Exposição "Mostra do Redescobrimento"

Brasil
23 de Abril de 2000


A palavra que vem aos nossos espíritos, natural e espontânea, perante esta monumental Mostra do redescobrimento é admiração, admiração profunda e imensa.

Admiração, desde logo, por este magnifico acontecimento cultural, realizado num espaço de tantas tradições e de tantas inovações, com recurso às mais avançadas técnicas de exposição e às mais pioneiras tecnologias de comunicação.

Ao querer mostrar o Brasil ao Brasil e ao Mundo, redescobrindo-o, esta Mostra sintetiza séculos de cultura, de criatividade, de realizações. Das descobertas arqueológicas à música electrónica, das culturas pré-coloniais à arte moderna e contemporânea, das artes populares e indígenas à herança barroca, do real ao imaginário, do passado ao futuro – tudo pode ser visto, porque tudo é mostrado com uma atitude assumidamente crítica, indagadora, prospectiva.

Depois, é também admiração o que sentimos pelo Brasil aqui revelado. Admiração por este país imenso e riquíssimo, feito de muitas culturas, de muitas gentes, de muitas influências, um país aberto ao mundo, lugar de cruzamento de civilizações. Se há pais que conseguiu construir a sua identidade de uma forma dinâmica, multicultural e cheia de plasticidade, esse país é o Brasil.

Nesse sentido, o Brasil é um país de enorme modernidade, um país do futuro, como lhe chamou o grande Stefan Zweig, pois as suas características – o multiculturalisno e a diversidade – são as do mundo do milénio que está a nascer. Essa é também a grande lição desta Mostra: evidenciar a grande criatividade da cultura brasileira, o seu extraordinário impulso para a novidade, para o sincretismo e para a invenção.

A admiração que sentimos pelo País, junta-se a admiração que temos pelo seu Povo. Ele é o garante e o sujeito desta prodigiosa construção que é o Brasil. Com a sua energia contagiante e a sua imaginação, o seu sentido do universal, o Povo brasileiro antecipa o futuro, tendo feito sempre da adversidade uma oportunidade para se recriar.

Portugal tem muita honra em está presente nesta Mostra, actualizando o diálogo que tem a sua matriz fundadora nesse texto único que é a Carta de Péro Vaz de Caminha. Desde então, esse diálogo não mais deixou de prosseguir. As comunidades de cada um dos nossos países que vivem no outro são desse diálogo o sinal mais vivo e permanente, o traço que nos une quotidianamente.

Como tenho dito, estas comemorações dos 500 anos da chegada dos portugueses a Porto Seguro têm de marcar uma nova era nas nossas relações, que devem ser refundadas na modernidade, na eficácia, no dinamismo.

Cooperamos, temos projectos e iniciativas em comum não porque a isso somos obrigados por qualquer fatalidade da História, mas por tal representar, no presente, um acto livre e assumido de vontade.

Há quase oitenta anos, num discurso que teve então uma grande projecção, o então Presidente da República Portuguesa, António José de Almeida disse, no Brasil, estas palavras memoráveis: “Não tenho dúvida em lhes dizer que estou aqui, em nome de Portugal, para agradecer aos Brasileiros o favor que eles nos prestaram, a nós, proclamando-se independentes no momento em que o fizeram”.

De facto, nesse momento, a liberdade do Brasil ficou indissoluvelmente ligada à liberdade de Portugal. Queremos que a modernidade dos nossos dois países, agora livres e democráticos, também se ligue, em projectos duradouros, dos quais o primeiro é a valorização da língua em que manifestamos mutuamente a nossa amizade e expressamos a vontade de, também nós, nos redescobrirmos neste ano 2000.

Imagem do Brasil, nesta grande Mostra, encontram-se o mais antigo e o mais moderno, o próximo e o distante, o concreto e o sonhado, o idêntico e o diverso. Cruzam-se técnicas que têm muitos milénios e tecnologias que têm apenas meses.Misturam-se a arte e a vida, a natureza e a cultura, a memória e as aspirações, as responsabilidades e a festa.

Penso que este é o lugar certo para dizermos que, se há quinhentos anos, o nosso encontro foi pioneiro da globalização do Mundo, devemos agora aproveitar esta globalização para nos aproximarmos de novo. Reafirmamos, por isso, a certeza de que os laços que unem o Brasil e Portugal, não são apenas os do passado, porque já são os do futuro. As novas gerações estão aí para dar disso testemunho.