Ao Tiradentes e à Inconfidência Mineira

Ouro Preto - Brasil
07 de Setembro de 1997


Dentro em pouco, ao descer para visitar o Museu da Inconfidência, tenciono recolher-me por instantes para, assim prestar, em silêncio, a minha homenagem ao Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes e seus companheiros.
Presto-lhe essa homenagem, com a mesma convicção e emoção com que a presto aqueles que no seu tempo, em Portugal, lutaram pelos mesmos ideais, contra o regime absolutista, e que com a sua luta e sacrifício, tornaram possível a implantação do liberalismo, a consagração dos Direitos do Homem e de um Estado de Direito democrático.
O Alferes Joaquim José da Silva Xavier é um Herói do Brasil e um Herói de Portugal. A reabilitação histórica da sua figura, feita em boa hora pelo meu antecessor, o Dr. Mário Soares, numa cerimónia, em Lisboa, nas comemorações do dia nacional do Brasil, perante o representante especial do então Presidente Itamar Franco, reconciliou, simbolicamente, portugueses e brasileiros com a sua história comum.
Prestar-lhe-ei a minha homenagem sublinhando nela que o seu gesto de então, contribuiu para rasgar um caminho de futuro, com efeitos quer no Brasil, quer em Portugal,.
Quero que este meu gesto transporte consigo também uma aposta no futuro. Quero que através dele fique claro que para Portugal a história foi o princípio das nossas relações, não é o seu objecto. E não há nada melhor para assegurar o futuro do que a reconciliação com todas as dimensões do passado que nos é comum. A História não se rescreve, nem nos cabe a nós espiá-la como culpa quando ela se refere a episódios que hoje ferem a nossa sensibilidade e os nossos valores.
Cabe-nos a nós, isso sim, como governantes, ultrapassá-la como barreira. Simbolicamente, pode dizer-se que aqui nasceu o Brasil Independente. Aqui também nasceu o Portugal liberal.