Sessão de Encerramento do Forum Mundial da Juventude

Braga
07 de Agosto de 1998



É com muita alegria que estou presente neste Fórum, que reúne pessoas de todos os lugares do mundo. Sempre acreditei na necessidade de criar os meios que permitam aos jovens participarem na formação de sociedades mais livres e mais democráticas. O Encontro que agora se encerra constitui um passo importante nesta direcção, como se confirma pelas conclusões que acabámos de ouvir.
A juventude serve muitas vezes de pretexto para declarações retóricas, que não se traduzem em compromissos concretos no plano social e político. Fala-se de juventude, no singular, em vez de nos dirigirmos directamente aos jovens e à diversidade das suas situações. Ora, todos sabemos que os problemas dos jovens são muito diferentes de um país para outro e mesmo dentro de um mesmo país.
A globalização dos mercados não nos deve fazer esquecer as enormes assimetrias que existem no mundo. Felizmente, para muitos dos presentes está assegurado o acesso aos bens de consumo e de primeira necessidade. Sei que o vosso pensamento está com os jovens que vivem na pobreza, em condições precárias de higiene e de saúde, sem acesso a uma escolaridade mínima. Ninguém desconhece as evoluções positivas das últimas décadas. Mas, ao mesmo tempo, não podemos ignorar a existência, nas sociedades actuais, de novas formas de miséria e de exclusão social.
O século XX fica marcado por uma transformação sem precedentes da ciência e da tecnologia, mas também por fenómenos de violência e de intolerância. Inicia-se agora um novo século, sob o lema da comunicação, o que constitui uma oportunidade única para reinventar a ideia de democracia e de participação cívica.
Mas é preciso que a revolução civilizacional em curso não se desenvolva segundo lógicas que não são controladas por processos democráticos. Sei que o caminho não é fácil, mas, pela minha parte, não renuncio a lutar por um mundo em que todos tenham direito a decidir do seu destino.
Apesar de ser complicado definir a idade jovem, há três aspectos que gostaria de realçar:
- Trata-se, em primeiro lugar, de um estado provisório, de uma condição passageira. Esta situação de transitoriedade define a juventude como um tempo de experimentação, no plano individual e colectivo. Acredito, por isso, que é preciso dar espaço para que os jovens ponham em prática as suas maneiras próprias de ser e de estar, delineando novas modalidades de organização da vida cultural, social e política.
- Em segundo lugar, permitam-me que lembre esse balancear constante entre “campo de experiência” e “horizonte de expectativa” que caracteriza a realidade humana. No vosso caso, o sonho tem uma dimensão maior do que a recordação. Por isso, não há nada pior para um jovem do que querer ser uma coisa e não o poder. Parece-me, pois, fundamental criar as condições, em particular no domínio da educação e do emprego, para que cada um possa exprimir a sua natureza pessoal e concretizar os seus projectos de vida.
- Por último, não podemos esquecer que é na juventude que se adquire uma voz autónoma para falar dos problemas, para exprimir uma identidade pessoal e para tomar decisões que influenciam o resto da nossa vida. É preciso que os jovens tenham a possibilidade de escolher o seu caminho de forma livre e informada.
Em tudo o que vos disse, quis deixar bem marcada a necessidade de uma formação de base extremamente sólida. Num mundo em permanente mudança, que nos obriga a uma constante adaptação a novos modos de vida e a diferentes situações profissionais, a educação é o património mais importante de cada um. Ao aumentar o leque de escolhas e de opções, ele alarga as nossas margens de liberdade e torna mais conscientes as nossas decisões.
Actualmente, os fluxos – de pessoas, bens, capitais e culturas – são cada vez mais globais, o que concede uma importância renovada ao conhecimento e à comunicação. O desenvolvimento de redes internacionais, que tratem dos problemas dos jovens de forma horizontal, pode desempenhar um papel decisivo na celebração de um novo contrato de sociedade. Um contrato que tenha como objectivo reduzir as desigualdades e as assimetrias, distribuir melhor os recursos existentes.
As grandes causas começam nas pequenas coisas da vida. Um dos slogans principais da minha geração foi: Pensar global, Agir local. Hoje, é provável que tenhamos de inverter este slogan, porque é cada vez mais necessário Pensar local, isto é enraizado nas nossas culturas e comunidades, e ao mesmo tempo Agir global, uma vez que grande parte dos problemas só pode ser resolvida à escala mundial. Eis o que dá um maior significado a este Fórum Mundial da Juventude.
Cada um de nós fala a partir do seu universo de referências culturais. A minha história pessoal leva-me a valorizar o princípio da cidadania democrática.
Acredito que é este o caminho para a sociedade do futuro. A protecção do ambiente, a defesa dos direitos humanos ou a definição de processos de desenvolvimento mais justos e equilibrados são combates que devem ser travados no plano local e no plano global.
Eles só serão ganhos com um sentido forte de solidariedade e de entreajuda.
Nunca há liberdade a mais. E não é a liberdade que nos faz esquecer as nossas responsabilidades e os nossos compromissos. Mas para mim a liberdade não é apenas o direito à palavra, é também a existência de condições económicas, de saúde, de educação e de cultura que permitam uma participação de todos na sociedade de hoje.
Digo hoje, porque no debate sobre os jovens há, por vezes, um “excesso de futuro”. Antecipar e imaginar o que há-de vir é, sem dúvida, muito importante.
Desde que este pensamento não nos afaste de uma intervenção no dia-a-dia das sociedades, não nos desvie de uma acção quotidiana em prol de uma humanidade mais solidária e tolerante.
A juventude não é apenas futuro, é também presente. E esta afirmação é, talvez, a melhor maneira de pôr fim a certos discursos mistificadores, que não se cansam de glorificar as qualidades dos jovens, ao mesmo tempo que esquecem a sua situação concreta e o papel que podem desempenhar no mundo actual.
Sou, neste Fórum, um observador interessado. Quero sentir os vossos problemas e a atitude com que os enfrentam. Quero aprender convosco novas maneiras de pensar a sociedade e a democracia. Quero ver o que conseguem fazer, a título individual e colectivo, com aquilo que os outros quiseram fazer de vós.
Sobretudo, quero dizer-vos que o Presidente de Portugal está ao vosso lado em todas as causas que contribuam para reforçar os laços de cidadania e de participação democrática, em todas as causas que contribuam para tornar a humanidade mais humana.