Jantar em Honra do Prémio Nobel da Paz 96, Dr. Ramos Horta

Palácio de Belém
28 de Outubro de 1996


A atribuição do Prémio Nobel da Paz a D. Ximenes Belo, Bispo de Díli, e ao doutor José Ramos Horta, representante da Resistência Timorense, marca uma viragem histórica na longa luta do povo mártir de Timor-Leste pela sua liberdade.
O Prémio Nobel assinala o reconhecimento internacional da causa timorense, que se tomou uma referência obrigatória para todos os movimentos empenhados na defesa dos valores universais da liberdade e dos direitos humanos.

Submetidos a um regime de ocupação opressivo e brutal, os Timorenses não estão sozinhos. A sua resistência heróica, simbolizada na figura ímpar do Bispo de Díli e pelos dirigentes políticos da comunidade timorense — entre os quais quero destacar o comandante Xanana Gusmão, preso em Jacarta, e o seu representante pessoal, José Ramos Horta — adquiriu uma impressionante projecção internacional e conta com o apoio crescente de um vasto movimento de solidariedade.

Perante a opinião pública internacional, é o regime autoritário indonésio que se encontra cada vez mais isolado, condenado pela sua violação permanente dos direitos da comunidade timorense: o tempo corre a favor de Timor-Leste.

Para Portugal e para os Portugueses, esta viragem histórica é um motivo adicional de confiança e um estímulo para consolidar a linha de firmeza nos princípios, que caracteriza a nossa acção na questão de Timor-Leste.

A nossa posição é clara: Portugal não desistirá de lutar pelo exercício livre e democrático do direito de autodeterminação do povo de Timor-Leste. É essa a nossa primeira obrigação, perante os Timorenses e perante a comunidade internacional. Como é óbvio, aceitaremos sem hesitação a decisão soberana da comunidade timorense sobre o seu futuro, desde que resulte de um acto válido de autodeterminação. Entendi ser este o momento adequado para exprimir o profundo reconhecimento de Portugal e dos Portugueses pelas qualidades excepcionais de coragem e de abnegação que o Bispo Ximenes Belo e José Ramos Horta demonstraram na sua luta exemplar pela liberdade e pelos direitos do povo de Timor-Leste, e atribuir a ambos a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Este gesto é penhor da nossa solidariedade e representa o nosso compromisso solene para com a causa timorense.

Peço a todos que me acompanhem num brinde ao Bispo Ximenes Belo e ao doutor José Ramos Horta, que muito nos honra com a sua presença, neste dia de esperança num futuro de paz e de liberdade para os Timorenses.