Cerimónia de Lançamento do Livro "Timor Leste Nobel da Paz"

Assembleia da República
14 de Março de 1997


Quero começar por agradecer o convite para estar presente no lançamento da edição portuguesa dos discursos da cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Paz ao Bispo D. Carlos Ximenes Belo e ao Dr. José Ramos Horta.
Desejo também cumprimentar o Senhor Presidente da Assembleia da República que, em boa hora, abriu as portas desta casa para a apresentação deste volume.
É um gesto revelador da importância nacional da causa de Timor-Leste, que merece um consenso claro e constante do conjunto das forças políticas portuguesas representadas na Assembleia da República.
E, naturalmente, estão de parabéns os editores portugueses, que tão prontamente se empenharam na publicação destes discursos, para a qual tive o privilégio de poder contribuir, sem pretensões, com um breve prefácio, por sugestão dos editores e com a concordância dos laureados, que muito me honrou. Estou certo de que a sua iniciativa merecerá a melhor resposta do público português.
É impossível exagerar a importância da atribuição do Prémio Nobel da Paz para a consagração da causa timorense como uma grande causa internacional, que mobiliza, cada vez mais, a opinião pública e os movimentos democráticos, por toda a parte.
A atribuição do Nobel da Paz é uma homenagem à causa de Timor-Leste, na pessoa do Bispo de Dili, que se tornou o seu símbolo universal, e de José Ramos Horta, dirigente, desde a primeira hora, da resistência timorense.
A escolha do Comité Nobel da Paz foi exemplar, bem com os seus termos de referência, que referem o empenho na procura de uma solução diplomática justa da questão timorense, assente no reconhecimento do direito de autodeterminação, como um direito inalienável do povo de Timor-Leste.
A atribuição do Prémio Nobel da Paz a D. Carlos Ximenes Belo e a José Ramos Horta é também uma lição. Desde logo, uma lição de confiança na resistência extraordinária do povo heróico de Timor-Leste, que nunca desistiu de lutar contra a opressão e a usurpação dos seus direitos. É ainda uma lição de firmeza dos princípios, nomeadamente em relação à defesa do direito da autodeterminação. Finalmente, espero que seja uma lição para os pessimistas, que nunca desistiram de qualificar a questão de Timor-Leste como uma causa perdida.
Tive a honra de ser convidado por ambos os laureados para assistir à cerimónia de Oslo. Foi um momento inesquecível, e não escondo que me emocionou profundamente. Os três discursos - do Presidente do Comité Nobel da Paz, do Bispo de Dili e do Dr. Ramos Horta - foram, todos, intervenções notáveis, de grande elevação e da maior importância política.
Essas intervenções confirmam, no essencial, a justeza da posição portuguesa em relação à causa timorense. Portugal não tem quaisquer interesses em Timor-Leste : o seu único propósito é garantir o respeito pelo direito internacional e contribuir para resolver a questão timorense, designadamente num quadro de cooperação com o Secretário-Geral das Nações Unidas. O nosso objectivo resume-se a assegurar uma fórmula pacifica e democrática para a resolução dessa questão, através do livre exercício do direito de autodeterminação do povo de Timor-Leste, e a defender os direitos humanos da comunidade timorense, constantemente violados pelo brutal regime de ocupação militar indonésio.
A nossa firmeza nas questões de principio é reconhecida e valorizada por todas as partes. Mas, sobretudo, é importante constatar esse reconhecimento por parte da própria comunidade timorense, na pluralidade das suas forças e correntes políticas.
Pela minha parte, tudo farei para continuarmos a merecer a confiança da comunidade timorense, à qual nos unem obrigações imprescritíveis e vínculos históricos inquebráveis.