Sessão de Abertura da Conferência Internacional "Bibliotecas Públicas: Inventando o Futuro"

Centro Cultural de Belém
11 de Maio de 2000



A minha presença nesta Conferência Internacional traduz o meu muito interesse pelos temas que aqui vão ser tratados e a grande importância que lhes atribuo. Como é reconhecido, com felicidade, no programa dos vossos trabalhos, esses temas têm, naturalmente, um âmbito cultural, mas o seu alcance é também cívico.

"Bibliotecas Públicas: Inventando o Futuro" - é este o lema geral da reunião, que tem, penso, uma dupla leitura. Significa, desde logo, inventar o futuro das bibliotecas, fazendo-as participar na espantosa revolução tecnológica da informação e da comunicação que estamos a viver e cujos efeitos, tão surpreendentes, não conseguimos ainda avaliar em toda a sua extensão.


Mas o lema da Conferência significa também inventar o futuro das nossas sociedades, dando à cultura um lugar central, conscientes como estamos de que, tanto ou mais do que os níveis económicos, é a formação cultural, educativa e científica que determina o futuro dos indivíduos e dos países. Sabemos que o grande investimento deve ser feito na formação permanente das pessoas, habilitando-as a enfrentar as mudanças e tornando-as aptas à criatividade que os novos desafios exigem.

As bibliotecas públicas constituem espaços de sociabilidade, de animação cultural, de abertura e são centros que cumprem várias e importantes funções culturais e sociais. Nessa medida, dão um contributo muito positivo para assegurar a igualdade de oportunidades e combater a exclusão, de que uma das formas que se vem afirmando como mais grave é a exclusão da informação e do conhecimento.

As bibliotecas públicas dão possibilidades de aceder à informação disponível e actualizada, envolvendo todas as gerações, desde as mais jovens às mais idosas, e propiciando a coexistência de funções tradicionais com a utilização dos novos recursos tecnológicos.

Visando todas as gerações, todos os públicos, todas as regiões, uma rede de bibliotecas contribui decisivamente para a democratização do acesso à informação e para a descentralização cultural, uma vez que, como serviço público, assegura a gratuitidade.


Pelo seu alcance universal, que a Internet tornou mais efectivo e mais instantâneo, e pelo seu enraizamento local, que deve cada vez mais ter um carácter interactivo, as bibliotecas ajudam a assegurar a diversidade, o pluralismo de interesses e de perspectivas, o espírito crítico e a consciência dos problemas do nosso tempo.

Favorecem também a intervenção dos cidadãos na vida pública, contribuindo para quebrar o isolamento, e tornando disponível uma informação que, pela análise, pela reflexão e pela sua contextualização, se pode transformar em conhecimento, em cultura, em participação.


A experiência portuguesa é, nesta matéria, muito significativa. O modelo de parceria entre o Estado central e as autarquias locais criou uma dinâmica duradoura e tem proporcionado a instalação de uma rede nacional de bibliotecas públicas, que tem como objectivo a cobertura de todos os concelhos do País.

Os índices existentes e que decerto irão ser aqui ponderados, permitem concluir que a instalação desta rede aumentou os hábitos de leitura, tornando não apenas acessível, mas pondo verdadeiramente em uso uma informação mais vasta e actualizada.


Penso que a Europa que queremos construir - a Europa da cultura de que falaram os fundadores há cinquenta anos - tem de fazer das infra-estruturas culturais uma prioridade, pois são elas que, num tempo de globalização da cultura e das industrias culturais, garantem a ligação de qualquer pessoa, encontre-se onde se encontrar, ao progresso e à evolução.

Esta Conferência reúne e técnicos de muitos países e é uma boa ocasião para um debate sobre as várias experiências. Desejo o maior êxito aos vossos trabalhos, felicito os organizadores e saúdo todos os presentes. A democracia portuguesa tem muita honra em acolher os participantes que vêm de fora. Sejam bem-vindos!


A todos, portugueses e estrangeiros, quero dizer-vos: sei que o vosso esforço, a vossa acção e as vossas preocupações estão ao serviço da cultura e participam do combate pela universalização dos bens criados pelos homens e de que nenhum ser humano deve ser excluído. Quero, por isso, agradecer-vos, incentivando a que prossigam o vosso trabalho e o vosso esforço.

Em todas as civilizações, as bibliotecas têm representado o tesouro do saber e da experiência humana acumulados, a sua preservação e a sua transmissão de geração em geração. Dêmos consistência a esse simbolismo e reconheçamos nele a nossa responsabilidade actual - responsabilidade de respondermos aos desafios do presente, contribuindo, assim, para inventar um futuro melhor, mais esclarecido e com menos exclusões.