Declaração Feita no Dia da Atribuição do Prémio Nobel da Paz 96 a Dom Ximenes Belo e ao Dr. Ramos Horta

Porto
11 de Outubro de 1996


Quero felicitar, em meu nome e em nome de Portugal, o senhor Bispo de Díli, Dom Ximenes Belo e o doutor José Ramos Horta pela atribuição do Premio Nobel da Paz. Faço-o com uma viva emoção e com um sentimento profundo de esperança.
Dom Ximenes Belo tornou-se o símbolo, hoje internacionalmente reconhecido, da luta heróica do povo mártir de Timor-Leste pelos seus direitos inalienáveis. Figura ímpar da Igreja Católica, o bispo de Díli deu sempre o seu testemunho frontal na defesa dos valores da dignidade da pessoa humana, da liberdade e da solidariedade, à frente da comunidade timorense. A sua coragem é um exemplo para todos nós e uma mensagem de esperança no futuro de Timor-Leste.

O doutor Ramos Horta, lutador incansável da causa timorense, levou a voz de um povo oprimido e isolado aos quatro cantos do mundo, em nome da Resistência timorense e do comandante Xanana Gusmão, preso em Jacarta. A sua abnegação, a sua persistência foram de grande importância para manter viva a causa timorense nos fora internacionais, na defesa intransigente do direito de autodeterminação do povo de Timor-Leste.

Quero felicitar também o Comité Norueguês do Nobel pela sua decisão, que prestigia o Prémio Nobel da Paz. A escolha do Comité Nobel realça os esforços de Dom Ximenes Belo — com o risco da sua própria vida — e de Ramos Horta na sua defesa dos direitos de um povo peComité Nobel exprime os seus votos de que a atribuição do prémio estimulará os esforços para encontrar uma solução diplomática, justa e pacífica para o conflito em Timor-Leste no respeito pelo direito à autodeterminação do povo timorense. São referências muito importantes para Portugal e para Timor--Leste.

Este é um dia muito especial para o povo de Timor-Leste e para todos os portugueses. Um dia de alegria, de esperança e de confiança.

A atribuição do Prémio Nobel da Paz a Dom Ximenes Belo e a José Ramos Horta significa, desde logo, o reconhecimento internacional da figura excepcional do Bispo de Díli, que se tornou uma referência obrigatória na luta universal pelos direitos humanos, bem como da Resistência timorense, na pessoa do seu representante no Exterior.

Esse reconhecimento, por sua vez, reflecte e reforça a importância da causa timorense para a opinião pública internacional.
O Prémio Nobel da Paz significa que os Timorenses não estão sozinhos e a sua resistência constante contra uma brutal opressão e a sua luta pela autodeterminação prolongam-se num movimento de solidariedade sem fronteiras. A causa timorense tornou-se uma grande causa internacional.

Portugal e os Portugueses nunca desistirão de lutar em defesa dos direitos da comunidade timorense. Portugal continuará a lutar por uma resolução justa da questão de Timor-Leste, em cooperação com o Secretário-Geral das Nações Unidas, no cumpriqueno e oprimido. Além disso, omento do mandato que lhe foi conferido pela comunidade internacional. Portugal continuará a defender, intransigentemente, o exercício livre e democrático do direito à autodeterminação de Timor-Leste, sob supervisão internacional.

É esse o nosso dever, como potência administrante de Timor-
-Leste, reconhecida como tal pelas Nações Unidas. É esse o nosso compromisso solene, em nome dos vínculos indestrutíveis que nos unem aos Timorenses.

Estou convicto de que o dia da liberdade em Timor-Leste está cada vez mais perto.