Sessão Comemorativa da Declaração do Centro Histórico do Porto como Património Mundial

Câmara Municipal do Porto
14 de Dezembro de 1996


E´ com particular prazer que estou convosco a celebrar o reconhecimento do centro histórico do Porto como Património Mundial. É que esse estatuto não honra apenas o Porto. É Portugal, no seu conjunto, que se reconhece no valor do património que é distinguido com esta classificação. É Portugal, no seu conjunto, que se comove com a honra conferida. É Portugal, no seu conjunto, que sente e partilha a responsabilidade de continuar empenhadamente este país onde a história se impõe por toda a sua riqueza.
O Porto junta-se assim às cidades de Angra do Heroísmo, Évora e Sintra, outros tantos testemunhos de um riquíssimo património, de uma história feita de diversidade, de tradições distintas, continente e ilhas, o Sul e o Norte, tradições árabes e expansão atlântica, o romantismo de Sintra e a antiguidade de onde «houve nome Portugal».

Tudo isto somos nós. A nossa unidade enquanto povo, a nossa coesão nacional, dependeram sempre da capacidade de integrar a diversidade. De construir a história integrando novos povos, novas culturas, outras tradições, outros custumes, assimilando e não excluindo, procurando descobrir o outro e não encerrando-nos em localismos. Foi isso que forjou a nossa unidade, que construiu a nossa visão humanista do mundo e que fez de nós um povo cosmopolita.

Hoje, como sempre, a viabilidade de Portugal depende da capacidade de nos mantermos unidos como povo. Foi assim que fizemos grandea nossa história. É por ela que temos centros históricos reconhecidos como Património da Humanidade. Respeite-se, por isso, o pluralismo e a diversidade, cultive-se a identidade distintiva. Mas nada, nunca, pode pôr em causa a unidade de Portugal.

Por isso, quis ter aqui, connosco, todos os Presidentes de Câmara que viram as suas cidades distinguidas pela riqueza do seu património e pela qualidade do trabalho de preservação que nelas foi feito. Se o estatuto de Património Mundial é conferido individualmente a cada uma delas é, todavia, o País que se engrandece com esse reconhecimento e que, através do prestígio assim granjeado, melhor afirma a nossa história perante as novas gerações de portugueses e mais facilmente se projecta internacionalmente.

A todos quero expressar o reconhecimento do Presidente da República pelo trabalho que têm feito em defesa do notável património nacional e mundial que está à vossa guarda. Bem hajam pela obra feita.

Senhor Presidente da Câmara Municipal,

Há escassas semanas, nesta mesma sala, onde V. Ex.ª solenemente me recebeu, tive ocasião de sublinhar o grande trabalho que esta Câmara vinha desenvolvendo para alcançar o estatuto que agora tão justamente lhe foi conferido. Hoje, é o momento de felicitar V. Ex.ª pelo sucesso desse trabalho. E ao fazê-lo quero tornar extensível essas felicitações a todos aqueles — e sei que são muitos — que garantiram as condições para que este justo desejo se tornasse realidade.

Este momento, todavia, não é um ponto de chegada. Pelo contrário, como V. Ex.ª tão bem sabe, é como um começo. À sombra deste estatuto nenhuma cidade pode adormecer.

É, assim, preciso reconhecer a necessidade de encontrar os meios possíveis para garantir a continuidade do trabalho feito nos núcleos classificados com Património Mundial nos quatro concelhos.
É que este estatuto confere uma responsabilidade nacional acrescida à defesa desse património. O sucesso desse trabalho depende, por isso, do empenho do Governo, da Autarquia e dos privados. Todos são necessários para garantir a vitalização dos centros históricos. A todos deixo o meu apelo a que se reúnam os esforços e meios necessários para continuar a obra já feita.

Se há trabalho que sei ser fascinante é este: aprofundar a recuperação de uma zona histórica, procurar o equilíbrio, tão difícil, entre a revitalização do património e a tradição e as sociabilidades das pessoas que são parte da vida desse património.

Aqui lhe deixo, Sr. Presidente, sem me querer alongar mais em considerações, o meu incentivo para a continuação do trabalho que a Câmara tem feito neste domínio. A cidade do Porto ganhou um estatuto que é um novo cartão-de-visita para Portugal.

A minha presença aqui serve como testemunho da República ao esforço daqueles que pelo seu trabalho permitiram que Portugal tivesse recebido, através da Cidade do Porto, um título que faz justiça à nossa história e que nos honra a todos.

Viva o Porto!

Viva Portugal!