Sessão de Abertura da Conferência Internacional “Oeiras - Parque das Tecnologias”

Oeiras
16 de Novembro de 1998


Esta Conferência realiza-se numas instalações e num quadro de modernização notáveis, que merecem o conhecimento e o reconhecimento públicos. Por este motivo, tive muito gosto em visitar o Taguspark e em encontrar pessoalmente alguns dos que aqui diariamente trabalham.
A globalização da economia e dos mercados não nos deve fazer esquecer as enormes assimetrias que existem no mundo. O século XX fica marcado por uma transformação sem precedentes no domínio da ciência e da tecnologia, mas também por fenómenos de instabilidade e de exclusão social.
Poucos países poderão pretender influenciar e muito menos determinar as linhas de força da globalização. Quer isto dizer que a temos que tomar como um pressuposto, não para suportar resignadamente as suas consequências, mas para antecipar e gerir, na verdadeira acepção da palavra, os seus efeitos.
O futuro não está escrito, e a sua dimensão é essencial para encarar o presente como o cruzamento de dois processos: o do passado, histórico, e do futuro, conjectural. O futuro não acontece por fatalidade; ele decorre apenas em parte dos indicadores de natureza económica: a outra parte que o constrói resulta das visões e das determinações dos principais agentes e actores da sociedade em que vivemos.
A inovação é crucial para o nosso país. A manutenção de processos ou formas de organização caducos e a recusa em experimentar e avaliar novos procedimentos paga-se caro, neste mundo de concorrência acrescida. Por isso há que apelar a todas as iniciativas que criem um clima favorável à inovação e que criem condições concretas para que a competitividade das empresas portuguesas se eleve.
No passado era principalmente ao quotidiano que se iam buscar as novas ideias, numa prática que se assemelhava a uma acumulação de conhecimentos sobre como aproveitar as forças da natureza. Foi assim até há cerca de cinquenta anos.
Porém, este mecanismo alterou-se drasticamente. A criação da indústrias de alta intensidade tecnológica, na segunda metade do nosso século, assinala a importância central das aplicações da ciência nas sociedades do mundo industrializado.
A prática empresarial e societal passou pois a depender fortemente de novas ideias cuja origem está intimamente associada ao esforço científico, isto é, não deriva da linguagem natural ou do saber comum. O processo de desenvolvimento tecnológico transformou-se radicalmente.
Por outras palavras, se na linguagem de todos os dias os valores, as atitudes e as expectativas de índole científica não circularem nem se afirmarem, a própria capacidade de representar e manipular a realidade fica severamente limitada. As escolhas não serão certamente as mais adequadas aos tempos e aos contextos em que vivemos.
Pensemos um pouco nas dificuldades de adopção de um modo de vida como este das sociedades desenvolvidas: é que é preciso dedicarmos mais tempo e mais espaços, para aprendermos a funcionar e a comunicar eficientemente, em termos colectivos.
Mas essa aprendizagem é apenas uma condição de acesso, de entrada: a sociedade do próximo século é uma sociedade da participação e, quem nela não participa, não existe. Ora a participação implica que se saibam falar as linguagens comuns, mais ou menos especializadas, implica que se seja um interlocutor válido, isto é, que se seja capaz de tornar os nossos problemas, as nossas questões próprias, em temas interessantes para os outros. Só se comunica o que se sabe.
Assim, temos absoluta necessidade de desenvolver uma atitude científica face às grandes questões relativas ao desenvolvimento da sociedade e à sua sustentabilidade, o que implica uma atenção e valorização constante dos institutos e das equipas de investigação, dos esforços que visam a divulgação e a apropriação alargada dos conceitos científicos, que promovem a educação pela ciência, que garantem uma literacia científica adequada à componente tecnológica societal contemporânea .
O Taguspark corresponde ao estabelecimento no nosso país de um quadro onde se favorece e se estimula a interacção entre instituições académicas, centros de novas tecnologias e empresas; onde se pretende densificar a interacção entre a universidade e a indústria de modo a obter um acréscimo significativo do potencial científico e tecnológico nacional; onde se busca um perfil inovador e demonstrador, tanto científico e técnico, como arquitectónico e urbanístico.
Evidentemente, ainda há muito que caminhar para que o projecto possa dar plenamente os seus frutos. A universidade terá que se instalar em força e experimentar os efeitos sinergéticos da sua localização no parque. Haverá que explorar competências complementares com outros centros de investigação e instituições académicas na área de Oeiras.
Mas pelo que já se conseguiu e pude observar hoje, há que estar confiante no futuro próximo. As etapas a percorrer são, a partir de agora, e como a realização deste Congresso certamente demonstra, a tradução de um caminho de modernização e inovação tecnológica, de colaboração interinstitucional e internacional, de melhoria da competitividade e da cooperação entre agentes do desenvolvimento.
Quero, por isso, expressar através da minha presença nesta Conferência que é do esforço continuado face a objectivos que se assumem e se desejam que nascem as oportunidades que fazem evoluir as comunidades; pois uma sociedade que abdique de procurar os vectores da sua racionalidade é uma sociedade que vai morrer sem esperança.
Desejo as maiores felicidades para os vossos trabalhos.