Sessão Solene de Inaugruação da Fundação Eça de Queiróz Casa de Tormes

Baião
25 de Novembro de 1997


Há exactamente um ano, estivemos em Paris para homenagear Eça de Queiroz em dois actos de grande significado que encerraram as comemorações dos 150 anos do seu nascimento.
Com a presença das autoridades francesas, inscrevemos uma marca em sua memória na casa da Rua Charles Lafitte, em Neully, onde o escritor viveu, escreveu, recebeu amigos e figuras da cultura e da qual guardou uma recordação muito agradável.
Assinalando o lançamento da nova edição francesa de “Os Maias”, evocou-se Eça na sede da Unesco, lembrando a sua visão aberta ao futuro, a preocupação com as questões do seu tempo, a denúncia da injustiça e da opressão, o seu espírito cosmopolita.
Reunimo-nos hoje, de novo, alguns dos que estivemos em Paris e muitos outros, estudiosos e admiradores do grande romancista, para inaugurar oficialmente a Fundação Eça de Queiroz. Fazêmo-lo nesta casa e nesta terra tão belas, a que ele esteve ligado pela vida e pela obra. Tal ligação constituiu-se mesmo como um símbolo do seu amor à terra portuguesa.
Esta é uma inauguração invulgarmente feliz. De facto, ao contrário do que tantas vezes é costume, a Fundação já tem obra feita e provas dadas. O prestígio e o número de professores e especialistas envolvidos na sua acção garantem, desde logo, a sua elevada qualidade científica e cultural.
Projectos como este precisam, para se concretizarem e crescerem, de energia quotidiana, determinação inquebrantável, trabalho, devoção e entrega entusiástica.
Estes atributos tem-nos a ilustre Presidente Vitalícia do Conselho de Administração, Senhora D. Maria da Graça Almeida Salema de Castro, que é a responsável pela existência da Fundação e a sua incansável dinamizadora. O seu exemplo de dedicação merece ser apontado e enaltecido. Com ele, dá, aliás, seguimento à vontade de seu marido e de sua sogra a filha do escritor.
A minha presença aqui, para além da homenagem renovada a Eça, representa também a expressão de reconhecimento à Senhora D. Maria da Graça e a todos - pessoas e instituições - que com ela têm colaborado para levar esta obra por diante.
Quero que constitua ainda um testemunho empenhado de apoio e estímulo.
O que já foi feito e o muito que se quer fazer, os princípios orientadores e os objectivos a alcançar demonstram bem que a Fundação foi pensada em termos modernos e inovadores, como um projecto dinâmico, aberto, ligado às pessoas e à terra, interdisciplinar e interactivo que a si próprio se renova e acerta de acordo com as necessidades e as exigências. Os seus responsáveis estão conscientes de que a melhor maneira de defender e valorizar o extraordinário património queirosiano é pôr em evidência a sua extraordinária riqueza e actualidade.
Divulgar, estudar, editar, dar a conhecer a obra de Eça de Queiroz é falar para - é, às vezes, do - nosso tempo. Disso é sinal o interesse renovado das sucessivas gerações de jovens que descobrem os romances de Eça com um fascínio ímpar.
Neste dia e nesta casa, lembremos o genial escritor que deu à língua portuguesa uma nova vitalidade, o romancista que criou tipos e personagens inesquecíveis, o cidadão do Mundo preocupado com a sorte da humanidade e com o seu progresso material e moral.
Tenhamos presente o seu amor a Portugal, mesmo ou sobretudo quando denunciava, pela ironia, os vícios, os erros, os atrasos, as inércias, fazendo-o com sentido crítico lucidíssimo e impulso reformador. A obra de Eça de Queiroz representa, a essa luz, a expressão de uma grande ambição para Portugal.
A Fundação Eça de Queiroz é um exemplo de iniciativa da sociedade civil e de descentralização cultural. Estou certo de que contribuirá, com a sua acção, para que, como queria Eça, Portugal seja, com o esforço de todos, um país de maior modernidade e cultura.