Concedeis-me uma honra que assumo desde já como uma responsabilidade: a presidência honorária desta casa, já conferida a antecessores meus na chefia do Estado de Portugal, significa uma partilha do vosso empenhamento na elevada missão que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, desde a sua fundação em 1838, se propôs levar a cabo. Essa missão de estudo e de pesquisa tem que ver com a própria identidade nacional brasileira, com as mais fundas raízes do Brasil. Não é, pois, sem consequências a atribuição desta honra ao Presidente da República de Portugal. Que significado atribuir a este gesto, para além da vossa generosidade e gentileza, que fazem parte da alma da gente brasileira?

O conhecimento do passado é a pedagogia do presente. Desde a sua fundação que o trabalho deste Instituto tem contribuído para a formação da consciência nacional e da cidadania dos brasileiros. Se no passado era necessário consolidar a própria consciência do Brasil como Nação, hoje é ao reforço da cidadania e da coesão social que o trabalho do historiador vem trazer um contributo imprescindível, sem afectar a independência e a isenção do seu trabalho científico. Portugal tem uma história em comum com o Brasil. A compreensão do Brasil passa pelo conhecimento da história de Portugal – mas a compreensão de Portugal passa também pelo conhecimento da história do Brasil. Cada vez mais esta evidência atravessa os nossos estudos de ciências históricas e sociais. Conhecendo-nos um ao outro conhecemo-nos melhor a nós mesmos.

Porque afinal caminhámos alguns séculos juntos. Tal é o significado da honra que me atribuístes: vindes dizer a Portugal que a vossa identidade de brasileiros se encontra sempre com a nossa identidade de portugueses, não por mera filiação ou acaso de origem, mas porque o diálogo que continuamos e o confronto que renovamos entre as nossas duas nações alarga a consciência das nossas raízes e a confiança no nosso futuro.