Almoço oferecido pela Comunidade Portuguesa em Brasília

Clube Português de Brasília
07 de Setembro de 1997


É bom estar aqui convosco. É bom poder contribuir com a minha presença para estreitar uma relação que une, indelevelmente, todos os portugueses, estejam onde estiverem, ao seu país de origem.
Quaisquer que tenham sido as razões que vos levaram a deixar o país, Portugal não vos abandona nunca. Pela lei do sangue vocês são portugueses e sei que têm nisso orgulho. Pela lei da vida são Comunidades no estrangeiro e sei que por isso têm saudade da vossa terra, das famílias e amigos que por lá ficaram. Portugal não vos esquece. A Nação Portuguesa é feita de todos vós.
A Comunidade portuguesa no Brasil é uma Comunidade muito especial, não apenas, nem tanto, pela sua dimensão, mas, principalmente, pela antiguidade da sua presença neste lindíssimo país.
Muitos dos portugueses que aqui vivem, já não são nem a primeira, nem a segunda, nem mesmo a terceira geração que aqui nasce, vive e trabalha, que escolheu o Brasil como país adoptivo mas não esquece Portugal como raiz da sua identidade.
A todos vós, quer aos que há pouco aqui chegaram, quer aos que há décadas aqui vivem com as suas famílias, quero deixar um sinal inequívoco da importância e amor que Portugal atribui e tem pelas suas Comunidades.
Nem todos têm a mesma ligação a Portugal. Uns ainda vivem de perto a evolução do seu país e contactam com maior frequência família e amigos. Outros, como é natural, sentem-se já mais envolvidos na vida deste país onde constituíram há muito as suas famílias.
Qualquer que seja a proximidade da ligação que têm a Portugal, não serei eu que vos discriminarei. Para mim são todos iguais na sua ligação com a Nação a que pertencem. Para mim todos fazem falta à manutenção e consolidação do sentimento nacional.
O Brasil é, aliás, um país onde é fácil a vossa integração. A barreira da língua não existe. É grande a comunidade que pode dar apoio aqueles que aqui chegam pela primeira vez e ampla a legislação que permite a integração na sociedade brasileira.
Esse é o caminho que creio que se deve seguir. Pela minha parte, não deixarei nunca de ter presente que a moldura legal de enquadramento das comunidades emigrantes, num e noutro país, deve estar em permanente evolução e aperfeiçoamento, fazendo com que sejam cada vez maiores os mecanismos de integração social, tal como nunca deixarei de ter presente a importância da reciprocidade dos desenvolvimentos legais que se venham a acordar.
Sou um defensor convicto do princípio da reciprocidade, porque também, em Portugal, é importante que os brasileiros que entre nós procuram viver recebam oportunidades acrescidas de integração na nossa sociedade e país.
O Brasil é para os portugueses um país de acolhimento fraterno. Essa tem sido uma das suas características imutáveis aos longo dos tempos e que faz com que aqui aportem gerações sucessivas de portugueses. Quer aqueles que aqui procuram uma melhor oportunidade para a sua vida, quer aqueles que ao longo dos tempos aqui se refugiaram por razões políticas, fossem elas de direita ou de esquerda. A todos, sem excepção, o Brasil recebeu de braços abertos. E vocês podem disso dar um testemunho vivo.
É, por isso, tão importante que agora que um número crescente de Brasileiros nos procura, para entre nós viver, que eles sintam a mesma disponibilidade que nós aqui sempre encontramos para ser recebidos.
Também aqui um novo ciclo se abre, em ambos os países. As Comunidades procuram já de forma clara, e incentivo-as a que o façam cada vez mais, estruturar formas modernas de organização, de articulação entre si e de inserção social. As grandes transformações sociais e tecnológicas estimularam e permitem esse trabalho. Dele nascerá uma nova realidade que ancorada no trabalho que ao longo de décadas se fez será o esteio do suporte humano das relações luso-brasileiras, onde os luso-descendentes desempenham um importante papel.
É esse, também, o sentido da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que os sete Estados fundaram no ano passado. Ou seja, uma Comunidade fundada não apenas na língua, mas principalmente na fraternidade e nas profundas relações que ao longo do tempo os povos estabeleceram entre si.
Meus amigos,
As comunidades portuguesas são um importante elemento da Nação portuguesa. A sua presença, em tantos países do Mundo, consolida relações particulares entre Portugal e esses países e constitui-se, neste sentido, num importantíssimo elemento de presença e influência de Portugal no Mundo.
Mas do mesmo modo que, um pouco por todo o lado, se aprofundam os elementos de integração nos países que escolheram para viver, as Comunidades encontram sempre da parte de Portugal a vontade de reforçar os elementos de ligação permanente á vida do nosso país.
É esse o sentido das alterações constitucionais votadas pela Assembleia da República no quadro da revisão constitucional que acabo de promulgar. Ao ampliar os direitos políticos das Comunidades Portuguesas, tendo em conta a existência de laços de efectiva ligação à comunidade nacional, Portugal procura dar um sinal da importância que para si continuam a ter aqueles que queiram e estejam em condições de acompanhar a vida nacional e queiram assim, através da sua presença nas urnas de voto, compartilhar com os portugueses residentes no território nacional os destinos de Portugal.
Meus amigos,
A Comunidade Portuguesa é o elo de união entre os dois países, o elemento constante de uma secular relação que vocês, geração após geração, fazem perdurar. Portugal orgulha-se de todos vós. Eu orgulho-me de vós. Viva Portugal !