Sessão de Encerramento da VII Cimeira Ibero-Americana

Isla Margarita - Venezuela
09 de Novembro de 1997


É para mim extremamente gratificante ter a honra de participar no encerramento desta VII Cimeira Ibero-Americana.
Ao longo dos últimos três dias, mantivemos um diálogo franco e aberto sobre importantes temas de interesse comum, reforçámos laços de amizade e cooperação, alargámos horizontes e desfrutámos de um convívio sempre fraterno e solidário.
Em meu nome pessoal, em nome da delegação do meu país e interpretando, estou certo, o sentir de todas as delegações aqui presentes, quero dirigir a Vossa Excelência, Senhor Presidente Rafael Caldera, uma viva e sincera palavra de agradecimento pela forma entusiasta e empenhada com que o seu país soube preparar e organizar a Cimeira que agora solenemente se encerra.
Quero também, através de Vossa Excelência, expressar ao Povo venezuelano um emocionado agradecimento pela calorosa hospitalidade que nos dispensou ao longo destes dias.
No próximo ano, caberá a Portugal a honra e a responsabilidade de organizar a VIII Cimeira Ibero-Americana, assumindo o seu Secretariado Pro-Tempore, a partir do próximo mês de Janeiro, altura em que a Venezuela nos passará o testemunho.
Permitam-me, desde logo, sublinhar o quanto nos distingue a confiança em nós depositada por todos os países aqui presentes.
Tudo faremos para que a VIII Cimeira Ibero-Americana - tal como as que a antecederam - constitua um êxito por todos partilhado, afirmando, uma vez mais, a capacidade de realização, a vitalidade e o dinamismo da nossa Comunidade.
1998 será, para o Povo Português, um ano carregado de significado e simbolismo, que queremos partilhar convosco. Celebraremos então o Quinto Centenário da chegada de Vasco da Gama à Índia, que constitui o ponto culminante das comemorações dos Quinhentos anos dos Descobrimentos marítimos portugueses.
Comemorações estas que, através da Exposição Mundial de Lisboa - Expo 98 - , que Vossas Excelências nos darão o grato prazer de visitar, terão os olhos postos no futuro, valorizando esse imenso património comum que é o mar. Comemorações que encaramos também como uma homenagem àqueles que, graças à sua tenacidade, ao seu engenho e à sua audácia, contribuíram, ao longo do período histórico que naquela altura se inaugurou, para o primeiro ensaio de um mundo global, feito do encontro entre distintos Povos e culturas que mutuamente se impregnaram e influíram.
Queremos valorizar sobretudo a exultante experiência que contribuiu para abrir os caminhos do Mundo e fazer de Portugal um Povo e uma Cultura criativos, abertos à diferença e sempre permeáveis a outras formas de pensar e de sentir.
1498 é um ano ímpar, porque de alguma forma também prefigura o nosso encontro, dois anos mais tarde, com as Terras de Vera Cruz, com este admirável e fascinante continente, a que estamos unidos por indeléveis laços históricos, afectivos, culturais e linguísticos.
Foi assim, com natural regozijo, que Portugal esteve, desde a primeira hora, nas Cimeiras Ibero-Americanas, como é também com natural empenho e espírito construtivo que, na União Europeia, tem favorecido o reforço das expressivas relações já existentes entre a Europa e as várias organizações regionais latino-americanas.
Se me permitem a ousadia de aqui citar um verso de uma canção de Chico Buarque, dir-vos-ei que não estamos na Comunidade Ibero-Americana a ver a banda passar, mas sim para estar na banda, reinventando, em conjunto, novas harmonias, novos versos, novas realidades.
A VIII Cimeira Ibero-Americana, que terá lugar na cidade do Porto em Outubro de 1998, não poderia pois deixar de significar para os portugueses uma ocasião única para reafirmar os laços de fraterna amizade e de estreita cooperação que nos unem à América Latina.
Tal como a Exposição Mundial de Lisboa, este será um acontecimento vocacionado para rasgar caminhos de futuro. Um futuro que tem já um fecundo e assegurado fermento nos sinais confiantes que o presente nos oferece.
Desde a sua reunião fundadora, em Guadalajara, as Cimeiras Ibero-Americanas têm abordado temas de interesse comum, estabelecendo uma desejável sintonia com problemas concretos que dizem respeito ao conjunto de países que formam a nossa Comunidade, embora todos eles possuam características próprias.
As frutuosas discussões aqui havidas ao longo destes dias, cujo balanço o Senhor Presidente Rafael Caldera tão bem traçou, revelaram, uma vez mais, o acerto na escolha do tema e a utilidade do debate sempre vivo e franco que sobre ele mantivemos.Creio que todos partiremos de Ilha Margarita com a certeza de ter vivido uma experiência enriquecedora e animados por um reavivado espírito de amizade e cooperação.
Na VIII Cimeira queremos prosseguir a reflexão sobre temas directamente relacionados com preocupações comuns.
Vivemos, hoje em dia, num contexto internacional caracterizado pela globalização dos desafios e das oportunidades, por uma crescente vontade de os Estados se organizarem solidariamente, procurando formas de estruturar a sua interdependência, em benefício mútuo, com o objectivo de assegurarem um desenvolvimento económico e social cada vez mais sólido e harmonioso
A consciência de que em conjunto potenciamos melhor as capacidades próprias constitui um confiante sinal de que soubemos aprender com as experiências do passado para melhor construir o futuro. Um futuro que será cada vez mais de cada um se for cada vez mais de todos.
A próxima Conferência a realizar em Kyoto sobre ŤAlterações Climáticasť constitui um bom exemplo da necessidade crescente de reflectirmos em conjunto sobre os grandes problemas que a todos afectam. Assim, propomo-vos debater, na nossa VIII Cimeira Ibero-Americana. Os Desafios da Globalização e a Cooperação Interregional, um tema actual e fascinante e que a todos nos diz respeito.
Desde 1991 em Guadalajara, já lá vão sete anos, renovámos e demos sentido mais concreto à relação de confiança que entre nós sempre existiu, apesar das diferenças, certamente saudáveis e naturais que pontualmente nos podem fazer divergir.
O caminho entretanto percorrido consolidou o espírito solidário e a relação franca e aberta que nos une. Estou certo, por isso, de que a partilha de experiências, o empenho comum em fortalecer as nossas relações de amizade e cooperação irão permitir, na próxima Cimeira, um útil e fértil debate.Um debate que assenta já em promissoras realidades.
Com efeito, tanto na Europa como na América Latina, assistimos a um reforço das dinâmicas de integração, ao mesmo tempo que damos passos firmes no sentido do aprofundamento das nossas relações de cooperação. É neste caminho que Portugal se tem empenhado na União Europeia, favorecendo o aprofundamento crescente das relações da União com as várias organizações regionais da América Latina, numa atitude de confiante aposta nas muitas possibilidades que o futuro encerra.
A América Latina tem vindo a demonstrar a sua força e a capacidade de adaptação das suas economias aos novos desafios e exigências que vão surgindo.
O desenvolvimento económico, tecnológico e financeiro dos países latino-americanos tem sido acompanhado de um esforço sério de integração consubstanciado nas várias organizações que já existem a nível regional. Estas organizações são chamadas, crescentemente, a cooperarem entre si, a alargarem o âmbito geográfico da sua cooperação, a reforçarem mecanismos de articulação e de complementaridade.
Vivemos um processo de globalização económica e financeira acelerada à escala mundial. Reforçar as condições de resposta aos desafios que a todos nós se colocam impõe também que os diversos espaços economicamente integrados, situados em diversos continentes, desenvolvam e reforcem formas de cooperação mutuamente vantajosa, projectando crescentemente as suas economias na cena internacional.
É esta, sem dúvida, uma das tarefas principais a que somos todos chamados nesta viragem de século, e a razão de ser do tema que vos propomos para o nosso próximo encontro.
É imbuídos de um fraterno espírito de solidariedade e seguros de que em conjunto poderemos melhor aproveitar as nossas respectivas experiências e potencialidades que teremos a tão grata honra de vos acolher, Senhores Chefes de Estado e de Governo, no próximo ano na cidade do Porto.
Senõres Jefes de Estado y de Gobierno
La problemática de la drogadicción, que ataca y mina a nuestras sociedades democráticas, es una preocupación constante y una materia siempre presente en nuestros debates.
Me gustaria decirles que voy a promover, con el apoyo del Gobierno portugués, en el próximo año, después de la Asamblea Extraordinaria de Naciones Unidas dedicada al respecto, un encuentro sobre este tema tan lacerante, esta llaga viva que amenaza los mismos fundamentos de nuestros regímenes democráticos.
Me propongo organizar un amplio y participado debate entre expertos de nuestros países y de la Unión Europea. Un debate en el que sea posible discutir y compartir, sin prejuicios, con serenidad y humildad, nuestras experiencias y nuestros proyectos en este campo.
Estoy seguro de que podré contar con el apoyo de todos Ustedes, con el apoyo de expertos latinoamericanos, para llevar a cabo, en conjunto, una reflexión seria y rigurosa sobre este tema tan complejo y tan importante.
No dudo de que esta iniciativa constituirá una demostración más de la cooperación fructífera que se puede establecer entre América Latina y la Unión Europea.
Pero no quisiera terminar, Señor Presidente Rafael Caldera, sin una nota más personal, sin una palabra que exprese nuestra admiración emocionada por la figura de Vuestra Excelencia y el verdadero cariño que sentimos por Usted.
Hemos escuchado su defensa entusiasmada de la verdad, la verdad que es indisociable de la democracia y de la libertad. Hemos escuchado la apología que hizo de la pedagogía democrática, del primado de los valores, de la indispensable dimensión ética de la democracia. Creo que la asistencia que disfrutó del privilegio de escucharle ha expresado com particular calor esa convicción por todos compartida.
Le agradezco Señor Presidente estos dos dias pasados en esta bella tierra, le agradezco el eficaz trabalho de organización de esta Cumbre, en la cual se han volcado las autoridades y el pueblo hermano de Venezuela.
Pero le agradezco sobretodo, en nombre de todos nosotros, la forma tan elocuente como ha sabido expresarnos la fuerza de las convicciones, la firmeza de los principios, la intransigencia frente a la facilidad y al oportunismo, en suma, la verdadera lección de ética que nos ha impartido.
Quisiera desear a Vuestras Excelencias, Señores Jefes de Estado y de Gobierno, las mayores felicidades personales y a todos los pueblos aqui representados mis sinceros votos para que sigamos en el camino de la permanente consolidación y profundización de la democracia, del desarrollo económico creciente, de la justicia social y de la solidaridad.
Muchas Gracias.