimento económico tem muito a ganhar com uma ligação forte das empresas à investigação científica e tecnológica e, portanto, à actividade realizada em centros de pesquisa e universidades do País.
Sei que tem havido dificuldades nas ligações entre estes dois mundos e em diversos momentos essa questão aflorou de modo que eu próprio tomei a iniciativa de procurar obter mais esclarecimentos acerca das razões invocadas por ambas as perspectivas. Ontem mesmo, promovi um debate e uma troca de impressões entre protagonistas do mundo empresarial e do mundo universitário.

Creio que as linguagens que se privilegiam num e noutro nem sempre permitem uma comunicação fácil.

Será demasiado demorada, pelo menos na óptica dos homens das empresas, a resposta que as Universidades são capazes de dar aos problemas práticos que aqueles lhes colocam.

A instituição universitária, por sua vez, tende a conviver mal com as urgências do mundo empresarial, e alguns dos seus sectores rejeitam mesmo estas formas de colaboração, com o argumento — aliás muito respeitável — de que a vocação universitária para a investigação fundamental pode sair prejudicada com esta actividade pontual de prestação de serviços ao exterior.

E poderia enumerar outros factores de incompreensão e distanciamento entre as entidades em causa.

Estou convencido, no entanto, de que se trata de dificuldades francamente ultrapassáveis.

À medida que se for intensificando o relacionamento entre empresas e Universidades, mais diversificados e estimulantes serão os problemas que as primeiras colocam às segundas. Por outro lado, tornar-se-á mais fácil aos investigadores decifrarem e resolverem de forma criativa e realista as solicitações que o mundo empresarial lhes dirige.

Aliás, esta aproximação será tanto mais viva e enriquecedora, quanto mais se investir na criação de organizações de interface capazes de superar algumas inércias e resistências à mudança que as lógicas de funcionamento próprias de cada um dos sectores em presença inevitavelmente foram criando.

Confio em que o associativismo empresarial e interuniversitário constituído numa base regional permita aperfeiçoar e ampliar esta convergência de interesses e objectivos.

Há que contar, neste caminho em direcção a um melhor entrosamento da actividade científica com a economia e a sociedade, com dificuldades que radicam na própria configuração dos quadros culturais dominantes entre nós.

Sabe-se que são débeis os níveis de cultura técnica difundidos entre os cidadãos. A própria atitude experimental, tão importante para o despertar do gosto pela ciência, pelas tecnologias e, em última análise, pela inovação nos locais de trabalho, não tem tido a necessária expressão no sistema de ensino, sendo além disso escassamente estimulada pelos meios de comunicação com maior impacto.

Ora, está aqui, a meu ver, todo um espaço a explorar na perspectiva de um relacionamento estimulante entre as empresas e as Universidades.

Porque não hão-de conceber-se nestes dois pólos, em articulação com outros ramos de ensino, formas sistemáticas de aproximação dos mais jovens às realizações científicas e tecnológicas que vão surgindo, quer nos laboratórios das empresas ou dos centros de investigação universitários, quer junto aos próprios processos de trabalho concretos? Porque não organizar acções de divulgação científica dirigidas a todos os cidadãos e, em particular, aos mais jovens, fora dos esquemas formais e mais institucionais da sala de aula e mostrando que a ciência faz parte integrante da nossa vida quotidiana? E não será possível, com os meios audiovisuais disponíveis, garantir que essas experiências de divulgação científica obtenham difusão alargada junto das comunidades educativa e empresarial?

É um desafio que, com todo o empenhamento, aqui vos deixo.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Não quero terminar sem voltar a referir-me ao tema geral desta semana de contactos no País.

Inovação e Competitividade são, como disse, as expressões adaptadas para, em fórmula breve, definir os contornos das questões que nesta altura quis trazer à discussão pública.

Gostaria de acrescentar que, não obstante toda a importância que atribuo àquelas duas ideias mobilizadoras, não as entendo como um fim em si mesmas.

Inovação tecnológica e competitividade empresarial devem ser vistas sempre em relação com o grande desígnio do desenvolvimento, e este tem de ser reportado não apenas a uma componente de crescimento económico, mas ao aperfeiçoamento global das condições de existência dos homens e mulheres concretos que, dia-a-dia, vão forjando o sentido da História.

Sabem VV. Ex.as que sempre pugnei por um rumo solidário para o desenvolvimento do País. Inovação e competitividade serão então, para mim, dois vértices de um triângulo que se fecha com um terceiro ponto: o do desenvolvimento solidário, em que cooperação, tolerância e participação cívica não sejam palavras vãs.